Criou-se em Portugal, nos últimos anos, uma certa histeria securitária, talvez fruto da sociedade portuguesa ter passado muito rapidamente de rural, a cujas características as pessoas associam a segurança da vizinhança e da proximidade, a urbana, um ambiente tido por mais agressivo e individualista, digamos que menos "aconchegado". E, claro, esse choque de culturas, em que a criminalidade deixou de estar ligada a mortes à sacholada por questões de águas ou de ciúmes (em que é possível determinar e isolar facilmente um indivíduo, uma causa ou um motivo) e passou a definir-se por roubos por esticão e assaltos à mão armada a que qualquer um pode estar sujeito, criou nos novos habitantes das cidades, por norma os menos instruídos, um sentimento de insegurança explorado e potenciado de imediato pelos "media" sensacionalistas (interrogo-me se ainda haverá outros) e pelas pulsões políticas populistas, neste caso centradas no CDS/PP actual.
Infelizmente, este "caldo de cultura" não encontrou resposta eficaz da parte dos restantes partidos políticos (talvez com excepção de uma tímida reacção do Bloco de Esquerda) que, numa acção didáctica, se lhe deveriam ter oposto desde bem cedo, matando a serpente no ovo. Explicações? Simples: para ganhar votos é sempre mais fácil cavalgar a onda populista e ir ao encontro dos sentimentos mais primários do "povo da SIC", prometendo mais polícias, "julgamentos sumários" e penas "mais pesadas", mesmo estando provada a reduzida ou nula eficácia de tais medidas, do que dar primazia ao didactismo e a medidas mais eficazes mas mais discretas, menos "de encher o olho". O resultado de tudo isto é uma autêntica "rédea solta" concedida às polícias, que, aos "urros da populaça" e apenas por "acreditarem" (sic) estarem os prevaricadores armados, não hesitam em atirar a matar sobre quem se recusa a obedecer a um simples sinal de paragem por parte das forças de segurança ou efectua umas tantas manobras perigosas. Estamos, assim, em pleno "faroeste" ou numa situação digna de um país do terceiro-mundo, sendo, infelizmente, necessário lembrar mais uma vez que às polícias e forças de segurança não compete julgar e condenar, que a "pena de morte" não está prevista no código penal português e que a utilização proporcionada da força deveria fazer parte do código genético de qualquer agente policial. Mas, infelizmente, apesar de toda e evolução positiva sofrida pelas polícias nos últimos anos, muitos dos seus responsáveis operacionais e políticos continuam a pensar que cabe aos agentes dispararem primeiro e perguntarem depois, ou então, tendo lido as histórias de Lucky Luke, experimentarem na primeira oportunidade se são capazes de "disparar mais rápido do que a sua própria sombra".
Sem comentários:
Enviar um comentário