domingo, março 17, 2013

E a loucura espalha-se como mancha de óleo que impregna tudo à sua passagem

  1. Agora imagine lá que, de repente, lhe diziam que a sua conta bancária - grande, média ou pequena, não importa -já não era de x euros mas, por decisão de terceiros - governo, UE, FMI e por aí fora -, passaria a ser de x menos y (ou menos z, se o montante dos seus depósitos fosse superior a um dado valor). Não, leu bem, não estou a falar dos juros gerados por esses seus depósitos, ou dos impostos a que se obrigaria por os ter, mas do dinheiro que você tem no banco, à guarda deste. Vão-se a ele e...zás, dá cá uma parte. Assim a modos que um género de BPP, mas em grande, e sem que você pudesse sequer suspeitar de nada ou ter escolhido entre a concorrência disponível. E você não tem tempo para "tugir nem mugir", pois quando chega ao Banco para levantar "o seu"... não há nada para ninguém até lhe "raparem" a fatia em causa, que  será de 9.9% se você tiver mais de 100 000 euros ou 6.7% se o valor for inferior (ora faça lá as continhas...). Pois, acredite ou não, é isto que está a acontecer em Chipre, país da União Europeia e da zona Euro, para o caso de estar esquecido. O sistema bancário cipriota estava "inchado" e era sede de lavagem de dinheiro das máfias russas? Pois, dizem que sim, mas que culpa tem o cidadão disso, que, na sua boa fé, lá depositou as suas economias e os seus rendimentos? Ou as empresas, que lá têm os seus fundos para pagamentos e investimento? Vai tudo raso, "o bom, o mau e o vilão". Imagina a raiva dos nossos concidadãos cipriotas, não imagina? Pois...
  2. Não é só a credibilidade bancária na UE que está em causa, principalmente nos países sob intervenção ou perigo dela, o que levará à fuga de capitais para os países "sólidos", pelos que o podem fazer, e para dentro do colchão, pelos outros. Não é apenas o carácter recessivo da medida que está em causa e a falta de confiança que irá gerar, é toda a credibilidade das instituições, políticas e financeiras, a partir deste momento arvoradas num género de Irmãos Metralha legalizados, que está em causa, sejam a Banca, os governos, a Comissão Europeia, o BCE, o Eurogrupo, o FMI e tutti quanti. E sabe você onde isso nos pode levar? Olhe, a Grande Guerra começou, em 1914, numa pequena cidade (Sarajevo) do então Império Austro-Húngaro. Espero o fim da Zona Euro e da UE não tenha começado numa pequena ilha do Mediterrâneo de menos de um milhão de habitantes.  

7 comentários:

Queirosiano disse...

Por uma vez, acho que desvaloriza excessivamente um dos principais elementos da questão: a economia de Chipre tornou-se uma das principais placas giratórias da lavagem de dinheiro russo. Os desequilíbrios que isso induziu, e de que toda a economia beneficiou,estão agora a vir explosivamente ao de cima.Um exemplo: um simples apartamento T5 em Limassol, uma cidade que, mesmo com toda a boa vontade, não pode ser comparada com uma cidade média europeia, custa à volta de 3 milhões de euros. Como é que uma economia rudimentar e improdutiva pode conduzir a situações destas ?

JC disse...

É verdade o que diz, caro Queirosiano, e eu refiro tal, embora de passagem, no "post". Mas tb não me parece andar longe da verdade nas consequências que esta atitude da UE pode vir a provocar e nas injustiças que acarreta.Muito francamente, as explicações sobre as máfias russas, que são reais, parecem-me uma versão, adaptada às circunstâncias de Chipre, do "vivemos acima das nossas possibilidades". Aqui, dessa "conversa" do "vivemos acima das nossas possibilidades" estamos tb todos a pagar, os que viveram e os outros. E, repito, o perigo desta medida é bem evidente para o descrédito das instituições e a instabilidade política e económica da UE.
Cumprimentos

JC disse...

Já agora, Queirosiano, no Twitter e Facebook "linkei" vários artigos interessantes dos "media" estrangeiros. Já depois de ter respondido ao seu comentário li este no Expresso online, que tb é um bom resumo: http://expresso.sapo.pt/parlamento-cipriota-adia-para-amanha-discussao-do-plano-de-confisco=f794188

Queirosiano disse...

O que queria salientar, e talvez não o tenha feito com suficiente clareza, é que a medida adoptada - violentíssima - decorre da natureza distorcida da economia cipriota, também fruto de uma situação política insusceptível de comparações no quadro europeu. Repare que nem no caso extremo e já bem longo da Grécia, e conhecem-se os disfuncionamentos e as vicissitudes, nunca tal hipótese se pôs, exactamente por se tratar de uma economia apesar de tudo minimamente estruturada. Mas aqui parece-me estar-se mais próximo de um caso mais próximo da Guiné-Bissau ou do Kosovo do que propriamente de uma economia europeia minimamente compreensível.

Cumprimentos

Queirosiano disse...

O que queria salientar, e talvez não o tenha feito com suficiente clareza, é que a medida adoptada - violentíssima - decorre da natureza distorcida da economia cipriota, também fruto de uma situação política insusceptível de comparações no quadro europeu. Repare que nem no caso extremo e já bem longo da Grécia, e conhecem-se os disfuncionamentos e as vicissitudes, nunca tal hipótese se pôs, exactamente por se tratar de uma economia apesar de tudo minimamente estruturada. Mas aqui parece-me estar-se mais próximo de um caso mais próximo da Guiné-Bissau ou do Kosovo do que propriamente de uma economia europeia minimamente compreensível.

Cumprimentos

JC disse...

Sim, eu percebi. Nunca estive em Chipre, mas conheci a Grécia e o modo como funcionava. Mas o que tentei explicar é que nem sempre os fins justificam os meios, ou seja, não pode valer tudo, até pelas repercussões que pode ter, não só económicas e financeiras mas tb políticas. E neste campo o risco é enorme. O problema (ou um deles) é que nos últimos 20 anos se construiu a UE s/ que mtºs países estivessem preparados para as consequências da adesão e sem se atender à sua situação real. Mas isso levar-nos-ia mtº longe.

Anónimo disse...

Caro JC

Em linguagem simples chama-se a isto assalto ou roubo, praticado por entidades oficiais (assumo que BCE, FMI e UE o são) e não por um qualquer meliante de rua.

A loucura é total, e isto constitue uma fortissima machadada para a credibilidade bancária, não só de Chipre entenda-se.

E que culpa têm aqueles normais depositantes, que nada têm a ver com a lavagem de dinheiro, de serem assaltados sem dó nem piedade.

A Europa está a tornar-se um lugar (muito) perigoso. Primeiro andaram a espalhar a gasolina...agora andam a pegar fogo.

Cumprimentos