A semana passada, no dia em que oficialmente acabava o período de saldos, ouvi na rádio (TSF ou RCP, não me lembro) uma pequena reportagem sobre como, do ponto de vista dos comerciantes de algumas lojas de Lisboa, com maior ou menor sucesso, aquele tinha decorrido. As opiniões variavam, mas aqueles a quem o negócio não tinha decorrido de acordo com as legítimas expectativas queixavam-se da falta de dinheiro “das pessoas”, opinião corroborada pela jornalista - repórter. Algum rigor, por favor.
Sejamos claros. Para as famílias que conseguem manter o emprego, o rendimento disponível aumentou, e é esta uma das características específicas da actual crise e à qual as pessoas não estavam habituadas (até aqui, crise significava essencialmente aumento de salários inferior à inflação). A inflação baixou para níveis muito inferiores aos previstos mantendo-se os níveis de aumento salarial e as taxas de juro (uma maioria da população activa urbana tem pelo menos um empréstimo a pagar) baixaram substancialmente. Isto significa que em zonas onde o nível de emprego não sofreu forte alteração (Lisboa será um dos casos) não existem razões reais e efectivas, do lado do rendimento das famílias, para uma diminuição da procura.
A questão é bem outra, e prende-se mais com a gestão de expectativas e com razões emocionais. Temendo o futuro em situação de incerteza, mesmo quem tem emprego garantido (como os funcionários públicos), ou quem não tenha razões para fortes suspeitas de que ele se não mantenha, pelo menos no curto prazo, tende não só a optar pela poupança ou por investimentos de rentabilidade assegurada, diminuindo o consumo, como a decidir adiar consumos, esperando mais e maiores certezas ou que os preços baixem. Claro que isto só pode gerar ainda mais crise, levando à diminuição do nível de actividade económica e a mais desemprego.
Talvez fique assim bem clara - com esta explicação prosaica - uma das razões porque uma diminuição dos impostos - independentemente de outras consequências que não são agora para aqui chamadas - possa não ter como resultado imediato um correspondente aumento do investimento e do consumo, logo, talvez não constituindo a receita mais eficaz para resolver ou atenuar a crise.
Eu sou o Gato Maltês, um toque de Espanha e algo de francês. Nascido em Portugal e adoptado inglês.
segunda-feira, março 02, 2009
Um pouco mais de rigor, sff
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2 comentários:
Obrigado pelo seu artigo e pelo seu bom senso que tanta falta faz nestes tempos modernos.
Gostei de o ler e vou continuar
Mtº obrigado pelo elogio. Mas tb agradeço críticas quando for caso disso.
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