Eu sou o Gato Maltês, um toque de Espanha e algo de francês. Nascido em Portugal e adoptado inglês.
terça-feira, outubro 31, 2006
Novos Hábitos...
Reforma da "Administração Pública"
História(s) da Música Popular (12)
Pois neste capítulo, e no que aos USA dizem respeito porque também o UK teve um papel de destaque nesta área, vamos falar de 4 – nomes – 4, começando por Link Wray & The Wraymen, o seu a seu dono, mas não deixando de fora, ou pelo caminho, Johnnie & The Hurricanes, Duane Eddy e, “Let It Be Drums”, Sandy Nelson. Link Wray nasceu (nestas coisas a incertitude faz parte da lenda) cerca de 1930, em North Carolina (“Nothing could be finer than to be in Carolina”...) Não sei se alguma vez terá cantado estes versos, quase como um hino das “Carolinas”, mas diz-se que a origem do seu som peculiar estará num lápis com o qual se entreteve a furar os altifalantes dos amplificadores para a gravação do one million-selling “Ramble”, tentando imitar o som de uma “zaragata”. Bom, “zaragatas” têm vários sons, mas parece que esta valeu bem o trabalho e o custo e Link Wray tornou-se assim, com este “Ramble” gravado em 1958, como que o pai fundador do rock instrumental. O meu CD de Link Wray é uma antologia e chama-se “Walk With Link” da Epic. Quanto ao rock instrumental nos USA haverá muitas e variegadas coisas. O que tenho aqui mais “à mão” chama-se “Twangs For The Memory” e é uma colectânea mid-price da Charly Records.
segunda-feira, outubro 30, 2006
When I Look at the Pictures - Lawrence Ferlinghetti (8)
Ah tes cuisses
as in an hour-glass
(through which all flesh flows)
at the café table now
you are living you are breathing
your bosom stirs
so slightly so lightly
belle plante bell jar
unaware of your self
full
of breath and life
not yet
awakened
I feel your breath so light
across the loud café
dear distant one
the time will come
or will not come
when we shall know
why we live ans why we love
the time will come
or will not come
when you’ll awake
from your deep dream of youth
the time will come or will not come
when we shall know
why all things pass
through the hour-glass
and why we are now here
in the late morning
listening to a juke-box Puccini
and looking away from each other
as if we did not know the musicas if we did not know the melody
As cenas do "Sr". José Veiga
Sou benfiquista. Durante anos sócio com lugar cativo e frequentador das Assembleias Gerais e das votações com alguma assiduídade. Assisti à final com o Anderlecht, no Estádio da Luz, fui à final de Viena e só não fui a Stuttgard por impedimentos profissionais. Já tenho, desde a semana passada, bilhete comprado para o Celtic. Mas isso não me impede de afirmar que, apesar da ligeira melhoria dos resultados desportivos e da construção do estádio e do Centro de Estágio (sobre a situação financeira, a história é outra - ver post anterior sobre a proposta para uma Liga Ibérica), não me sinto representado pela actual direcção do clube e da SAD. Tenho vergonha das cenas da semana que antecedeu o jogo com o FCP e, principalmente, das cenas protagonizadas por José Veiga durante o jogo, em pleno estádio do FCP, com transmissão televisiva para que todos pudessem aquilatar da "rasquisse". Por isso acho - exijo - deve punido exemplarmente. Como benfiquista, como amante do futebol e como cidadão deste país e da União Europeia.
domingo, outubro 29, 2006
"Prairie Home Companion"
sábado, outubro 28, 2006
As Capas de Cândido Costa Pinto (12)
sexta-feira, outubro 27, 2006
Manuela Ferreira Leite e o Estado
Tenho a Drª Ferreira Leite na melhor das contas (à parte esse pequeno problema de ser do Sporting), o que me fez sempre acreditar que o seu “falhanço” no governo Durão Barroso se terá devido mais a questões globais do funcionamento do próprio governo do que a ela própria. Por isso me custa um pouco ler estas suas afirmações.
Três notas:
- A questão das funções do Estado é política, e portanto não custa nada a quem não tem essas responsabilidades, e MFL actualmente não as tem, pelo menos de primeira linha, dizer algo que sabe ser politicamente inviável, desde que em termos técnicos isso faça algum sentido (e o que MFL diz até pode fazer algum sentido).
