sábado, julho 12, 2008

Onde se fala de Robin dos Bosques, do Sheriff de Nottingham, de Guy de Gisbourne, de Lady Marianne e de uma tal "taxa"


Quem conhece a vida das empresas sabe que, salvo caso de força maior (muito maior), devida e fundamentadamente justificado, não é aceitável um decréscimo, de um exercício para outro, na “margem” dos produtos produzidos. Isto significa que se um dos factores de produção (matéria-prima, “hora-homem” ou “hora-máquina”) vê o seu custo aumentar, de imediato se procura uma compensação na redução de um ou de outros custos e/ou então tender-se-á a fazer reflectir no preço, na medida em que o mercado o permita, o agravamento de custo verificado. Frequentemente, mesmo, são estas situações de agravamento de um ou vários custos que conduzem à inovação (“a necessidade aguça o engenho”), com benefícios inequívocos para o consumidor e para a empresa, claro.

Bom, quando acontece um agravamento em alguma das rubricas daquilo que se designa no calão da vida empresarial por “overhead expenses” (custos fixos, em termos bem mais corriqueiros se bem que talvez não tão rigorosos), a tendência será semelhante, levando a empresa a reduzir esse custo, de forma mais ou menos proporcional, em outras rubricas (muitas vezes recorrendo a contenção salarial do pessoal administrativo ou até procedendo a despedimentos, cortando nas viagens e em outras despesas correntes, publicidade e promoção, etc) ou a tentar aumentar a “margem” dos produtos produzidos no sentido de “melhor” absorver esse agravamento ocorrido nas tais “overhead expenses”, quer através do aumento de preços quer através de processos de inovação no sentido de reduzir os custos do processo produtivo.

Tendo dito isto, a taxa “Robin dos Bosques”, sendo à partida uma boa ideia (faz pagar a quem lucra com a alta dos preços do petróleo, prejudicial para o país no seu todo, uma taxa acrescida no sentido de beneficiar quem com esse aumento mais sofre – fácil e justo lembrarmo-nos das últimas afirmações de Fernando Ulrich sobre a necessidade de fazer recair sobre quem pode um agravamento fiscal por questões de coesão social), funciona para as empresas sobre as quais incide (petrolíferas) como um custo acrescido, que, à partida, irá “pesar” sobre os seus lucros antes de impostos. Sendo as ditas “overhead expenses” (custos fixos, pronto!) algo que, por definição, oferece muito poucas hipóteses de flexibilidade e adaptabilidade conjuntural, muito de semelhante se passando com eventuais processos de redução de custos, poderemos estar certos que a pressão para fazer reflectir o agravamento provocado pela nova taxa nos preços dos combustíveis pagos pelo consumidor será tremenda. Mais ainda, sabendo todos, e as empresas petrolíferas e o Estado cobrador de impostos mais do que quaisquer outros, que a gasolina e o gasóleo serão dos bens com uma menor elasticidade na relação procura/preço, isto é, cuja procura, pelo menos no curto-prazo, menos reage, no sentido negativo, a um agravamento dos preços.

A pergunta que fica por fazer é portanto a seguinte: está o governo a prever todas as implicações desta sua decisão (insisto: em teoria, uma boa ideia) e tem instrumentos para assegurar aos cidadãos consumidores que não está a brincar de aprendiz de feiticeiro e que as petrolíferas não vão arrecadar com uma mão o que entregaram com a outra? Ou seja: que o pobre do “Robin dos Bosques” não vai acabar por ficar prisioneiro do Sheriff de Nottingham, de Guy de Gisbourne e perder as boas graças de Lady Marianne? Espero bem que isso não aconteça... pois sempre gostei de romances de aventuras em que os "bons" ganhem e obtenham a devida recompensa. Que não seja o governo a retirar-me esse prazer!

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