Parece começar a desenhar-se um novo tipo de oposição ao governo. Ou melhor, uma oposição de um tipo novo. Não falo dos partidos políticos, porque esses à esquerda não têm credibilidade e à direita estão ausentes. Também não falo das organizações sindicais - nada de novo pode daí surgir – nem sequer do chamado “patronato”, que olha o governo com benevolente simpatia. Refiro-me, isso sim, ao que pode ser o início de uma mudança clara de atitude dos media, ou de quem através deles habitualmente se expressa. E ela articula-se fundamentalmente em torno de dois tipos de argumentação. Por um lado, os que defendem que a contestação sindical e de “rua”, inaugurada com a “manif” dos professores, traz em si algo de qualitativamente novo, que o governo terá dificuldade em controlar e fará afastar do seu “campo” grupos essenciais ao bom prosseguimento das reformas – é o caso de José Pacheco Pereira no “Abrupto” e de Ricardo Dias Felner e Sofia Branco no último “Sob e Desce” do “Público”, no passado Sábado. Por outro, e este é o caso do editorial de José Manuel Fernandes hoje no “Público”, ideia que o titulo de 1ª página também não exclui, os que se mostram preocupados com algum crescente mal estar dentro do próprio PS, responsável por uma crescente diminuição do elan reformista e não cumprimento dos deadlines acordados. Devo dizer que não me parece que os primeiros tenham razão. Dificilmente, se o governo não encarar “de frente” a contestação dos sindicatos da FP, “classe contra classe”, reformará o que quer que seja e acabará, ele sim, reformado (ver post sobre Mª de Lurdes Rodrigues). Por outro lado, não vejo onde as recentes manifestações de rua possam ter trazido algo de qualitativamente novo, embora quantitativamente possam ser consideradas notáveis. Também não me parece que algum mal-estar dentro do PS seja significativo, principalmente vindo do grupo de Manuel Alegre, politicamente demasiado frágil. Uma andorinha aqui (Jorge Coelho) e outra ali (?) não fazem a primavera, principalmente se estão em causa questões relativamente ultrapassáveis. Já me parece a questão dos compromissos bem mais grave e, aí sim, podem de facto existir motivos para preocupação. Se a ultrapassagem dos deadlines assumidos não for claramente justificada, se é que o facto em si poderá, sem o surgimento de acontecimentos excepcionais, alguma vez ter justificação, será um claro indício de hesitação e fraqueza política, de falta de rigor de gestão que, mais tarde ou mais cedo, o governo pagará bem caro.
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