- Independentemente de considerações ideológicas, que por a questão ser política também fazem aqui todo o sentido, reduzir o Estado, em Portugal (e agora estamos já a falar de política, do real concreto), às meras funções de soberania faria cair o país numa crise política, social e económica sem precedentes. Penso ser inviável em democracia.
- Quanto a “introduzir no Estado critérios de gestão empresarial” (adaptando-os às funções deste, claro está) não poderia estar mais de acordo. Mas uma pergunta: a que critérios de gestão empresarial nos estamos a referir? Aos das multinacionais e de algumas das empresas portuguesas melhor geridas (normalmente as maiores ou em sectores de “ponta”) ou a uma multidão de empresas, maioritárias em Portugal, tão mal ou pior geridas que o Estado? É que se reconheço a muito má gestão do Estado, em termos médios, é conveniente que não se tome a nuvem por Juno e não se identifique, erradamente, a qualidade de gestão de algumas empresas de excelência com o modo como são geridas, em Portugal, a grande maioria das empresas privadas.
CTT - Venda Automática de Selos
Os Portugueses e a Falta de Rigor
quinta-feira, outubro 26, 2006
"Grandes Portugueses" - o meu voto
Quando me preparava para desistir, desligando, eis se não quando dei com o tal programa dos “Grandes Portugueses, assim, com maiúsculas e tudo, e com a Srª Dona Maria Elisa, apresentando-o com uma maquilhagem que lhe dava o “ar” de quem mais parecia saída de um daqueles saudosos filmes de “Gothic Horror”, da Hammer Productions, dos anos 50. Desliguei mesmo, claro.
Mas como a noite é boa conselheira e dormir sobre os assuntos muitas vezes resolve melhor os problemas, achei que seria indigno do concurso (ou lá o que é, acho mais um ranking) passar sem a minha participação e que ela certamente lhe daria um muito maior brilho!!! Vai daí, cá me pus a pensar qual seria, e se existiria, um português digno do meu voto, que eu cá não o dou assim, do pé para a mão, ao primeiro que me aparecer á frente. Depois de muito pensar, pesando devidamente prós e contras (não, erro, este é o da Drª Fátima), pensei que o Senhor Dom Filipe (o II de Espanha, dizem, I de Portugal) poderia ser uma boa escolha, já que resolveu tomar conta disto antes que por cá desse tudo para o torto, mas mantendo a autonomia necessária para que não “chateássemos” muito. Pessoa avisada! Se a “coisa” tivesse resultado, andávamos hoje como a Catalunha, o País Basco e a Galiza a ver se nos víamos livres de Castela, o que era bem mais simpático aos olhos do mundo. Não era português? Que raio, pois se foi rei de Portugal e era neto do Senhor Dom Manuel...
Depois de ter passado pelo Senhor Miguel de Vasconcelos (desisti logo, pois escondeu-se num armário com papéis e eu cá não vou nessa de cobardias) descobri a solução: voto no Senhor Dom Manuel de Bragança. Porquê, perguntarão, que fez ele de especial? Que fez? Pois quando viu muita confusão, entregou as chaves de casa ao Sr. Afonso Costa e “bazou” (“deu de frosques”, preferem?) para Londres onde com certeza terá sido bem mais feliz, em Fulwell Park, a coleccionar livros e a receber monárquicos exilados. E, claro está, com a inestimável contribuição para essa felicidade da Senhora Dona Augusta Vitória e não só, pelo menos ao que consta que eu cá não sou de intrigas. Parece que teve um ponto fraco; teve saudades da pátria. Mas está desculpado, pois, certamente, foi só por nunca cá ter voltado! Voto nele, está decidido!
Sócrates e a Avaliação dos Professores
quarta-feira, outubro 25, 2006
"Choque Ideológico"
Outras Músicas (6)
When I Look at the Pictures - Lawrence Ferlinghetti (7)
They are kneeling upright on flowered bed
He
has just caught her there
and holds her still
Her gown
has slipped down
off her shoulder
He has an urgent hunger
His dark head
bends to hers
hungrily
And the women the women
turns her tangerine lips from his
one hand like the head of a dead swan
draped down over
his heavy neck
the fingers
strangely crimped
tightly together
her other arm doubled up
against her tight breast
her hand a languid claw
clutching his hand
which would turn her mouth
to his
her long dress made
of multicoloured blossoms
quilted on gold
her Titian hair
with blue stars in
And his gold
harlequin robe
checkered with
dark squares
Gold garlands
stream down over
her bare calves &
tensed feet
Nearby there must be
A jewelled tree
with glass leaves aglitter
in the gold hair
It must be
morning
in a faraway place somewhere
They
are silent together
as in a flowered field
upon the summer couch
which must be hers
And he holds her still
so passionately
holds her head to his
so gently so insistently
to make her turn
her lips to his
Her eyes are closed
Like folded petals
She
will not open
He
is not the One
Poema de Lawrence Ferlinghetti para "The Kiss", 1907, de Gustav Klimt. Osterreichische Galerie, Vienna.
