domingo, março 24, 2013

SCP: no rescaldo da eleições

Parece-me ser ponto assente que, na sua actual situação e num futuro pelo menos a médio prazo, o SCP não terá outra opção senão voltar-se para a sua academia, de onde saíram alguns dos melhores talentos do futebol português nos últimos vinte anos. A academia tem sido, aliás, um dos "strenghts" do clube, talvez mesmo o mais valioso, se bem que depois não aproveitado em todo o seu potencial. Mas se isto é verdade, convém também não sobrevalorizar demasiado o papel que a formação pode vir a assumir no futebol e na inversão do declive negativo em que caiu o clube, pois se existe um potencial a aproveitar, existem também algumas limitações a essa função. Por exemplo? Bom...
  1. Com o seu actual modelo de negócio, baseado fundamentalmente no recrutamento de jovens talentos (e alguns menos jovens) da América do Sul e de alguns países europeus como a Holanda e a Bélgica, SLB e FCP actuam num vastíssimo campo de recrutamento, onde o SCP não tem qualquer capacidade para competir em condições, já não diria de igualdade, mas pelo menos comparáveis. Verá, portanto, o seu campo de recrutamento limitado ao que conseguir formar em Alcochete e a alguns jogadores "esquecidos" pelos rivais. Por muito que a sua capacidade nestes campos fosse maior que a de SLB e FCP - e na área de "scouting" estes levam bastante avanço -, o seu "source of business" terá uma dimensão muito inferior, já que sabemos a "colheita" nem sempre tem a mesma qualidade.
  2. Para valorizar jogadores é necessário ganhar enquanto equipa. E ganhar não apenas ao Moreirense e ao Rio Ave, mas consegui-lo na Champions League (principalmente) e na Liga Europa. Basta olhar para o que fez o FCP e, nos anos mais recentes, o SLB. Mas então, perguntarão: os clubes compradores não têm equipas de "scouting" omnipresentes, que observam jogadores nos confrontos nacionais? Sim, claro que isso é verdade, mas também não deixa de ser verdade que uma coisa é jogar bem nestes jogos e outra, muito diferente e com maiores garantias de sucesso futuro, fazê-lo nas grandes competições internacionais, onde a pressão, ritmo e intensidade de jogo são muito diferentes. É o mesmo que fazer bons jogos na pré-época ou depois, quando começa a competição "a doer". E esta será, nos próximos anos, uma das limitações do SCP: muito dificilmente poderá ultrapassar as pré-eliminatórias da Champions League (quando lá chegar e admito tal possa vir a ser possível a prazo de duas ou três épocas)  e mesmo na Liga Europa, para onde se poderá classificar sem demasiadas dificuldades, terá alguns problemas em conseguir "dar nas vistas".
  3. Acresce, e o SCP sabe disto por amarga experiência própria, que é difícil manter jovens jogadores numa equipa que não ganha títulos, com a agravante de não poder competir, mesmo que apenas internamente (externamente, nenhuma das equipas portuguesas o consegue), em termos salariais. Este será mais um "handicap" a ter em conta. 
Estas são as dificuldades, e "falar verdade" aos sócios e adeptos do meu tradicional e mais antigo rival não é apenas dizer-lhes que nos próximos anos não irão ser campeões: é também mostrar-lhes que mesmo na estratégia mais adequada à actual situação do clube existem enormes dificuldades. Mas enfim, futebol são onze de cada lado, quarente e cinco minutos cada parte, a bola é redonda e no fim já nem sempre ganha a Alemanha. Boa sorte, caros amigos "lagartos".

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