sexta-feira, abril 06, 2007

Do "TGV"

Em Espanha estão situadas duas das maiores cidades europeias, Madrid (2.5 milhões de habitantes e uma área urbana com mais de 5 milhões) e Barcelona, com mais de 1 milhão e meio de habitantes e cerca de 3.5 milhões na área metropolitana. Em França, Paris tem mais de 2 milhões de habitantes e uma área metropolitana onde a população ultrapassa os 9 milhões, para além de uma enorme população flutuante. Tanto Espanha como França possuem, a uma distância superior a 450 km de Madrid, Barcelona e Paris (por vezes a 600 ou mais km), uma rede de cidades de média dimensão, como Valência, Sevilha, Lyon, Marselha ou Bordéus, todas elas com uma população, quer nas cidades quer nas respectivas áreas metropolitanas, igual ou superior a Lisboa. Esta terá, hoje em dia, uma população inferior a 600.000 habitantes, 2.8 milhões na área urbana. Porto, a segunda cidade portuguesa, dista de Lisboa apenas 300 km e a sua população pouco ultrapassa os 250 mil habitantes. Na sua área urbana viverão pouco mais de um milhão de pessoas.

Justifica-se, portanto, que tanto Espanha como França, ainda por cima países com uma mais moderna e sofisticada estrutura empresarial, possuam, ou estejam a construir, uma rede de comboios de alta velocidade para ligar essas cidades, o que antes só era possível fazer com rapidez utilizando o avião como meio de transporte. Pelas mesmas razões se justifica que Lisboa se conecte a essa rede através de uma linha que a ligue à cidade mais importante da península, distante 600 km, e, cada vez mais, o seu mais importante centro empresarial e de negócios: Madrid. Nesse caso, colocando Madrid e Lisboa à distância de + ou - 2h, o comboio de alta velocidade será competitivo com o avião.

Distando Lisboa e o Porto apenas 300km (e já não falo da distância ridícula entre o Porto e Vigo ou da efectiva importância das duas cidades enquanto centros de negócios), essa distância pode ser perfeitamente percorrida em menos de duas horas pelos comboios pendulares, com uma linha adequada, tornando a utilização do comboio perfeitamente competitiva com o automóvel ou o avião. Não consigo encontrar, portanto, qualquer justificação para a construção de uma linha de alta velocidade entre Lisboa e Porto ou, muito menos, entre esta cidade e Vigo. Será apenas, uma vez mais, megalomania, vício de novo rico(?) ou uma cedência a vaidades locais e tráficos de influências vários que todos teremos que pagar?

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