Rui Ramos e a "Crise do Suez"
terça-feira, outubro 24, 2006
As Capas de Cândido Costa Pinto (11)
Porque não uma 1ª Liga de Futebol Ibérica?
Sabendo que o número de espectadores dos jogos em que os “grandes” se deslocam ao campo dos adversários “pequenos” são aqueles em que estes conseguem ter um maior número de espectadores e que são eles que justificam as receitas de televisão destes últimos, estamos perante uma situação em que, de facto, os clubes pequenos “parasitam” os “grandes”, sendo estes a financiá-los não recebendo daí qualquer benefício. Acresce que todos os clubes, principalmente os “grandes”, estão basicamente falidos. Por exemplo, o SLB apresentou ontem um passivo de 152 milhões de euros (um crescimento de 20% e 26.1 milhões face ao último exercício) e, pior ainda, a dívida de curto prazo passou de 58 para 101 milhões. Não se percebe como irá recuperar. A situação de SCP e FCP já era por demais conhecida, sendo que o SCP é o único onde se pode verificar alguma preocupação com a possível resolução do problema ou, pelo menos, com a sua contenção. É o único onde se pode detectar algo de parecido com gestão. Tudo isto apesar das generosas contribuições estatais... Mais ainda, os clubes “grandes” não têm qualquer hipótese de crescimento previsível, no futuro, já que dominam mais de 95% do mercado. Mesmo a “canibalização”, entre eles, se afigura difícil, já que a “lealdade de marca” é muito elevada.
Que fazer então? A única possibilidade é conquistar mais mercado, atraindo um maior número de espectadores aos jogos e ás transmissões televisivas, o que só poderá ser feito se os “grandes” decidirem dar o único passo inteligente que lhes resta: jogarem o campeonato de Espanha. Passariam a ter um maior número de espectadores no estádio (é diferente jogar contra o Barça, Real Madrid, Valência, etc, ou jogar contra o Aves ou a Naval) e quanto a verbas de televisão nem vale a pena falar, já que o mercado não seria apenas a soma de Espanha + Portugal mas todo o Mundo. As receitas de merchandising seguiriam, claro está, o mesmo caminho. Inclusivamente, por via de uma maior e melhor concorrência, isso obrigaria os clubes portugueses a melhorarem decisivamente a sua gestão. Contras? Não vejo quais... É claro que nos primeiros dois ou três anos o trio SLB/SCP/FCP teria dificuldades em lutar para o título, mas logo que o alargamento do mercado, assim conseguido, começasse a dar os seus frutos, a capacidade competitiva acrescida depressa ultrapassaria o problema, colocando-os ao nível de clubes como o Valência e perto de R. Madrid ou Barcelona. Para Espanha também não vejo qual o problema, pois seria bem melhor, para a respectiva liga, contar com o trio português do que com o Espanyol, Nastic ou Recreativo de Huelva. Claro que há o problema UEFA, mas pelo menos valia a pena tentar. Até porque parece ser a derradeira hipótese.
Calçada Portuguesa
Marie Antoinette e Sofia Coppola
Ora aqui vamos, pois, ao filme de Sofia Coppola, conforme prometido e depois de visão obrigatória. Algumas questões prévias a clarificar:
1. Não se trata de um “drama histórico” ou de um filme de época – e por isso não pode ser analisado apenas enquanto tal -, mas, isso sim, de um tema que em nada é diferente dos anteriores filmes da autora (“As Virgens Suicidas” e “Lost in Translation”): os “desajustamentos”, os “síndromas” de “não pertença” do fim da adolescência, princípio da idade adulta. Era assim com as irmãs Lisbon de “As Virgens Suicidas”, desajustadas de uma família opressiva e de um ambiente conservador de uma pequena cidade americana, e era assim com “Lost in Translation”, com uma Scarlett Johansson desajustada de um casamento, numa terra estranha que ela dificilmente entende, ou um Bill Murray em crise de identidade no limiar da “terceira idade”. Desta vez coube a “Marie Antoinette”, rainha de França”, e não a uma personagem anónima, incarnar o papel, e aqui começam as complicações. E a pergunta será: até que ponto (e em que medida), não se tratando de um filme histórico mas lidando com personagens e situações que o são, esse rigor histórico pode ser, digamos, como que "ajustado", acentuando ou aligeirando facetas do perfil psicológico dos personagens em função do objectivo que se pretende atingir? Mas também há lugar a uma afirmação: é exactamente esse facto (o não se tratar de um filme histórico) que “obriga” Sofia Coppola a utilizar como base uma biografia (segundo dizem – não a li), de Antonia Fraser, “pouco rigorosa, popular e feminista, muito de acordo com o ar do tempo” (nas palavras de Vasco Pulido Valente no “Público”).
