segunda-feira, julho 21, 2008

O Fado Republicano

"O Dia do Regicídio" - Fado anti-monárquico interpretado na série pelos personagens "Marrequinho de Alfama" e outra fadista. (1ª parte - basta ver os últimos 2' 30'' do clip)

Idem (2ª parte - basta ver o início do clip)
É comum identificar-se o fado com as ideologias mais reaccionárias, mais “à direita”, talvez porque dezasseis anos de I República, que o atacava por afastar os operários e o povo da instrução, levando-os para as tabernas e prostíbulos, e quarenta e oito de ditadura, que o “castrou” das suas formas mais contestatárias, tenham dado origem a que apenas essas suas formas sobrevivessem com mais pujança, desde o fado aristocrático às suas versões mais fatalistas em que “a vontade de Deus” fazia fé. Mas o que é facto é que o fado, única forma de música popular urbana em Portugal, quer na sua origem lisboeta quer na sua versão coimbrã que viria a estar na origem da renovação da música popular portuguesa dos anos 60 e 70, atravessou toda a sociedade portuguesa e teve um papel importante na luta republicana, na crítica social (fado "jocoso"), no movimento anarco-sindicalista (existia o chamado fado-operário) e, até, socialista. Eduardo Sucena, no seu “Lisboa, o Fado e os Fadistas”, fala, que me lembre, em pelo menos dois cantadores socialistas de nomeada: João Maria dos Anjos, tipógrafo da Imprensa Nacional (os tipógrafos, porque tinham necessidade de saber ler, constituíam uma “vanguarda operária”) e o Milhinho do Murtal.

Bom, vem tudo isto a propósito da série “O Dia do Regicídio”. A série, em si, é sofrível ou até um pouco menos do que isso, mas oferece a rara oportunidade de mergulharmos um pouco no ambiente fadista da época e no papel que este desempenhou na luta anti-monárquica. Numa das suas cenas, temos a rara oportunidade de ouvir, numa tasca frequentada pelos conspiradores republicanos, um cantador (personagem “Marrequinho de Alfama”) e uma cantadora (NN) interpretarem um fado com uma letra claramente anti-monárquica e satirizando a figura do rei D. CarlosI, ajudando, assim, a criar um ambiente social, um “caldo de cultura”, claramente propício ao “golpe”, um pouco como a “balada” do final dos anos sessenta muito bem o fez em relação à ditadura.

Pois é essa mesma cena que agora aqui reproduzo, pedindo desde já desculpa por o fado estar, no You Tube, dividido por dois clips. Para quem tiver mais pressa e menos paciência, digo já que basta ver os últimos dois minutos e meio do primeiro clip e o início do segundo. Divirtam-se e, se possível, acabem com as ideias feitas e os preconceitos sem razão para existirem.

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