quinta-feira, março 04, 2010

Em dia de greve da FP: os portugueses, o Estado e as licenciaturas

Em Portugal ainda se insiste em ver a licenciatura como garantia de um emprego relativamente prestigiado e bem remunerado, como sinónimo de reconhecimento social num país onde o grau académico faz parte do nome. É compreensível que assim seja, num país onde até há umas dezenas de anos a maioria da população era pobre e vivia do trabalho braçal, na agricultura ou na indústria, de escasso empreendorismo e mobilidade social e onde a obtenção de um grau académico ainda corresponde, frequentemente, a sacrifícios familiares. Onde o próprio Estado cauciona tais percepções ao estabelecer carreiras estanques entre licenciados, sem distinção de curso ou universidade por onde se obtém a licenciatura, e não-licenciados, mesmo que estes possam estar perfeitamente aptos a exercer outras funções de maior complexidade e responsabilidade e o licenciado não passe e um burocrata medíocre e desinteressado.

É bom que os portugueses se habituem que não é bem assim (e a triste realidade já lhes entrou pela porta dentro ou está bem visível nos “check-outs” dos supermercados e nos “call centers”), e a licenciatura (e existem cursos e “cursos”, universidades e “universidades”) nada mais é do que uma ferramenta que lhes permite, pelo menos teoricamente, estar mais bem preparados para exercer um cargo na sua vida profissional e melhor enfrentar os seus desafios pessoais. Mas seria igualmente bom que o Estado desse o exemplo, acabando com distinções artificiais entre “carreiras”, nos casos em que isso se não justifica, e passando a premiar o mérito, a capacidade, a dedicação e a inteligência. Tornaria mais fácil fazer compreender aos cidadãos que, mesmo com licenciatura, talvez não fosse má ideia começarem a “fazer pela vidinha”.

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