Existem formas mais ou menos inteligentes de dizer a mesma coisa, mesmo sem se cair no politicamente correcto ou nas habituais não-respostas. Ao afirmar que os trabalhadores presentes na manifestação da passada sexta-feira estão a ser manipulados pelo PCP e pelo “Bloco de Esquerda”, o primeiro-ministro estará talvez a dizer uma verdade, mas fá-lo de molde a suscitar o imediato repúdio dos manifestantes por considerarem que lhes estão a chamar estúpidos, a reacção emocional dos simpatizantes desses partidos e da comunicação social sobre a emergência de uma nova “campanha negra, as habituais acusações de autoritarismo vindas de vários sectores e a inevitável analogia com idênticas afirmações dirigidas à oposição democrática vindas dos governantes da ditadura. Digamos que é muito mais uma acusação de carácter do que uma crítica política.
Teria sido igualmente mais verdadeiro e bem mais sensato se José Sócrates tivesse afirmado, singelamente, que a agenda sindical da CGTP se confunde com a agenda política de PCP e “Bloco”, não apresentando, simultaneamente e enquanto central sindical aos seus filiados, quaisquer perspectivas ou soluções que contribuam, de uma forma eficaz, para a defesa dos trabalhadores numa crise como a actual. Talvez aproveitando também para a afirmar que a maior ameaça que paira sobre os trabalhadores neste ano em que os aumentos contratuais excederam significativamente a inflação é o desemprego e que os principais sindicatos mobilizados pela CGTP são os da Função Pública, onde esse problema, pura e simplesmente, não existe. Neste caso, diferentemente, estaríamos perante uma argumentação e uma crítica políticas. A adequada a quem exerce funções governativas.
Teria sido igualmente mais verdadeiro e bem mais sensato se José Sócrates tivesse afirmado, singelamente, que a agenda sindical da CGTP se confunde com a agenda política de PCP e “Bloco”, não apresentando, simultaneamente e enquanto central sindical aos seus filiados, quaisquer perspectivas ou soluções que contribuam, de uma forma eficaz, para a defesa dos trabalhadores numa crise como a actual. Talvez aproveitando também para a afirmar que a maior ameaça que paira sobre os trabalhadores neste ano em que os aumentos contratuais excederam significativamente a inflação é o desemprego e que os principais sindicatos mobilizados pela CGTP são os da Função Pública, onde esse problema, pura e simplesmente, não existe. Neste caso, diferentemente, estaríamos perante uma argumentação e uma crítica políticas. A adequada a quem exerce funções governativas.
4 comentários:
Não é para contestar o que aqui está escrito, onde navega alguma razoabilidade. É apenas por mera curiosidade:
Dos jornais de 18 de Março:
"O secretário-geral do PS, José Sócrates, defendeu, esta segunda-feira, a necessidade de um sindicalismo livre de tutelas partidárias para o melhor desenvolvimento do país.
«O sindicalismo livre de tutelas partidárias serve os interesses de Portugal», disse José Sócrates, no encerramento do 5º congresso da Tendência Sindical Socialista da UGT.
O primeiro-ministro, que esteve no congresso na qualidade de secretário-geral do PS, felicitou João Proença pela reeleição na liderança da tendência.
«O PS orgulha-se dos que sendo do Partido Socialista fazem um sindicalismo livre, moderno, que faz propostas e que defende os trabalhadores», afirmou o chefe do Executivo.
Mais uma razão acrescida, Gin-Tonic, para o 1º ministro ter evitado referir-se à manif. nos termos em que o fez. Por isso, não estás a contestar o que aqui digo (e que estivesses... só te agradeceria) mas a acrescentar mais argumentos ao meu racional.
Abraço
A ideia era exactamente essa, JC. c reforço do teu judicioso comentário.
"Não somos um país nórdico, e que não podemos fugir das instituições que a história e as políticas passadas sedimentaram. Mas não parece que esteja a falhar muito o alvo se disser que (ao contrário dos casos de sucesso da social-democracia por essa Europa fora, em particular na Escandinávia) a ausência de uma ligação orgânica ao movimento sindical é uma das fragilidades - uma espécie de missing link – na capacidade reformista (ou de fazer reformas com menos atrito social e institucional, e mais sustentáveis) do Partido Socialista no Governo. Se este diagnóstico não estiver errado, talvez merecesse alguma reflexão estratégica."
in "Desigualdades, Esquerda, História e Estratégia". Artigo de Hugo Santos Mendes em http://blog.fundacaorespublica.pt/?p=685
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