O inspector Gonçalo Amaral pode não ser um ás da investigação criminal, nem ter sido agraciado por Deus ou pela natureza com células cinzentas ao nível de um qualquer Hercule Poirot: mesmo para quem, da expertise da matéria, só conhece os romances e séries policias, como é o meu caso, todo o desenvolvimento do processo de investigação do caso McCann quase parece um catálogo de medidas destinadas e tipificar o que nunca se deve fazer em casos semelhantes. Digamos que também a sua imagem, mais perto (ele que me desculpe) do agente da PIDE do que do detective clássico, que talvez só mesmo exista na literatura e no nosso imaginário por ela formatado, também pouco ajuda a que dele façamos o nosso Philip Marlowe indígena, neste caso mais afim de um fugidio “caso” amoroso com a Srª McCann depois de uns whiskies nocturnos num bar algarvio do que de uns longos almoços regados bem á portuguesa com os seus colegas polícias - que raio, será que não aprendeu que um detective que se preze é sempre um ser solitário? Mas, ao estabelecer e defender à outrance a tese que coloca os pais da criança no cerne do seu desaparecimento, aquela em que o escândalo e a conspiração, a política e, sabe-se lá?, também a promiscuidade e obscenidade sexual assumem o papel de motor do caso, que assim passa disso mesmo – “caso” - a história de cordel ao dispor de um qualquer Tarantino português, se possível com subsídio estatal e tudo, Gonçalo Amaral revelou que os seus dotes para o negócio, esses sim, bem ao contrário da sua capacidade investigatória, parecem não ser de desprezar, confirmando a tese de António Borges que vê em cada português um empreendedor, um Oliveira da Figueira em potência. Pelo “andamento” que o livro do inspector parece vir a ter, com previsíveis vendas aos milhares e traduções asseguradas, ora aqui está como, desta vez, afinal, o vice-presidente do PSD se não terá enganado no diagnóstico e que, para ficar rico, nada melhor do que fazer tudo mal feito mas estar no lugar certo na altura exacta! Chapeau!!!
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