Por norma - e bom gosto - não vejo os jogos do campeonato português na televisão, excepto os do meu clube (o Benfica), quando não vou ao estádio, e os Sporting/FCP ou vice-versa. No entanto, sábado à noite dispus-me a ver o Braga-Sporting, uma vez que era o jogo entre o terceiro e quarto classificados e de importância fundamental para o desfecho do campeonato. Aguentei até ao minuto 35, depois de verificar que o Braga não era capaz de fazer mais do que três passes seguidos, de menos de cinco metros, sem perder a bola, e que era também totalmente incapaz de construir uma jogada com princípio, meio e fim. Decidi-me pela leitura dos jornais de fim de semana piscando o olho de vez em quando para o Athletic Bilbao – Valência.
Mas os tais 35’ a ver jogar só o Sporting deram-me espaço e tempo para pensar um pouco sobre aquele estádio de Braga, obra premiada e emblemática da arquitectura nacional e não só. Convém dizer que nunca lá assisti a nenhum jogo, e só vi o estádio em directo e ao vivo – isto é: no local – na fase final da sua construção, aí pelos finais de Agosto de 2003. A “coisa” impressionou-me, como já me tinha impressionado quando vi as primeiras maquettes da net. Mas os primeiros jogos via TV mergulharam-me de imediato em algumas pungentes dúvidas e interrogações que o tempo se encarregaria de confirmar. Como diria o tal senhor francês, um estádio de futebol serve para se jogar e ver o dito. Melhor ainda, serve de local onde se produzem espectáculos de futebol que se desejam ser o mais bem sucedidos e vendáveis possível. Cumprirá o estádio do arquitecto Souto Moura tais desígnios? Sinceramente, eu, que não consigo fazer um risco direito no papel, acho que não. Em primeiro lugar, porque o facto de não ter bancadas nos topos prejudica a proximidade do público, o “calor humano” (passe o chavão) tão necessário ao espectáculo. Basta ver que um dos segredos do êxito da “Premiership” é essa proximidade entre público e jogadores, essa “homogeneização” e simbiose dos intervenientes assim conseguida, quando Frank Lampard (por exemplo) corre para os adeptos a festejar um golo ou quando é focado o público atrás das balizas nos pontapés de canto e nos livres mais perigosos. O estádio de Braga torna o espectáculo frio e distante, e basta compará-lo com algum jogo no “Bessa” (um estádio nos seus antípodas em termos conceptuais) que tenha mais de 15.000 pessoas a assistir. Em segundo lugar, já houve queixas de que o lugar era frio e desconfortável, o que não estranho, pois, para além de uma situação em zona de ventos (pareceu-me), a inexistência de bancadas atrás das balizas contribui não só para o ambiente emocionalmente frio como também (imagino) para uma maior exposição do público ao frio e ao vento.
Penso estarmos perante mais um caso de arquitectura inimiga do utilizador (o contrário de user friendly) o que é, infelizmente, bem mais comum do que seria desejável. Durante anos vivi na zona da avenida de Roma/ avenida EUA, e algo de semelhante é aí também verificável. A Avenida EUA foi considerada durante muito tempo um exemplo de urbanismo moderno, com os seus prédios assentes sobre “estacas”, perpendiculares à rua, com espaços verdes entre eles e sem comércio. Pelo contrário, a avenida de Roma é um exemplo típico de urbanização tradicional, com prédios paralelos à rua, sem espaços verdes e o comércio situado nos pisos térreos integrando-se com a habitação. Hoje é uma zona segura, onde milhares de pessoas passeiam diariamente entre lojas, cafés e “dois dedos” de conversa e vizinhança. Pelo contrário, a avenida EUA é mais insegura, fria (em temperatura e ausência de peões) e ventosa, pois a disposição urbanística permite que o vento circule com mais facilidade e a ausência de comércio não contribui para potenciar o “passeio” e o tornar agradável. Acresce que os espaços verdes são pouco utilizados, excepto para a actividade higiénica (?) canina, como é tão habitual em Lisboa.