2. O casamento por amor é uma “criação” burguesa. A aristocracia casava por interesses políticos e/ou patrimoniais, e o povo para gerar filhos para contribuírem com o seu trabalho para o sustento doméstico (a palavra “proletário” vem de “prole”), por isso escolhendo companheiros(as) em função de capacidade de gerar filhos e defender a família. Em ambos os casos, existe a necessidade de casar cedo para que a mulher possa estar casada o maior número possível de anos durante a sua idade fértil, mais ou menos entre os 12 e os 40 anos ou menos porque se morria cedo, o que acontecia também com as crianças. Logo (ver post anterior sobre o mesmo tema), não faz qualquer sentido abordar o caso de Marie Antoinette do ponto de vista emocional, burguês, ou do ponto de vista da idade que tinha (14 ou 15 anos) quando do seu casamento. Por exemplo, e falando de um acontecimento da História de Portugal, o casamento “por amor” de D. Pedro I com Dona Inês de Castro pode ser visto, à luz dos valores e “modelos” vigentes na época, de facto, como uma “traição” aos interesses que um rei se obrigava a defender enquanto tal. Tudo o resto são as nossas “construções” burguesas posteriores. Assim sendo, ter amantes era como uma extensão natural, uma consequência dos casamentos políticos ou “patrimoniais”, não podendo a esse facto ser atribuída a carga negativa que lhe concede a moral burguesa dos nossos dias.
Having said this, vamos a factos:
1. Toda a primeira parte do filme tem uma clara carga política, embora eu não esteja certo do modo como em certas sequências isso possa transparecer para a maioria dos espectadores portugueses, razoavelmente pouco preparados, penso, na matéria (a História dada no secundário é maioritariamente uma fraude) e demasiado viciados nas revistas cor de rosa. Algumas cenas ajudarão à confusão. Toda a cerimónia da chegada à fronteira francesa tem um peso político indiscutível, quando Marie Antoinette se “despoja” de tudo o que é austríaco (até do nome) e agradece a um enviado do rei e do "delfim" lhe ter permitido encontrar a felicidade através do casamento, ao que este retribui agradecendo-lhe a ela ter permitido a felicidade da França. A cena é suficientemente ambígua para não se perceber se Marie Antoinette se refere à sua felicidade pessoal pelo “amor”, o que seria inverosímil, se por cumprir os objectivos políticos que lhe são destinados e que veremos com o fluir do filme a preocupam e ocupam. Menor ambiguidade, contudo, ressalta dos problemas da não consumação do casamento, onde me parece claro que a preocupação da então “dauphine” é apenas e só a questão política tout court. Já mais ambíguas me parecem ser as sequências do “vestir” e da noite de núpcias, que poderão induzir nos espectadores, aos olhos de hoje, não mais que a noção do ridículo e da adolescente “diferente” colocada perante o tal ambiente opressor e desconhecido, tão caro a Sofia Coppola, (no início do filme a futura rainha de França é alertada pela imperatriz Maria Teresa para as diferenças entre a corte de Versailles e de Viena), diluindo a sua carga política. Como a função da “dauphine” é essencialmente gerar um herdeiro, assegurando a continuidade dinástica e a consumação da aliança política que o casamento consubstanciava, estamos, também aqui, perante um acto eminentemente político, daí a cerimonial como a benção do leito conjugal e o acompanhamento dos noivos até ele por parte do rei e da corte. Já a cerimónia do “vestir” é apenas algo que permite uma afirmação de hierarquias, do acesso à "dauphine" por parte dos diversões escalões da aristocracia francesa, e a oportunidade para a realizadora, perante a incomodidade sentida por Marie Antoinette, afirmar as diferenças entre as duas cortes, acentuando, através disso, o tal sentimento de “desajuste”.
