O deputado João Galamba já disse quase tudo e parece ser, no PS, e mesmo que por vezes talvez demasiado radical, dos muito poucos a quem ainda resta alguma capacidade para se indignar. Mas a afirmação de Pedro Passos Coelho de que "as pessoas simples percebem o que o Governo está a fazer", não é só, na sua essência, salazarenta. Condensa em si, toda ela, um programa de governo que despreza as qualificações, o conhecimento, a investigação, o desenvolvimento humano e tecnológico, a sofisticação, a cultura e o cosmopolitismo. Despreza quem ouse ter um pensamento mais elaborado e use a cabeça para desenvolver um raciocínio mais complexo. Que, enfim, despreza o objectivo e a ambição de um país mais moderno e civilizado, mais culto, apelando, em vez disso, à sujeição a uma pobreza e ignorância que têm tanto de inibidor como, infelizmente, de ancestral. Indo um pouco mais longe, despreza o investimento que centenas ou milhares de portugueses fizeram, nos últimos anos, na sua educação, muitos endividando-se para poderem frequentar algumas das melhores escolas e universidades na Europa e no resto do mundo. No fundo, não é mais do que o retrato de um primeiro-ministro para quem o teatro são as produções de La Féria, de um ministro da Educação que, ao arrepio das recomendações internacionais, propõe a crianças de dez anos escolham uma profissão, para uma Ministra da Justiça que não pára de brandir uma proposta de programa político que é, todo ele, um assustador panfleto populista, de um ministro "não sei bem de quê" que consegue uma licenciatura em "um ano e quatro cadeiras" numa universidade de "vão de escada" que o Estado coloca ao mesmo nível de uma Técnica, Clássica, Nova ou Católica. No fundo, de um país que o primeiro-ministro quer que se continue a rever nos "Correios da Manhã" e nos Medina Carreira deste mundo. Pois que vá para o Diabo e leve esse país com ele.
Nota: peço desculpa pelo tom, talvez um pouco exaltado, mas a minha paciência para esta gente começa rapidamente a esgotar-se.
2 comentários:
Situações extremas, que não cessam de se complicar, levam muitas vezes a estas fugas em frente em que a verdadeira natureza das pessoas vem ao de cima.
Vejam-se, num registo diferente (e não menos saloio, porque falsamente cosmopolita)as fanfarronadas espanholas a propósito da crise da dívida.
E bem se tem tramado Espanha com tal coisa, Queirosiano.
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