domingo, janeiro 02, 2011

As televisões e o Ano Novo


Na véspera e dia de Ano Novo, tanto quanto pude observar as televisões tornaram a brindar-nos com as cretinices e falta de imaginação do costume: ele foram o primeiro bebé do ano, aquele banho de mar idiota de uns quantos que querem parecer divertidos (acho que agora já existem várias versões e não só a de Carcavelos), o “já é 2011 no "atol" não sei o quê do Pacífico”, o fogo de artifício, os quilos de bolo-rei vendidos não sei onde e por aí fora. Isto para já não falar nas enfadonhas “revistas do ano” (nacional, internacional e desportivo), nos “best of” de 2010 e nas mensagens de Presidente, Cardeal Patriarca, Papa e “ofícios correlativos”. E, acho que por pouco, lá escapámos às previsões da “astróloga” Maya, agora que já não há Zandinga! Claro que de televisões especialistas em “Tempo Extra”, “Plano inclinado”, “Directo ao Assunto” e “Trio de Ataque” não seria de esperar grande coisa, mas lembrando-me que o” serviço público de televisão” (leia-se RTP) também já nos deu “A Guerra”, de Joaquim Furtado, e “Portugal – Um Retrato Social”, de António Barreto e Joana Pontes, talvez fosse bom lembrar que no ano que agora começa se comemoram 50 anos de alguns dos acontecimentos mais marcantes da História da segunda metade do século XX português, alguns deles marcos da luta contra a ditadura do Estado Novo e o regime colonialista de Salazar e Caetano. Quais? Por exemplo – e tentando seguir a ordem cronológica – já em Janeiro o assalto ao Santa Maria; em Fevereiro o início, de facto, da guerra colonial, com o assalto à cadeia de S. Paulo e a uma esquadra de polícia de Luanda, e libertação dos presos políticos; em Abril a tentativa de afastamento de Salazar protagonizada por vários oficiais das Forças Armadas, com Botelho Moniz na primeira linha e Costa Gomes (como sempre) e Craveiro Lopes na sombra; em Dezembro a invasão de Goa, Damão e Diu (Operação Vijay) pelo exército da União Indiana. Já agora, e puxando a brasa à minha sardinha benfiquista, também passam 50 anos sobre a primeira grande vitória internacional do futebol português, por obra e graça do meu “glorioso” naquela inesquecível final de Berna.

Tendo dito isto, talvez tivesse sido de esperar das televisões, principalmente da RTP, uma chamada de atenção para estes assuntos, abrindo caminho a uma abordagem mais aprofundada a efectuar, “au fur et à mesure”, durante o ano que agora começa. Debalde! Nem uma só referência que abrisse caminho ao interesse dos portugueses pela sua História recente. Como em Abril decorrerão também cinquenta anos sobre o chamado “putsch de Argel”, um dos acontecimentos mais relevantes da História de França do pós-guerra e dos processos de descolonização europeus, estarei atento para ver se a França também ignora assim o seu passado recente.

2 comentários:

Portas e Travessas.sa disse...

A nossa RTP esta entregue ao Malato, ao Gabriel, ao Gordo - pelos vistos fica bem estregue - com bons ordenados e sempre certo - não há crise que toque á RTP -

JC disse...

São as audiência e entendo isso perfeitamente, embora não veja (confesso já ter espreitado o "Quem Quer Ser..."). Mas, convenhamos,de vez em quando há que cumprir o estatuto de serviço público e os 2 programas, de Furtado e Barreto, que citei no "post" são excelentes exemplos que podem conviver bem com os Malato e etc que cita.
Cumprimentos