2. Contudo, toda a carga política se dilui de modo notório a partir da maternidade, o que faz algum sentido (Marie Antoinette tinha assim assegurado a sua principal função política), acentuando a vertente de jovem despreocupada e gastadora, frívola mas por vezes também entediada com a futilidade da corte. Sabemos que não se terá passado exactamente assim, e que a sua intervenção política não foi inexistente, mas é isto que permite a Sofia Coppola desenvolver o seu tema recorrente da “não pertença”. Permite-lhe também abrir o caminho para os acontecimentos de 1789, mas sobre isso há que acrescentar ainda algo que no filme não é claro:
A. A futilidade e a frivolidade não eram exclusivos da corte de Versailles. Toda a aristocracia, mesmo até aos nossos dias, tende a evidenciar frequentemente algumas dessas mesmas características, já que a sua continuidade e riqueza está assegurada pelo nascimento e não pelo seu "valor" intelectual. No entanto, existe algo que distingue Versailles e teve o seu papel histórico. A aristocracia francesa vivia na corte, em Paris e Versailles, enquanto a inglesa, por exemplo, vivia a maior parte do ano no campo. Isto determina, desde logo, algumas diferenças, como uma forma de vestir e de viver mais opulentas (o chique e coquette) na aristocracia francesa (ninguém, num ambiente de campo, poderia vestir-se e comportar-se como em Versailles), bem assim como o seu carácter mais frívolo e distanciado da realidade. Por outro lado, ao contrário do que parece pretender Sofia Coppola ao apresentar o rei frequentemente em caçadas, não se pode, de modo algum, incluir a caça no ror das futilidades. A caça era, para a aristocracia, o treino para a guerra em tempo de paz , e a política e a guerra eram os seus deveres, a sua profissão face aos direitos e regalias que lhe eram atribuídos pelo nascimento.
B. A intriga política é comum a... todos os ambientes políticos, tal como acontece hoje em dia nos bastidores do Parlamento, e a corte era-o por excelência. Nada nessa intriga, ao contrário do que parece pretender Sofia Coppola, remete para o campo da futilidade, embora o possa parecer quando reveste esse carácter aparente nas conversas entre as mulheres, que não têm acesso directo às decisões e por isso se servem politicamente da crítica social e do gossip.
C. Quanto à utilização de música “pop”, nada a dizer em desabono. Antes pelo contrário: parece-me essencial no acentuar de alguma situações, a cena do baile de máscaras, por exemplo.
Em resumo, o filme é suficientemente ambíguo para fazer o seu caminho. Quanto à verdade histórica, saio como entrei, ou não estivéssemos perante algo que não é de todo um filme “histórico”: Marie Antoinette é um erro de casting; alguém suficientemente mal preparado (era a filha mais nova) para o papel que lhe destinam numa corte muito diferente e num país em grave crise política e à beira do acontecimento mais determinante da sua História (e um dos mais importantes da História do mundo). Era a mulher errada no lugar errado. Tão mal preparada, aliás, quanto o seu marido, com a diferença que é austríaca, o que acentua os antagonismos... Por isso é ela que vai ser considerada o inimigo principal (é estrangeira e de um país tradicionalmente rival). Também por esse motivo acabam “engolidos” por essa própria História. Quantas vezes já a isso assistimos?
domingo, outubro 22, 2006
Um Outro Sindicalismo
sábado, outubro 21, 2006
As Capas de Cândido Costa Pinto (10)
Duas Notícias (quase) Perdidas
- A Câmara da Covilhã prepara-se para construir um aeroporto com uma pista de 2,4 km, para aviões até 110 lugares e com capacidade para acolher 100 mil pessoas por ano. Ou seja, em média 274 pessoas utilizarão o aeroporto da Covilhã em cada dia do ano, quer dizer, dois voos (contando com chegadas e partidas) com a sua capacidade perto do limite de ocupação (+ ou - 64%). Mais, o presidente da autarquia considera o aeroporto "essencial para o desenvolvimento do concelho e de toda a região". Lê-se e não se acredita. Esperemos alguém o ponha na ordem! Ver mais.
