Está bem de ver que não me move qualquer simpatia pelas FARC, muito antes pelo contrário: existe nelas qualquer coisa de ETA terceiro-mundista e campesina, de guerrilheirismo datado para o qual quase todos, de uma maneira ou de outra, directa ou indirectamente já contribuímos em tempos longínquos. Saudarei certamente o seu fim e com ele o mundo ficará um pouco melhor. Confesso que desconheço em pormenor as convicções mais ou menos democráticas, como maior ou menor ligação ao narcotráfico, do governo de Álvaro Uribe, mas duvido lhe comprasse um carro em 2ª mão ou lhe emprestasse o meu último euro. Mas confesso, aqui bem confessado, que depois de algum capital de simpatia que em mim gerou a Srª Ingrid Betancourt, durante o seu cativeiro, esta sua transformação súbita de mártir (qual Infante Santo do século XXI ou Cristo crucificado) em ídolo pop - com prometidos filmes e peças de teatro - de “Boudu sauvé des eaux” em rainha do glamour, muito pela mão do marido de Carla Bruni - que também talvez o seja por se dar o caso de ser presidente de França e gostar de se dar ao espectáculo - a que oportunisticamente (como de costume) José Manuel Fernandes aderiu, começa a deixar-me demasiado irritado, incomodado mesmo. Direi que há qualquer coisa de demasiado propagandístico que está longe de me cair bem. Claro que a Srª tem direito à vida, pois claro, e por ter estado refém não lhe estará destinado necessariamente o opróbrio, o convento ou cobrir-se de areia por vergonha tal qual D. Leonor de Sá. Mas, senão alguma contenção, pelo menos algumas ideias políticas, da política pura e dura, no intervalo de homenagens e festins, crónicas e relatos, talvez não lhe ficassem mal e também fossem algo bem vindas. Por mim, seriam com certeza. Fico á espera, pedindo-lhe desde já desculpa se estou a ser injusto.
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