Enfim, esta história da arquitectura faz-me lembrar um pouco o festival de Cannes do filme publicitário: os filmes que ganham prémios muito raramente cumprem o seu objectivo de publicitar eficazmente uma marca, e por isso nunca os vemos passar na televisão ou no cinema, pois o seu objectivo último joga-se apenas nesse mesmo festival...
Mas os tais 35’ a ver jogar só o Sporting deram-me espaço e tempo para pensar um pouco sobre aquele estádio de Braga, obra premiada e emblemática da arquitectura nacional e não só. Convém dizer que nunca lá assisti a nenhum jogo, e só vi o estádio em directo e ao vivo – isto é: no local – na fase final da sua construção, aí pelos finais de Agosto de 2003. A “coisa” impressionou-me, como já me tinha impressionado quando vi as primeiras maquettes da net. Mas os primeiros jogos via TV mergulharam-me de imediato em algumas pungentes dúvidas e interrogações que o tempo se encarregaria de confirmar. Como diria o tal senhor francês, um estádio de futebol serve para se jogar e ver o dito. Melhor ainda, serve de local onde se produzem espectáculos de futebol que se desejam ser o mais bem sucedidos e vendáveis possível. Cumprirá o estádio do arquitecto Souto Moura tais desígnios? Sinceramente, eu, que não consigo fazer um risco direito no papel, acho que não. Em primeiro lugar, porque o facto de não ter bancadas nos topos prejudica a proximidade do público, o “calor humano” (passe o chavão) tão necessário ao espectáculo. Basta ver que um dos segredos do êxito da “Premiership” é essa proximidade entre público e jogadores, essa “homogeneização” e simbiose dos intervenientes assim conseguida, quando Frank Lampard (por exemplo) corre para os adeptos a festejar um golo ou quando é focado o público atrás das balizas nos pontapés de canto e nos livres mais perigosos. O estádio de Braga torna o espectáculo frio e distante, e basta compará-lo com algum jogo no “Bessa” (um estádio nos seus antípodas em termos conceptuais) que tenha mais de 15.000 pessoas a assistir. Em segundo lugar, já houve queixas de que o lugar era frio e desconfortável, o que não estranho, pois, para além de uma situação em zona de ventos (pareceu-me), a inexistência de bancadas atrás das balizas contribui não só para o ambiente emocionalmente frio como também (imagino) para uma maior exposição do público ao frio e ao vento.
Penso estarmos perante mais um caso de arquitectura inimiga do utilizador (o contrário de user friendly) o que é, infelizmente, bem mais comum do que seria desejável. Durante anos vivi na zona da avenida de Roma/ avenida EUA, e algo de semelhante é aí também verificável. A Avenida EUA foi considerada durante muito tempo um exemplo de urbanismo moderno, com os seus prédios assentes sobre “estacas”, perpendiculares à rua, com espaços verdes entre eles e sem comércio. Pelo contrário, a avenida de Roma é um exemplo típico de urbanização tradicional, com prédios paralelos à rua, sem espaços verdes e o comércio situado nos pisos térreos integrando-se com a habitação. Hoje é uma zona segura, onde milhares de pessoas passeiam diariamente entre lojas, cafés e “dois dedos” de conversa e vizinhança. Pelo contrário, a avenida EUA é mais insegura, fria (em temperatura e ausência de peões) e ventosa, pois a disposição urbanística permite que o vento circule com mais facilidade e a ausência de comércio não contribui para potenciar o “passeio” e o tornar agradável. Acresce que os espaços verdes são pouco utilizados, excepto para a actividade higiénica (?) canina, como é tão habitual em Lisboa.
Enfim, esta história da arquitectura faz-me lembrar um pouco o festival de Cannes do filme publicitário: os filmes que ganham prémios muito raramente cumprem o seu objectivo de publicitar eficazmente uma marca, e por isso nunca os vemos passar na televisão ou no cinema, pois o seu objectivo último joga-se apenas nesse mesmo festival...
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