quarta-feira, abril 18, 2007

No "aftermath" da derrota. Algumas questões s/ o futebol do Benfica (2) - Que fazer?

O costume. A Benfica chega ao fim da época sem nada ganhar e o treinador é posto em causa. Discordo. Não sendo eu um “fanático” de Fernando Santos e não considerando a sua continuidade como indispensável, não é essa a questão fundamental, muito longe disso. Analisei em post anterior várias questões importantes por onde passam os problemas do futebol do clube. Vejamos agora quais as soluções.

Partamos de dois princípios: não conheço o que se passa no balneário e nos bastidores e por isso não me debruçarei sobre o assunto nem tecerei teorias da conspiração tanto a gosto de alguns comentadores encartados; partirei do princípio que todos os 13/14 jogadores que têm sido mais utilizados por Fernando Santos continuarão no clube (incluindo Nuno Assis), não especulando sobre hipotéticas saídas. Vejamos então:
  1. Tal como uma empresa deve ter uma política de contratação e gestão de “recursos humanos” o clube tem de que ter uma política de contratações, salários, integração, etc, muito bem definida. Não pode contratar, como até aqui, um pouco casuisticamente, uma vez acertando, outras não, integrando ou não os jogadores na equipa consoante “o que a época vai dando”. Isso permitir-lhe- á errar menos e, assim, rentabilizar os seus recursos.
  2. Não vejo uma razão suficientemente forte para afastar o treinador, uma vez que não só não terá cometido erros que o justifiquem como iniciou algo que se revelava há muito necessário e que, numa primeira fase, constituiria um risco: a mudança do modelo e do sistema de jogo da equipa, passando de uma equipa de “espera” e contra-ataque, baseada num 4x2x3x1, para uma equipa que assume o jogo, de “ataque continuado” e circulação de bola, baseada num 4x4x2 em losango. É uma mudança essencial para quem terá de “assumir” o jogo em 95% das ocasiões, jogando contra equipas “fechadas” junto à sua área. Mesmo que a direcção do clube se decida pela mudança do comando técnico (o que, reafirmo, não constitui o key issue que levará à resolução dos problemas) deverá privilegiar a contratação de um treinador que perfilhe o mesmo ou um modelo de jogo semelhante, mantendo, tanto quanto possível, a identidade da equipa.
  3. Terá de emprestar Moreira para onde este possa jogar e evoluir – nunca vender o seu passe, pelo menos de momento. O clube não tem referências fundamentais vindas da “formação” e Moreira, até pela empatia que criou com os adeptos, pode vir a ser, no futuro, um activo importante.
  4. Terá de contratar um defesa direito mais consistente a defender, mais inteligente na integração do seu jogo com o colectivo, mais alto (o que permitirá melhorar o déficit da equipa neste campo e o jogo na sua área defensiva), mas simultaneamente capaz de se integrar com alguma facilidade nas acções ofensivas, questão essencial no actual modelo de jogo da equipa.
  5. A contratação de mais um central parece ser indispensável, até para uma ideal integração progressiva de David Luiz, que vem da 3ª divisão do Brasil e tem apenas 19 anos. Se for suficientemente polivalente para ser alternativa no lugar de pivot defensivo (o “trinco”), melhor ainda.
  6. Partindo do princípio que Rui Costa poderá jogar mais um ano, mas sempre limitado (fará 36 anos na próxima época) a 20 ou 30’ por jogo, e que Simão, Nuno Assis e até mesmo Karagounis (em último caso) poderão assumir o vértice mais adiantado do “losango”, a equipa precisa de um médio “box to box” que possa entrar “de caras” na 1ª equipa e um outro como alternativa.
  7. Mantorras, pelo seu passado no clube e pelo historial da sua lesão, pela ligação a Luís Filipe Vieira e pelas suas afirmações recentes, tornou-se num elemento “desestruturante” no grupo. Seria melhor emprestá-lo ou dispensá-lo.
  8. Por fim, a questão-chave: um striker que valha 15/20 golos por época, que potencie o poder fisico-atlético da equipa e a sua capacidade para jogar na área contrária, e um outro que possa constituir uma alternativa credível, mesmo que a prazo.


Para além disso, será importante que a direcção transmita para todo o futebol do clube, “para baixo”, um exemplo do seu relacionamento com os adeptos e de gestão do plantel mais baseados no rigor e menos num populismo de emoções certas no curto prazo, mas de ausência efectiva de resultados no presente e de credibilidade no futuro.

Estas são - em minha opinião, claro está - as verdadeiras questões a enfrentar. Tudo o resto serão elementos distractivos, que evitam a concentração no essencial e que, como tal, deverão ser evitados.

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