sexta-feira, julho 18, 2008

"Conta-me Como Foi", Carlos Mendes e o "Verão" (1)

Curiosa a importância dada ao festival RTP da canção de 1968 e à canção “Verão” no 1º episódio de “Conta-me Como Foi”, que esta semana tive oportunidade de ver. Não, não me vou debruçar sobre a série, já que não tive oportunidade de ver o suficiente e com a atenção requerida para uma opinião definitiva e baseada; vi apenas uma meia dúzia de episódios e nem todos eles na totalidade. Já tive, no entanto, oportunidade de aqui me pronunciar sobre o que vi, pelo que mais não vem agora ao caso. Vem ao caso, isso sim, tentar pensar um pouco sobre as causas do afirmado no primeiro período deste texto. Ora vamos lá.

Que se estava, no final dos anos 50 e nos anos 60, em período de grandes mudanças sociais, culturais e comportamentais, quando a geração dos baby boomers chega à adolescência em pleno período de enorme prosperidade económica e depois de passado o trauma da WWII, embora no período mais gélido da guerra fria, não é nada de novo afirmar. Importante, isso sim, constatar que grande parte da afirmação desses novos valores culturais e sociais, de “viver a vida”, passa indiscutivelmente pela música popular, pelas formas e sons que assume e pela imagem e valores assumidos pelos seus intérpretes. Também será essa música popular que irá por sua vez agir sobre a sociedade, a política e os seus valores vivênciais e aspirações, ajudando a modificá-los. A nova música popular, opondo-se à chamada “música ligeira” herdada do período anterior à guerra, é sinal premonitório de uma sociedade nova que assume o seu lugar expulsando a antiga. Desnecessário falar do papel que as novas formas de música popular irão assumir em acontecimentos tão importantes como o relacionamento entre os sexos, a luta contra a segregação racial e a estanquicidade classista, as manifestações contra a guerra do Vietnam e pela paz, a afirmação dos direitos cívicos, etc, etc. De igual modo, não valerá a pena afirmar que é pela música que a “moda” se afirma enquanto ruptura com o passado (mods, rockers, glam rock, etc). Idem, no que se refere à droga, que dela é indissociável neste período, principalmente o LSD que dá origem a um movimento cultural (o psicadelismo) que tem talvez a sua maior afirmação na música popular. Mesmo outras formas de arte em ruptura com o passado, como éo caso da "Pop Art", não deixam de aparecer também ligadas à música popular.

O que se passa no seio da música ligeira e popular é também interessante e só isso possibilita que ela assuma o papel social e de inovação musical que vem a ser o seu. Pela primeira o seu domínio deixa de ser património dos “músicos”, de quem tem alguma formação específica (sabe ler uma pauta, recebeu lições de canto ou, pura e simplesmente, foi ensinado a aperfeiçoar o seu modo de cantar) e passa a ser património de todos os que querem aprender uns acordes ou exprimir o que lhe vai na alma. Isso deve-o ao "rock and roll", que vai beber a sua inspiração aos blues dos negros, um género musical com uma estruturação muito simples e um canto “sentido” e não trabalhado, próprios de uma cultura que nasce no duro trabalho dos campos e de quem não tem possibilidades de ter qualquer formação musical. De quem também não pode comprar instrumentos caros e que não sejam portáteis (os bluesmen iam cantando de terra em terra e os instrumentos originais eram improvisados), mas que necessita de algo que acompanhe a sua voz: uma guitarra, mesmo que de construção barata, já que ela tem apenas como função, com uns acordes simples, acompanhar e sublinhar a sua voz. O ideal para os adolescentes, com pouco dinheiro e sem paciência para as formas musicais dos pais, que não consideravam como suas, exprimirem as suas aspirações e afirmarem os seus valores pelo contraste. Mesmo quando falamos na dança, principalmente naquele período entre 1958 e 1962 que ficou conhecido como da “dance craze”, assistimos à afirmação uma ruptura igualitária: os pares deixam de dançar entrelaçados, o homem conduzindo a mulher, mas cada um é livre de dançar “como lhe apetecer”. Mais ainda, a música deixa de ter um papel de entretenimento, de “música de fundo” que torna o ambiente agradável enquanto se “fazem outras coisas”, mas ouve-se alto, assumindo um papel claramente dominante no ambiente. No palco as atitudes tornam-se provocatórias, sexualmente explícitas exprimindo uma das lutas do momento.

E agora perguntar-me-ão: mas que tem isso tudo a ver com a Festival RTP da Canção, com o Carlos Mendes e o “Verão”? Pois vem já de seguida... no próximo post.

1 comentário:

Anónimo disse...

El verano ya llegó, ya llegó, ya llegó..... y la fiesta comenzó......