No “Mais Futebol”, Luís Sobral escreve um artigo interessante sobre a actual decadência do Boavista F. C., poucos anos depois de se ter sagrado campeão nacional e ter chegado à segunda fase da “Champions League” e às meias-finais da Taça UEFA. Não vai, no entanto, ao fundo da questão. Vejamos.
O Boavista foi, nas décadas de 80 e 90, o instrumento fundamental da ascensão ao poder de Valentim Loureiro, tal como o FCP o foi para o poder económico, empresarial e político emergente no Grande Porto após a normalização democrática do 25 de Novembro de 1975. Essa afirmação política e empresarial de Valentim Loureiro passou, em primeiro lugar, pela “lavagem” de imagem depois dos seus problemas com a justiça militar na fase final da ditadura, que nada tiveram que ver com a política mas sim com o seu comportamento e actuação enquanto oficial de Administração Militar. O ter ascendido a presidente do Boavista possibilitou, pois, não só a “lavagem” dessa imagem (tornando-o conhecido e permitindo-lhe o acesso fácil aos media), como, com a habitual complacência da normalmente subserviente, e pouco dada a críticas e investigações, imprensa desportiva, mostrar “obra feita” no clube, credibilizando-o e criando para si próprio uma imagem de “fazedor”, empreendedor e gestor competente. Foi alicerçado na imagem e poder assim conseguidos que teceu a sua teia de relações e tráfico de influências, que lhe permitiram a sua ascensão política e desportiva, levando-o a vice-presidente do PSD, autarca, administrador do Metro do Porto e presidente da Liga de Futebol Profissional (e por aí fora...). Mas, se foi a presidência do Boavista F. C. a base, o ponto de partida para a criação deste seu poder, foi esse mesmo poder, criado numa teia de relações que passou inclusivamente pelas ligações à Guiné Bissau, que lhe permitiu levar o Boavista F. C. a campeão nacional, investindo o suficiente no futebol do clube, quando isso foi indispensável para a prossecução dos seus objectivos, e dominando as estruturas de decisão desportiva, desde o ministro (José Lello) ao dirigente máximo da arbitragem (Pinto de Sousa), passando pela sua própria eleição como presidente da Liga. Foi esta estrutura, a teia gigante assim construída durante anos, que inclusivamente passou por ser o único dos “não grandes” a cometer a loucura de construir um estádio de 30 000 lugares (raramente mais de 5 000 estão ocupados) para o Euro 2004, que levou o Boavista F. C., mesmo com um treinador medíocre e iletrado (que a partir daí acumulou despedimentos e fiascos por todo o sítio por onde passou), a campeão nacional, cumprindo mais um passo no percurso traçado, para si mesmo, por Valentim Loureiro no seu projecto de poder pessoal. Uma vez conseguidos os objectivos fundamentais, de imediato o clube desinvestiu, pois nada no projecto indiciava sustentabilidade, e basta comparar, a preços constantes, os orçamentos dos seus anos dourados com os orçamentos actuais. Sobreveio, com a entrada na “zona euro”, a perda de poder do “norte”, a nível político e empresarial, e o “Apito Dourado”, retirando-lhe poder no seu partido, no futebol e nos media, foi uma machadada decisiva neste seu projecto.
É uma história exemplar do Portugal das últimas décadas.
O Boavista foi, nas décadas de 80 e 90, o instrumento fundamental da ascensão ao poder de Valentim Loureiro, tal como o FCP o foi para o poder económico, empresarial e político emergente no Grande Porto após a normalização democrática do 25 de Novembro de 1975. Essa afirmação política e empresarial de Valentim Loureiro passou, em primeiro lugar, pela “lavagem” de imagem depois dos seus problemas com a justiça militar na fase final da ditadura, que nada tiveram que ver com a política mas sim com o seu comportamento e actuação enquanto oficial de Administração Militar. O ter ascendido a presidente do Boavista possibilitou, pois, não só a “lavagem” dessa imagem (tornando-o conhecido e permitindo-lhe o acesso fácil aos media), como, com a habitual complacência da normalmente subserviente, e pouco dada a críticas e investigações, imprensa desportiva, mostrar “obra feita” no clube, credibilizando-o e criando para si próprio uma imagem de “fazedor”, empreendedor e gestor competente. Foi alicerçado na imagem e poder assim conseguidos que teceu a sua teia de relações e tráfico de influências, que lhe permitiram a sua ascensão política e desportiva, levando-o a vice-presidente do PSD, autarca, administrador do Metro do Porto e presidente da Liga de Futebol Profissional (e por aí fora...). Mas, se foi a presidência do Boavista F. C. a base, o ponto de partida para a criação deste seu poder, foi esse mesmo poder, criado numa teia de relações que passou inclusivamente pelas ligações à Guiné Bissau, que lhe permitiu levar o Boavista F. C. a campeão nacional, investindo o suficiente no futebol do clube, quando isso foi indispensável para a prossecução dos seus objectivos, e dominando as estruturas de decisão desportiva, desde o ministro (José Lello) ao dirigente máximo da arbitragem (Pinto de Sousa), passando pela sua própria eleição como presidente da Liga. Foi esta estrutura, a teia gigante assim construída durante anos, que inclusivamente passou por ser o único dos “não grandes” a cometer a loucura de construir um estádio de 30 000 lugares (raramente mais de 5 000 estão ocupados) para o Euro 2004, que levou o Boavista F. C., mesmo com um treinador medíocre e iletrado (que a partir daí acumulou despedimentos e fiascos por todo o sítio por onde passou), a campeão nacional, cumprindo mais um passo no percurso traçado, para si mesmo, por Valentim Loureiro no seu projecto de poder pessoal. Uma vez conseguidos os objectivos fundamentais, de imediato o clube desinvestiu, pois nada no projecto indiciava sustentabilidade, e basta comparar, a preços constantes, os orçamentos dos seus anos dourados com os orçamentos actuais. Sobreveio, com a entrada na “zona euro”, a perda de poder do “norte”, a nível político e empresarial, e o “Apito Dourado”, retirando-lhe poder no seu partido, no futebol e nos media, foi uma machadada decisiva neste seu projecto.
É uma história exemplar do Portugal das últimas décadas.
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