Nos meus tempos de criança (e ao tempo que isso foi...), o exame da 4ª classe servia para conferir aos portugueses um determinado grau de ensino (chamava-se, salvo erro, o 2º grau) indispensável para a obtenção de alguns certificados e para o exercício de determinadas profissões. Por exemplo, sem o 2º grau não se podia tirar a carta de condução ou ser jogador de futebol. Para quem prosseguia os estudos, nem sequer tal exame era necessário (nunca o fiz), bastando o chamado "exame de admissão aos liceus", efectuado no liceu da área de residência com direito a fato e gravata e "tudo o mais que uma família precisava".
Agora, com nove anos de ensino obrigatório, o ministro Crato resolveu desenterrar tal coisa, vá lá saber-se porquê mas quer-me parecer que por mero preconceito ideológico. Não me parecendo tal exame possa vir a contribuir para uma melhoria efectiva dos conhecimentos adquiridos e diminuição do abandono escolar, seria bem melhor que tempo e recursos fossem aplicados em acções que directamente tal fomentassem. Exemplos? Bom, não sendo nem nunca tendo sido professor, formação adequada e melhor pagamento (um diferencial positivo) aos professores que leccionem em escolas inseridas em áreas problemáticas e em turmas com dificuldades de aprendizagem, permitindo atrair para aí docentes melhores e mais qualificados, talvez fosse uma solução. De igual modo, conceder às escola maior autonomia na contratação dos seus professores, permitindo uma maior adequação dos docentes às escolas onde leccionam e identificação com o ambiente geral, métodos pedagógicos, etc, talvez também não fosse má ideia. Ah!, e não aceitar a estupidez que é a diminuição da carga horária aos professores mais antigos, aproveitando a sua disponibilidade assim acrescida para apoio aos alunos e turmas em dificuldade, talvez também pudesse contribuir. Mas qual quê! Afrontar as corporações é "cena que não assiste" a este governo.
3 comentários:
CAro JC, completamente de acordo com tudo o que é mencionado como propostas.
Mas uma ressalva para a ausência estrutural, diria mesmo estratégica, de uma política educativa consistente em que os exames são parte fundamental.
E em relação aos exames, em específico (muito mais haveria a dizer sobre a educação) a falta de preparação de alunos para provas, em qualquer grau de ensino, contribui para que estes não se apercebam que são momentos fundamentais, aplicáveis ao longo da vida, onde é suposto "provar" que se sabe, que se pensa e que se explanam conhecimentos e pensamentos claros sobre os mesmos, no fundo que a matéria é assimilada.
A tortuosa vida nas escolas, onde a cada governo mudam regras, momentos de avaliação, currículos, etc não promove a consistência na aquisição de conhecimentos, nem o seu domínio pelos alunos, e a falta de "regularidade" nas provas exigidas tão pouco. A introdução em anos iniciais de perguntas tipo americano nos testes, também não promove nada de bom, a não ser a alietoriedade.
Quem bom seria se soubessemos que provas teremos ao longo dos vários ciclos de ensino, e que bom seria ainda se os nossos alunos fossem ensinados para ao longo das semanas de ensino se prepararem de forma consistente e "profissional" para as mesmas, num clima de promoção do conhecimento e desenvolvimento científico nacional.
E seria importante, desde a mais tenra idade, pois, salvo honrosas excepções, é quando somos pequenos que apreendemos os hábitos mais saudáveis, entre eles, o de sabermos estudar e seus métodos específicos e preparamo-nos para exames.
Repara. Não sou contra os exames, em abstracto. Até os acho indispensáveis para que, como dizes, os alunos aprendam a encarar os tais "momentos fundamentais". mas até no tempo da ditadura eles, a nível nacional, só existiam quando concediam um determinado grau de formação: 4ª classe, para quem não continuava, 2º ano (não me lembro como se chamava), 5º ano (curso geral dos liceus, exigível para mtªs profissões)e 7º ano (curso complementar dos liceus). Hoje em dia, com 9 anos de escolaridade obrigatória, só faz sentido um exame nacional nesse ano, com diversas provas de aferição obrigatórias distribuídas durante esses 9 anos. Por alguma razão não existe exame nacional do agora 4º ano de escolaridade em nenhum Estado da UE. Portugal fez um enorme progresso no ensino, nos últimos anos. Tem ainda mtº caminho a percorrer, mas não me parece o exame da 4ª classe acrescente algo de importante...
Pois claro, "o" exame da 4ªclasse pouco me interessa e provavelmente não fará sentido nenhum, principalmente se, como dizes, não faz parte das boas práticas de ensino noutros países europeus.
A minha questão, lateral em relação a este post, admito, é com os momentos (mal-preparados) de avaliação...
ab
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