Normalmente, quando lemos sondagens sobre intenções de voto e imagem dos políticos, a primeira coisa que nos chama a atenção, e para a qual os "media" nos remetem nos seus títulos, é a variação nas intenções de voto nos partidos, muitas vezes insignificantes e sem qualquer relevância estatística. De seguida, com alguma sorte, olhamos o que se passa com a imagem de cada político e respectiva variação, quase ao estilo dos "likes" e "dislikes" do Facebook. São questões importantes e pertinentes, não o nego, mas muitas vezes também susceptíveis de rápida mudança em termos demasiado conjunturais: basta uma medida mais "simpática" e popular de um qualquer governo ou ministro, um qualquer "fait divers" ou o "desaparecimento" oportuno de um político da cena mediática, durante umas semanas, para que as intenções de voto ou as opiniões populares possam sofrer alterações importantes.
Mas deixem agora, nesta última sondagem do Expresso, essas duas áreas e vejam o que se passa com a opinião dos portugueses sobre as instituições da República, que, enquanto tal (instituições), são bem menos susceptíveis de variação conjuntural, constituindo um dado estrutural e movendo-se de forma bem mais lenta. Todas elas, AR, Ministério Público, Juízes e Governo são avaliadas de forma extremamente negativa pelos portugueses. E se até podemos entender a imagem negativa do Governo como sendo muito influenciada pela actuação "deste" governo, especificamente, nos restantes casos - AR, Juízes e Magistrados - enquanto instituições e estrutura do Estado, não estão certamente os portugueses a referir-se à composição desta ou daquela Assembleia da República, deste ou daquele grupo de Juízes ou Magistrados, mas a instituições que, em termos abstractos, avaliam bastante negativamente. No fundo, com esta avaliação de instituições que, enquanto tais, não são susceptíveis de significativa mudança no curto-prazo, de modo a poderem ser avaliadas de modo diferente em próximas/futuras sondagens, é a República e o regime que se estão a ser postos em causa pelos cidadãos. Nada que já não soubéssemos ou de que não suspeitássemos; mas uma situação que esta sondagem põe claramente a nu na sua dimensão extrema e talvez de forma bem mais visível do que aconteceu com o célebre "ovo da serpente".
2 comentários:
Parece-me lógico que, especialmente as gerações mais jovens que nunca viveram noutro regime político, ponham em causa as instituições portuguesas. Acho que o próximo passo poderá mesmo ser mesmo porem em causa o sistema político e governativo no seu todo, o que se poderá reflectir num aumento dos votos em partidos anti-sistema (no caso vejo só a CDU e bloco, mas abre espaço para aparecem outros). Estranho é que até agora isso não tenha acontecido. Veja-se o caso de Itália, que como diz o economist na semana passada "bring in the clowns", acompanhado de uma foto do tal Gigi e do Berlusconi.
Ficamos todos é a perguntar qual é o end-game? aonde vai isto parar? Por cá continuamos ainda longe da radicalização, mas por quanto tempo? Não acreditamos em quem nos governa (isso também não é de agora), não acreditamos em quem lidera a justiça e não acreditamos em quem investiga. Mas por enquanto vamos seguindo a fazer o que se pode ... Não tenho idade suficente para ter conhecido períodos de mudança radical. Não sei quais foram os triggers dessas mudanças. Mas pela lógica, estes que vemos hoje (17% desemprego média e 35% nos jovens, redução do poder de compra, total descredibilização das instituições nacionais, reduzindo esperança relativamente ao futuro,...) parecem suficientes.
Ora bem, uma opinião sensata. Folgo!
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