- A oposição à esquerda (PCP e “Bloco”) vai afirmar a culpa cabe inteirinha à crise e ao desemprego, ás políticas “neo-liberais”, ao novo código de trabalho, à falta de integração dos imigrantes, esquecendo que embora tudo isso possa ter a sua influência está muito longe de constituir explicação cabal ou até principal.
- O PSD dirá que a culpa é do governo e do ministro Rui Pereira e ponto final, para não se baralhar demasiado com propostas que, de facto, não tem ou nada acrescentam.
- O PS e o governo vão tentar assobiar para o lado, dizer que contrataram mais polícias (como se isso resolvesse algo de fundamental), que grande parte da responsabilidade é da crise internacional, que Portugal ainda é um país seguro (o que é verdade) e tratarão de passar adiante, tal cão em vinha vindimada pois o assunto em causa lhes não convém. Um dia destes lá virão anunciar algumas medidas para sossegar os espíritos, pois me parece bem ser este um campo onde se podem perder uns milhares votos.
- O PP estará nas suas populistas “sete quintas”, clamando contra a imigração, a favor da musculação das polícias e apelando a penas agravadas, esquecendo Paulo Portas (que é jurista) aquilo que eu (que não sou jurista) bem sei: que não existe correlação entre a gravidade das penas e a criminalidade violenta.
- As associações sindicais das polícias tentarão colher frutos e benefícios, chamem-se eles mais “meios” (dinheiro, carros, armas novas), limitações aos direitos liberdades e garantias (leia-se, por exemplo, adoptar a prisão preventiva como pena sem julgamento) ou, mais prosaicamente, o direito a disparar a matar sobre quem lhes apareça pela frente, de preferência crianças, pretos, ciganos ou brasileiros.
- Ah!, e há o OSCOT do senhor general Garcia Leandro, que encontrará aqui algum motivo para uns minutos de tempo de antena e para justificar a sua preguiçosa existência.
Sejamos claros: o aumento da criminalidade (do actual tipo de criminalidade, moderna e organizada) é consequência da terciarização da sociedade portuguesa, da sua rápida passagem de uma sociedade rural e tradicional a urbana e suburbana, da sua transformação numa sociedade mais aberta e cosmopolita, da imigração gerada pelo desenvolvimento e pelo crescimento, da integração europeia, o que significa ser o preço a pagar pelo maior bem-estar geral e pela modernidade. É, digamos assim, uma “doença” de civilização. Alguém quer voltar atrás?
Mas também, note-se, tudo isto é agravado por um modelo de desenvolvimento que gerou bem estar mas simultaneamente enormes desigualdades, bolsas suburbanas de exclusão mal resolvidas pelo Estado com a criação de guetos, por forças policiais ainda (apesar dos progressos registados) pouco profissionais e uma GNR militarizada e, principalmente, por governos e políticos demasiado sensíveis aos apelos dos vários populismos, tentando resolver não os problemas “de facto”, de forma consequente, mas actuando ao ritmo da opinião pública e publicada dos tablóides e do “povo da SIC. Assim será mais uma vez, todos o sabemos sem alimentar quaisquer ilusões.
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