Segundo o “Correio da Manhã” de hoje, notícia citada pelo RCP, os industriais de panificação afirmam que o consumo de pão no primeiro semestre deste ano terá decrescido 20% e que esse decréscimo é sintoma inquestionável da crise económica. Bom, vamos lá ver. Não sendo Portugal o Burkina Faso ou o Zimbabué, mas um país da UE e do primeiro mundo, e não sendo, por isso (para além de não estarmos no século XVIII), o pão a base da alimentação, peço licença para duvidar que a quebra do consumo, a ter efectivamente existido (já lá iremos) se deva essencialmente à crise económica directamente geradora de pobreza. Se assim fosse, e sendo o pão o alimento mais barato e o último refúgio em termos alimentares, já deveriam existir uns milhares de portugueses mergulhados na pobreza e na fome mais extremas, o que, felizmente, também tendo em conta os apoios estatais e de várias organizações da sociedade civil, não me parece seja ainda o caso. Sendo Portugal um país desenvolvido (o mais pobre dos ricos, ainda assim) o que seria normal numa situação de crise seria exactamente o contrário, isto é, o consumo de pão ter aumentado por via da substituição de bens e produtos mais caros por esse mesmo pão: os portugueses passariam a substituir os “brioches” por pão e não fariam o upgrade do pão para os “brioches” (pobre Maria Antonieta, sempre tão injustamente citada!). Portanto, a diminuição do consumo de pão poderia ser, isso sim, não tanto um reflexo de pobreza mas de algo que estará nos seus antípodas: a prosperidade!
Não querendo ser demasiado radical, admito que coexistam aqui várias realidades. Por um lado, uma evolução e maior sofisticação na alimentação dos portugueses (originada, por exemplo, pela tendência demográfica urbana e por uma educação em progresso), o que pode coexistir perfeitamente com uma situação de crise. Por outro, e independentemente da insuficiência de uma análise centrada apenas em dois períodos, sem conhecermos eventuais factores anómalos que poderão ter influenciado os resultados, uma falsificação, propositada ou não, das próprias estatísticas pode mesmo ser a sua origem, por exemplo, através de uma alteração da base de cálculo ou do crescimento de um segmento que não faça parte dessa mesma base. Um exemplo: sendo, cada vez mais, uma boa parte de pão consumido pelos portugueses fabricado em supers e hipermercados, esses fabricantes fazem parte da associação de industriais do sector? É apenas uma questão que me ocorre, mas outras poderão com certeza existir. Pena que os jornalistas não se interroguem... É que para além da preguiça mental, a crise (esta ou outra qualquer), tal como todas as desgraças do mundo, vende sempre muito bem!
Não querendo ser demasiado radical, admito que coexistam aqui várias realidades. Por um lado, uma evolução e maior sofisticação na alimentação dos portugueses (originada, por exemplo, pela tendência demográfica urbana e por uma educação em progresso), o que pode coexistir perfeitamente com uma situação de crise. Por outro, e independentemente da insuficiência de uma análise centrada apenas em dois períodos, sem conhecermos eventuais factores anómalos que poderão ter influenciado os resultados, uma falsificação, propositada ou não, das próprias estatísticas pode mesmo ser a sua origem, por exemplo, através de uma alteração da base de cálculo ou do crescimento de um segmento que não faça parte dessa mesma base. Um exemplo: sendo, cada vez mais, uma boa parte de pão consumido pelos portugueses fabricado em supers e hipermercados, esses fabricantes fazem parte da associação de industriais do sector? É apenas uma questão que me ocorre, mas outras poderão com certeza existir. Pena que os jornalistas não se interroguem... É que para além da preguiça mental, a crise (esta ou outra qualquer), tal como todas as desgraças do mundo, vende sempre muito bem!
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