Chuck Berry - "Come On"
Muddy Waters - "I Want To Be Loved"
"Under The Influence" - The original songs of the "British Invasion" (II)
Algo que define logo, bem á partida, a diferença entre Beatles e Rolling Stones são os respectivos primeiros “singles”. Enquanto os Beatles optam por uma composição de Lennon e McCartney (“Love Me Do”) os Stones homenageiam a música negra americana numa composição de Chuck Berry, “Come On”. No “B” side um outro tema de um grande nome do "blues" moderno, Willie Dixon, que tenho acompanhado aqui no “Gato Maltês”: “I Want To Be Loved”. Estão aqui bem definidas as origens, abordagem e imagem de ambos os grupos. Enquanto os Beatles, apesar da influência dos pioneiros do "rock n’ roll", nascem do “skiffle” e isso se vem sempre a reflectir na sua música tendencialmente mais melódica e mais “pop”, na sua imagem mais “clean”, na sua aceitação enquanto “family group”, os Stones mergulham as suas raízes no "blues" e no "rhythm n’ blues" e nos seus clubes londrinos de Richmond (Crawdaddy) e de Oxford Street (Marquee). Essas origens vão marcar para sempre a sua música e os seus relativos fracassos quando está demasiado ausente (“Their Satanic Majesties Request, por exemplo), e é também isso que torna possível e credível essa sua imagem de "bad boys", por contraste com o grupo do Merseyside uma vez abandonados os seus blusões de cabedal. A confirmar tudo isto, enquanto todos os “singles” do grupo de Liverpool são composições de Lennon e McCartney, sem excepção, só um ano depois de "Come On" (Junho de 1964) os Stones gravam um “single” assinado por Jagger e Richards: “Tell Me”. Mesmo assim, no “B” side encontramos, mais uma vez, um tema de Willie Dixon tornado popular por Etta James: “I Just Want To Make Love To You”. Isto depois de passarem por Buddy Holly/Bo Diddley e Bobby Womack. Mas lá iremos.
5 comentários:
É conhecida a amizade entre membros das duas bandas. Não foi por acaso que os Rolling Stones editaram em 1963 (ainda antes da homónima edição dos Beatles) o single "I Wanna Be Your Man" da autoria Lennon/MCcartney, que ajudou a lançar os Stones a um público mais vasto. Pelo contrário, os Beatles nunca usaram material Jagger/Richards.
É verdade. Verdadinha. Mas não é esse o tema deste capítulo, mas sim os originais americanos que os grupos da "British Invasion" ajudaram a divulgar. Daí o facto de não ter focado esse ponto. Mas obrigado pela colaboração e pelo que ela acrescenta ao tema.
Na "mouche", JC, muito bem observado. A diferença básica entre Beatles e Stones era mesmo essa, a ausência ou a presença dos blues.
E, já agora, uma constatação curiosa: sempre preferi Beatles a Stones; mas no que toca às influências dos dois grupos, sempre preferi os percursores dos Stones aos dos Beatles (com excepção para Buddy Holly, no caso destes últimos).
Será que isto quererá dizer que Os Beatles sempre souberam "dar melhor a volta" aos temas que os influenciaram, adaptando-os à sua própria musicalidade? E que Os Stones, pelo contrário, se ficaram por recreações mais ou menos parecidas?
Um bom tópico de discussão este, parece-me...
Rato: Hoje estou c/ falta de tempo suficiente para a resposta que a tua observação merece, mas amanhã respondo s/ falta.
Ora vamos lá, Rato:
Bom, os Beatles, que me lembre mas o LT será a pessoa indicada para o confirmar ou desmentir, nunca gravaram nenhum "cover" de um blues original. Gravaram, como bem sabes, alguns temas de pioneiros do "rock n' roll" e "rockabilly" - e isso partilham c/ os Stones -, Berry, Alexander, etc. No campo da música negra, mesmo fora do campo dos blues, se os Beatles gravaram Alexander, Little Richard, Berry e Larry Williams, gravaram tb nomes mais soft do Brill Building, tais como temas das Cookies, Shirelles e Isley Brothers. Nunca nenhum dos grandes nomes da Atlantic, ao contrário dos Stones que gravaram Otis Redding e Soloman Burke, por exemplo. Isto apenas acentua o facto de a vertente dos Beatles ser sempre mais "pop" e talvez daí o facto de gostares mais das covers dos Beatles que dos Stones: será mtº mais difícil conseguir uma boa versão de um tema de blues ou da música negra - digamos - mais genuína da Atlantic, do que de temas de "rockabilly" ou do Brill Building, mais perto e c/ forte influência da música branca. Eventualmente tb os Beatles, fruto dessa sua tendência mais "pop", souberam, de entre alguns temas do rock negro de Berry, Richard, etc, escolher aqueles que melhor se prestariam a uma abordagem "pop". Penso que esta poderá ser uma boa razão para a tua preferência, mas, como bem sabes, estas coisas são vezes de mais demasiado emocionais para que possamos estabelecer um racional que o determine. E ainda bem que assim é!
Pessoalmente, devo dizer-te que no caso dos "covers" gravados pelos Beatles prefiro, normalmente, as versões originais. Mas é uma questão muito pessoal, pois a minha influência nesta área é mtº USA.
Abraço
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