Peço desculpa por ir contra a corrente ou contra o moralismo hipócrita dominante, mas não me parece seja algo de despropositado ou condenável a guerra travada entre os dois maiores partidos políticos sobre a nomeação do Provedor de Justiça ou, sequer, que se esteja perante algo de secundário, uma “guerra de alecrim e manjerona” mais ou menos incompreensível ou desrespeitadora dos cidadãos e do chamado “interesse nacional”. O que está efectivamente em causa, já se percebeu, nem sequer é uma disputa pelo domínio de um cargo não tanto assim relevante ou influente no domínio do aparelho de estado, mas um guerrilha de desgaste permanente, uma luta já não assim tão surda como isso e que já integrou inclusivamente alguns “mind games” muito à José Mourinho visando o enfraquecimento mútuo de ambos os partidos (PS e PSD) perante a opinião pública, tendo como principal objectivo as eleições legislativas e a luta pelos votos dos portugueses.
Estamos, portanto, perante um episódio de luta política, e esta tanto se expressa ao nível das ideias e dos conceitos (a "ideologia" vista frequentemente como o lado “nobre” da política), concretizadas nas propostas para o país, como também da “imagem” e credibilidade de cada um dos partidos junto da opinião pública e que, em última análise, podem condicionar e determinar o sentido de voto de muitos cidadãos e o resultado das eleições. E todos bem sabemos como uma mão cheia de votos pode vir a determinar a renovação, ou não, da actual maioria absoluta do PS. E quanto essa renovação seria penalizadora para o PSD de Ferreira Leite. Ou o falhanço desse objectivo causaria problemas quase insolúveis para os socialistas.
Problemas? São, com certeza, conhecidos, estando medidos e calculados: enquanto lutam na porta da frente contra o inimigo principal um outro pode tentar entrar pelas traseiras. Aliás, isso tem acontecido com a subida de CDS, PCP e “Bloco” nas sondagens. Veremos a abstenção. Veremos também a consistência do actual ordenamento constitucional e quanto este resiste às pulsões presidencialistas, mais ou menos autoritárias, que se vão manifestando. Mas não me parece sejam essas questões estruturais que preocupam PSD e PS a 3 meses das europeias e 6 ou 7 das legislativas. De momento, reina a conjuntura. E, vejam bem!, até admito tenham razão.
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