Confesso achar curioso o fascínio que Manuel Carvalho da Silva exerce sobre a ala conservadora do PS, a ponto de ser personalidade de destaque no primeiro número da revista on-line “OPS" (a propósito, porquê o modelo “estático”, com periodicidade definida, de uma revista em algo como a net que possibilita uma muito maior flexibilidade e dinamismo? Saudades das revistas de debate de ideias no formato do século passado?). Compreende-se: Manuel Alegre vive na saudade de um futuro com uma “frente unida de esquerda” e, portanto, agarra com ambas as mãos tudo o que, vindo dos lados do PCP, tiver um ar de alguma heterodoxia, mesmo que para assim achar seja necessária alguma dose de benevolência. Esquece, contudo, Alegre que, independentemente da competência sindical de Carvalho da Silva, que constitui um facto incontroverso, essa sua heterodoxia, constituindo-se como um valor acrescentado necessário, é muito mais fruto das circustâncias de ocupar o lugar de dirigente máximo de uma central sindical onde coexistem “comunistas, socialistas e outros democratas” (a expressão é do PCP) e da necessidade do PCP assim hegemonizar “amplas camadas democráticas” (idem), do que propriamente por uma linha de pensamento autónoma e consequente, que me parece, a existir, ser desconhecida para além de uma ou outra divergência pontual ditada pelos objectivos acima enunciados. Claro que Carvalho da Silva e o PCP vão continuando a cultivar essa imagem e a potenciar a graça assim recebida. Entretanto, Alegre esquece-se que no "post -modernismo" dos dias de hoje a contradição principal já não é entre o capital e o trabalho, entre o proletariado e a burguesia, mas entre o estado de direito democrático e a economia de mercado (com as suas várias nuances) a ele umbelicalmente ligado, por um lado, e o centralismo estatista que arrasta necessariamente consigo os genes da ditadura, por outro. Também esquece que tanto Carvalho da Silva como a CGTP têm apenas o valor que lhes é conferido pelo PCP. Por “este” PCP, não um outro qualquer imaginado.
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