Aqui há uns anos (alguns), trabalhava comigo, na subsidiária portuguesa de um grande grupo empresarial americano, um francês, ruivo e sardento, de origem irlandesa, feitio um pouco irascível como pertence por tradição e definição apressada aos descendentes da ilha vizinha dos britânicos. Além de colegas, tínhamos uma relação hierárquica, pois, como se diz no jargão das empresas, ele “reportava” a mim. Falávamos em português, excepto quando ele, irritado com alguma discordância ou opinião não partilhada, resolvia praguejar em francês, não para que eu não o entendesse, pois bem me sabia de origem francófona e fluente na língua de Rosseau e Molière, mas talvez porque isso lhe era mais fácil e, simultaneamente, assim também contribuísse para que acabássemos mais facilmente a rir, desanuviando o ambiente.
Mal roçávamos, na altura, os trinta anos e tratávamo-nos pelo primeiro nome e por você, numa empresa em que os títulos académicos eram, no dia a dia, ignorados ou desconhecidos e apenas constariam dos respectivos CV arquivados no departamento de recursos humanos. Pois um dia, o bom do B. (vamos chamar-lhe assim) decidiu perguntar-me: J, você que é português mas de cultura francófona é a única pessoa que eu conheço que me pode explicar uma coisa. Nós tratamo-nos por você e pelo primeiro nome, como à maioria dos nossos colegas que assim também nos tratam. Você e eu tratamos o presidente da companhia por você e pelo primeiro nome, mas você trata o motorista dele por Sr. A, a senhora dos cafés por Srª Dona X e permite que ambos o tratem pelo primeiro nome. Não percebo, confesso que não percebo!
Bom, lá tentei, o melhor que pude e soube, dar-lhe um curso acelerado sobre as formas e nuances de tratamento em Portugal. Inclusivamente, sobre o facto de uma das minhas avós, sua compatriota, apesar de viver em Portugal desde os dezoito ou vinte anos, nunca ter sido tratada - entre criadas, porteira, modista e comerciantes do bairro - por Srª Dona mas sim de “Madame”. Sobre a história dos Doutores e Engenheiros o pobre do B. já tinha sido há muito avisado, embora continuasse a fazer-lhe alguma confusão quando, fora da empresa mas na vida profissional, assim se lhe dirigiam. Sobre o resto, incluindo a diferenciação de tratamento ao motorista e senhora dos cafés, acho terá sido mais complicado, apesar dos meus reconhecidos dotes pedagógicos. Quem sabe ainda hoje estará para perceber!?
Mal roçávamos, na altura, os trinta anos e tratávamo-nos pelo primeiro nome e por você, numa empresa em que os títulos académicos eram, no dia a dia, ignorados ou desconhecidos e apenas constariam dos respectivos CV arquivados no departamento de recursos humanos. Pois um dia, o bom do B. (vamos chamar-lhe assim) decidiu perguntar-me: J, você que é português mas de cultura francófona é a única pessoa que eu conheço que me pode explicar uma coisa. Nós tratamo-nos por você e pelo primeiro nome, como à maioria dos nossos colegas que assim também nos tratam. Você e eu tratamos o presidente da companhia por você e pelo primeiro nome, mas você trata o motorista dele por Sr. A, a senhora dos cafés por Srª Dona X e permite que ambos o tratem pelo primeiro nome. Não percebo, confesso que não percebo!
Bom, lá tentei, o melhor que pude e soube, dar-lhe um curso acelerado sobre as formas e nuances de tratamento em Portugal. Inclusivamente, sobre o facto de uma das minhas avós, sua compatriota, apesar de viver em Portugal desde os dezoito ou vinte anos, nunca ter sido tratada - entre criadas, porteira, modista e comerciantes do bairro - por Srª Dona mas sim de “Madame”. Sobre a história dos Doutores e Engenheiros o pobre do B. já tinha sido há muito avisado, embora continuasse a fazer-lhe alguma confusão quando, fora da empresa mas na vida profissional, assim se lhe dirigiam. Sobre o resto, incluindo a diferenciação de tratamento ao motorista e senhora dos cafés, acho terá sido mais complicado, apesar dos meus reconhecidos dotes pedagógicos. Quem sabe ainda hoje estará para perceber!?
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