quinta-feira, março 12, 2009

Benfica e Manchester United: modelos, sistemas, semelhanças e diferenças

Claro que a um nível muitíssimo superior, a anos-luz de distância e com outro nível de intérpretes (é melhor afirmá-lo já para evitar falsas interpretações), mas devo dizer aos demasiado críticos e pouco atentos que vi ontem o Manchester United utilizar um modelo e sistema de jogo muito idênticos ao de Quique Flores no SLB. Vejamos - e começando pelo sistema:

  • Um 4X4X2 clássico servido por jogadores com as seguintes características: uma defesa com um lateral mais ofensivo (Evra – como Maxi no SLB) e um outro “central adaptado”, como por aqui gostam de chamar a laterais mais altos, menos rápidos e que sobem menos no terreno (O’Shea – como David Luiz); dois centrais pouco rápidos mas excelentes no jogo aéreo, inclusivamente nas bolas paradas na área adversária (Ferdinand e Vidic – Luisão e Sidnei); dois médios, sendo um mais pressionante e menos rápido (Carrick - Yebda) e um outro um pouco mais rápido e “box to box” (Paul Scholes – Katsouranis); dois alas abertos (Giggs e Cristiano – Reyes e Di Maria); um ponta de lança muito móvel (Rooney – Suazo) e um outro mais recuado (Berbatov – Aimar).


A nível de modelo e princípios de jogo:

  • Privilégio das transições muito rápidas pelos alas e das bolas longas para as costas da defesa, aproveitando a velocidade e jogo de risco de Rooney, Giggs e Cristiano, o que dá origem a algumas perdas de bola em zona perigosa e com a equipa desequilibrada; recuo das linhas logo que na posição de vencedor, concedendo a iniciativa de jogo ao adversário, uma vez que centrais e “pivot” defensivo não primam pela rapidez; algumas dificuldades nas transições mais lentas e em fazer circular a bola no meio campo contrário, uma vez que não tem jogadores para tal nem privilegia o modelo; boa capacidade de aproveitamento das bolas paradas.

Diferenças:

  • O frequente recuo de Rooney e a sua capacidade pressionante e de recuperação de bola permitem que Ferguson jogue com dois alas com pouca vocação defensiva, o que não acontece no SLB sendo, por isso e frequentemente, Quique obrigado a jogar com Amorim numa das alas; a capacidade de Cristiano e Berbatov para aparecerem na área e o bom jogo de cabeça do primeiro permitem ao United “meter” muita gente frente à baliza com capacidade finalizadora, o que não acontece no SLB; Berbatov é muito mais jogador de grandes espaços do que Pablo Aimar, o que permite ao United não ficar em desvantagem no meio-campo; “Katso” não tem a capacidade e potência de remate de Scholes, mas é bem mais eficaz no jogo aéreo; muito maior capacidade do United para interpretar as transições defensivas, reequilibrando-se rapidamente, sendo – talvez - na Europa a equipa que melhor o faz; melhor definição dos papéis, funções e espaços dos dois jogadores de meio-campo (Carrick e Scholes), fruto das características de ambos mas também de... muito treino e experiência de Scholes.

O resto? O resto é feito pela estabilidade de 25 anos, pelos orçamentos, pela história recente de conquistas e pela diferença de classe dos jogadores!

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