O projecto Magalhães (leia-se: qualquer projecto que possibilitasse o acesso gratuito ou a preços reduzidos a computadores pessoais por parte de uma grande maioria de crianças do ensino básico) teria tudo para se tornar um projecto emblemático e popular para qualquer governo. Tem a ver com novas tecnologias (ou seja: para além da sua evidente utilidade e funcionalidade, está na moda), destina-se às crianças, cuja protecção e importância que lhes é concedida são hoje símbolos do desenvolvimento e superioridade civilizacional das sociedades ocidentais, e insere-se num aprofundamento da importância atribuída à educação, uma questão-chave nas sociedades do conhecimento. Penso que apenas nos professores, como se tem visto avessos a qualquer mudança que de algum modo os possa incomodar no seu conservadorismo corporativo que se traduz no “entra na aula, “despeja" a matéria, sai da aula e “já está” - e onde também se entrincheiram muitos infoexcluídos -, o projecto poderia gerar algumas resistências. Para além, claro, daqueles para quem “se há governo, eu sou contra” ou alguns outros para quem o partido é como o seu clube do coração: tudo o que vem do adversário é negativo e há que ganhar nem que seja com um golo irregular marcado já fora do tempo e com o árbitro comprado.
Bom, tendo dito isto, parece-me podermos concluir que o actual projecto Magalhães, sem prejuízo dos resultados finais que me parecem continuarão a ser positivos (apetece-me incluir aqui um racional à Helena Matos - isto é, partindo do particular para o geral e exemplificando com a vizinha do lado - e dizer que a filha de oito anos da minha empregada doméstica irá ter um computador gratuito ao abrigo do projecto, algo que nunca poderia comprar), acabou por ver muitos desses seus resultados, digamos que, ofuscados pela má gestão do projecto por parte do Estado e do governo. Parece-me, mesmo, que este se poderá considerar um daqueles case-studies destinados a exemplificar como uma deficiente e incorrecta gestão e execução de um projecto podem prejudicar, ou até destruir, algo inicialmente bem concebido.
Apenas três questões:
Bom, tendo dito isto, parece-me podermos concluir que o actual projecto Magalhães, sem prejuízo dos resultados finais que me parecem continuarão a ser positivos (apetece-me incluir aqui um racional à Helena Matos - isto é, partindo do particular para o geral e exemplificando com a vizinha do lado - e dizer que a filha de oito anos da minha empregada doméstica irá ter um computador gratuito ao abrigo do projecto, algo que nunca poderia comprar), acabou por ver muitos desses seus resultados, digamos que, ofuscados pela má gestão do projecto por parte do Estado e do governo. Parece-me, mesmo, que este se poderá considerar um daqueles case-studies destinados a exemplificar como uma deficiente e incorrecta gestão e execução de um projecto podem prejudicar, ou até destruir, algo inicialmente bem concebido.
Apenas três questões:
- Não previa o governo, perante uma comunicação social cada vez mais tablóidizada e interactiva, com destaque para o “povo da SIC” nos "fóruns de opinião", e com a irrupção da blogosfera, que o overacting do primeiro ministro no papel de Sr. Oliveira da Figueira, num governo que é apontado a dedo como “useiro e vezeiro” na utilização da propaganda, teria repercussões negativas e se voltaria contra o projecto?
- Não previu o governo que, tratando-se de um projecto emblemático e que a ser bem sucedido constituiria um crédito relevante para a sua acção, qualquer pequeno pormenor que pudesse vir a correr mal seria objecto de uma enorme exploração por parte de quem se opõe ao governo? Que fez para evitar que algo pudesse correr mal?
- Como foi possível que, depois de toda a controvérsia e maledicência que o projecto já tinha gerado nos “media”, fossem entregues computadores com erros grosseiros de português no software utilizado? Ninguém verificou? Ninguém controlou? Podemos confiar num Estado onde a falta de rigor e o laxismo atingem estes níveis? - já agora, e um pouco lateralmente, irá o fornecedor de software ser penalizado?
Estas – e eventualmente outras do mesmo tipo – parecem-me ser, para além do ensurdecedor ruído de fundo infelizmente inevitável, as questões importantes a colocar e que o assunto me sugere. Alguém que lhes dê resposta, por favor.
4 comentários:
Não me espanta nada que tenha erros porque geralmente os técnicos de software gostam de fazer "copy-paste" de softwares americanos e anglo-saxónicos e depois usam ferramentas de tradução automática para traduzir para "Portuguish". Há la um erro k traduz o termo "your turn to play" para "teu torno de jogar"...AHAHAHA!!! p.s.: nos meus tempos de faculdade nao me recordo de um engenheiro de informática ser bom na língua materna... Geralmente o pessoal de Ciência são uma autêntica nódoa em Língua Portuguesa...
Como é que o computador foi lançado para o mercado sem se ter feito uma verificação do seu software? Há coisas realmente absurdas. Finalmente entendi o porquê do "Novo Acordo Ortográfico"... serve para facilitar... ou seja, para nos tornarmos cada vez mais burros mas sem se notar tanto!
Ahh, o Governo é useiro e vezeiro na utilização de propaganda.
Bem me parecia!!
"apontado a dedo como "uzeiro e vezeiro" na utilização da propaganda",caro Aristides. Isto significa que, deste modo, não estou a expressar a minha opinião. Mas se quer tê-la, acho que por vezes exagera, embora todos os governos hoje em dia tendam a fazê-lo e utilizar a propaganda não seja necessariamente algo de negativo, dependendo de quando e como o faz. Mas, como pode ver no meu texto, considero que neste caso específico o fez de forma incorrecta, por vezes desastrada.
Tudo bem. Realmente , numa segunda leitura, verifiquei que não foi você que disse que o PS era useiro e vezeiro na propaganda. Peço desculpa , por isso. Mas, acaba por admitir que é verdade, pelo menos neste caso, e eu sei o que é isto do Magalhães como propaganda , porque sou professor e do 1.º Ciclo.
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