Passados cerca de vinte anos da adesão à então CEE, confesso que tenho algumas dúvidas sobre a efectiva convergência de Portugal com a Europa mais civilizada e progressiva dos países do norte e do centro. Com grande pena minha me interrogo, eu, federalista convicto me confesso. É claro que há os “Índices de Desenvolvimento Humano”, o consumo, finalmente o embrião de uma classe média e tudo o que nos foi facultado por um programa extensivo de Obras Públicas e por aí fora, fruto, na maioria dos casos, dos “fundos estruturais”. Mas, em tudo o que tem a ver com os valores, ambições, way of living, enfim, com o “ser” e não com o “ter”, haverá de facto convergência significativa? Claro que sabemos que primeiro vem a riqueza, muitas vezes rapidamente – rapidamente demais –, e depois a cultura, a mudança dos hábitos de vida, da mentalidade, dos padrões civilizacionais. Tem sido sempre assim e esperemos o seja aqui também. Mas quando vejo a crescente influência da cultura e dos ideais de vida brasileiros no dia a dia dos portugueses - e a subserviência perante eles - interrogo-me, não posso deixar de o fazer, claro. Não é só a linguagem, o “fila” em vez de “bicha” a que eu me recuso teimosamente a aderir, é o modo de vestir, o “Rock in Rio”, a má música, o “torcer” pela selecção brasileira - o que, a mim, me faz eriçar todos os pelos do corpo. Que raio, sou europeu e, no meu caso, felizmente de algumas e variadas origens e afectos. Torcer pela selecção brasileira? O dito escrete, como lhe chamam os comentadores desportivos também eles já “convertidos”? Nem morto, a não ser que jogue contra um país daqueles governado por qualquer ditadura ignominiosa! Eu sei, eu sei que a “opção europeia” é um pouco - como direi? - “contra natura”, pois Portugal sempre foi na Europa um país marginal e periférico, uma sub-potência marítima e atlântica da imperial Inglaterra e nunca, ao contrário da Espanha, um contendor a ter em conta na evolução continental, um império europeu. E que há as telenovelas, a imigração, a praia e o “mi liga”. Mas, francamente, parece-me que esta subserviência e adesão fácil, muito “engraçada" à superficie, é no fundo, isso sim, o sintoma de uma doença chamada menoridade civilizacional, um factor potenciador do nosso atraso.
1 comentário:
Meu caro Gato Matez, muito obrigada por continuar a dizer bicha em vez de fila, eu cada vez que o digo "sinto-me" quase a dizer uma ordinarice de tal forma se alterou o hábito. Quanto ao Rock in Rio idem. Aliás a industrialização deste tipo de "festivais", acabou com eles na sua essencia.
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