Rui Tavares, deputado europeu do “Bloco de Esquerda”, decidiu doar uma parte do seu salário (penso que €1 500/mês), para bolsas de estudo. Pessoalmente, acho uma boa ideia, mas com não tenho do mundo e da vida uma concepção demasiado moralista (livra!), acharia igualmente boas muitas outras aplicações decididas por Rui Tavares para os seus €1 500 mensais, quer elas o beneficiassem essencialmente a si, ao seu bem-estar, quer a terceiros. Excepto, claro, e como tendemos a exportar para os outros os nossos próprios valores, se Rui Tavares decidisse gastar o seu dinheiro no bordel da esquina ou em coisas como acender charutos com notas de euro, forrar a oiro as torneiras lá de casa, investir no tráfico de droga ou no terrorismo internacional.
Tendo dito isto, o que não podemos esquecer é que Rui Tavares é deputado europeu, cargo que exerce em nome de um partido (neste caso o “BE” mas poderia ser qualquer outro) e por isso mesmo o seu gesto tem obrigatoriamente uma leitura e significado políticos, estando longe de ser inocente. Muito pelo contrário, neste tempo de enorme afastamento entre os cidadãos e os políticos, em que estes e executivos de empresas são vistos (demasiado frequentemente, com razão) como privilegiados e beneficiários de regalias e sinecuras consideradas inadequadas e imerecidas, situação exacerbada por uma comunicação social populista, a atitude de Rui Tavares irá sem qualquer dúvida funcionar em benefício da sua imagem enquanto político, mas também da do partido que representa e do alastramento de uma ideia populista que tende a entranhar-se na sociedade. Uma atitude, em si própria, com todas as características de um gesto altruísta, transforma-se assim numa decisão com um óbvio significado político e cujo altruísmo pode mesmo, por essa via, ser questionado. Para além disso, funcionando como exemplo, assume também um evidente significado moral, e se nada ou muito pouco me afectam os benefícios que o próprio e o “BE” podem retirar do gesto de Rui Tavares, já confesso o meu desconforto perante “exemplos morais” apontados à nação quais setas envenenadas, uma vez que na base de qualquer totalitarismo existe quase sempre uma ou outra ideia de superioridade moral.
Bom, dir-me-ão, assim sendo não teria sido bem melhor Rui Tavares não ter dado publicidade ao seu gesto, anulando assim qualquer potencial perversidade nele contida e evitando leituras políticas? Pessoalmente, acho teria sido preferível, em nome do altruísmo de uma ideia que considero positiva. No entanto, ao dar publicidade ao seu gesto Rui Tavares também potencia a possibilidade de o ver multiplicado a muitos níveis na sociedade, o que não deixa de ser benéfico para os que podem vir a necessitar de apoios desse ou de outro tipo.
Conclusão? Pois... Felizmente o mundo não é a “preto e branco” e entrincheirarmo-nos em ideias pré-concebidas nem sempre constitui a melhor opção para o compreender.
Tendo dito isto, o que não podemos esquecer é que Rui Tavares é deputado europeu, cargo que exerce em nome de um partido (neste caso o “BE” mas poderia ser qualquer outro) e por isso mesmo o seu gesto tem obrigatoriamente uma leitura e significado políticos, estando longe de ser inocente. Muito pelo contrário, neste tempo de enorme afastamento entre os cidadãos e os políticos, em que estes e executivos de empresas são vistos (demasiado frequentemente, com razão) como privilegiados e beneficiários de regalias e sinecuras consideradas inadequadas e imerecidas, situação exacerbada por uma comunicação social populista, a atitude de Rui Tavares irá sem qualquer dúvida funcionar em benefício da sua imagem enquanto político, mas também da do partido que representa e do alastramento de uma ideia populista que tende a entranhar-se na sociedade. Uma atitude, em si própria, com todas as características de um gesto altruísta, transforma-se assim numa decisão com um óbvio significado político e cujo altruísmo pode mesmo, por essa via, ser questionado. Para além disso, funcionando como exemplo, assume também um evidente significado moral, e se nada ou muito pouco me afectam os benefícios que o próprio e o “BE” podem retirar do gesto de Rui Tavares, já confesso o meu desconforto perante “exemplos morais” apontados à nação quais setas envenenadas, uma vez que na base de qualquer totalitarismo existe quase sempre uma ou outra ideia de superioridade moral.
Bom, dir-me-ão, assim sendo não teria sido bem melhor Rui Tavares não ter dado publicidade ao seu gesto, anulando assim qualquer potencial perversidade nele contida e evitando leituras políticas? Pessoalmente, acho teria sido preferível, em nome do altruísmo de uma ideia que considero positiva. No entanto, ao dar publicidade ao seu gesto Rui Tavares também potencia a possibilidade de o ver multiplicado a muitos níveis na sociedade, o que não deixa de ser benéfico para os que podem vir a necessitar de apoios desse ou de outro tipo.
Conclusão? Pois... Felizmente o mundo não é a “preto e branco” e entrincheirarmo-nos em ideias pré-concebidas nem sempre constitui a melhor opção para o compreender.
1 comentário:
Se não estou muito enganado o caso lembra-me o sr. Bernard Mandeville, e a sua Fábula das Abelhas, nas longínquas paragens de 1714, públicas virtudes, vícios privados, ou vice-versa.
O Wikileaks é o negativo ou a radioscopia dos vícios privados tapados pelas públicas virtudes... políticas.
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