- O presidente da Câmara de Castelo de Paiva, Paulo Teixeira, tornado mediaticamente, e não só, herói nacional quando da queda da ponte Hintze Ribeiro, é acusado pelo Ministério Público de crimes de burla qualificada, falsificação de documentos e uso de documentos falsos. O julgamento está marcado para 17 de Janeiro do próximo ano e o arguido incorre em pena de prisão até oito anos. Ver mais.
sexta-feira, outubro 20, 2006
Nespresso
quinta-feira, outubro 19, 2006
Benfica e Braga
- O Sporting de Braga sofreu hoje o resultado mais desnivelado desta jornada da Taça UEFA: 0-3, o mesmo do Benfica frente ao Celtic na "Champions", perante uma mediana equipa europeia (AZ Alkmaar).
- O 2º resultado mais desnivelado foi o acontecido no Austria de Viena - Zulte Waregem (1-4)
De lembrar que o Austria foi a equipa que o Benfica eliminou na pré-eliminatória da "Champions League".
Mau sinal, se nos lembrarmos que o Benfica é o maior clube português e o Sporting de Braga um dos clubes que mais apoios recebe a nível autárquico...
Judite Sousa vs Teixeira dos Santos
Duas questões chave sobre a entrevista de Judite Sousa ao Ministro das Finanças.
- Judite Sousa fez-se porta-voz dos sectores dos media, maioritariamente ligados ao PSD, que se têm vindo a assumir como a oposição de facto ao actual Governo: “cavalgando” a contestação sindical, amplificando o descontentamento ou aparente desconforto de alguns sectores do PS, assumindo, mesmo que de um modo soft, simpatias para com a posição de Alberto João Jardim, privilegiando, de modo relativamente superficial, os temas de curto prazo, do tipo “interpelação ao Governo”.
- Teixeira dos Santos demonstrou aquilo que começa já a ser óbvio: que o “calcanhar de Aquiles” da sua política é a reforma da Administração Pública. Parece não existir uma calendarização nem uma definição muito rigorosa dos vários passos do processo, uma quantificação precisa do número de funcionários a “afastar”, nem uma ideia muito clara do que se quer fazer e como. Não é de admirar, pois é, indiscutivelmente, a questão politicamente mais sensível, onde, portanto, esta assumirá um papel decisivo.
História(s) da Música Popular (10)
Do Rivoli, dos "Rivolucionários" e da "Rivolução"
quarta-feira, outubro 18, 2006
Marie Antoinette
PS: acho muito engraçado quando vejo escrito que um dos problemas foi Marie Antoinette casar com catorze anos e por motivos políticos, como se ambas as coisas não fossem normais para a época... Mais a mais, pertencendo Marie Antoinette à grande aristocracia europeia (era filha do Imperador Francisco I e de Maria Teresa de Áustria).
A GNR Contra a Droga.
terça-feira, outubro 17, 2006
When I Look at the Pictures - Lawrence Ferlinghetti (6)
In hintertime Praxiteles
laid about him with a golden maul
striking into stone
his alabaster ideals
uttering all
the sculptor’s lexicon
in visible syllables
He cast bronze trees
petrified a chameleon on one
made stone doves
fly
His calipers measured bridges
and lovers
and certain other superhumans whom
he caught upon their dusty way
to death
They never reached it then
You still can almost see
their breath
Their stone eyes staring
thru three thousand years
allay our fears of aging
although Praxiteles himself
at twenty-eight lay dead
for sculpture isn’t for
young men
as Constantin Brancusi
at a later hour
said
Poema de Lawrence Ferlinghetti para "Apolo Sauróctonos" de Praxiteles, 350-330 AC. Museu do Vaticano
História(s) da Música Popular (9)
segunda-feira, outubro 16, 2006
A Drª Fátima.
Professores...
- Seria assim muito estúpido se as escolas situadas em zonas problemáticas, ou onde a maioria dos alunos tivesse problemas de aproveitamento escolar, pudessem oferecer melhores condições de remuneração aos professores a contratar, permitindo, assim, a essas escolas, melhorar o nível dos seus quadros docentes?
- Se a Matemática e o Português são os problemas, não seria lógico que os planos de formação tivessem como "foco" principal os professores destas áreas (com prejuízo de outras, claro está), ao mesmo tempo que se lhes proporcionariam condições de trabalho e salariais mais compensadoras?
A Ministra Pires de Lima e o Rivoli
Depois das declarações do ministro Pinho na semana passada e perante estas da Drª Pires de Lima, parece, e já que estamos pelo norte, que é chegada a altura de o Governo aprender com o Sr. Pinto da Costa e entrar em blackout!
domingo, outubro 15, 2006
As Capas de Cândido Costa Pinto (8)
Das Origens da Corrupção no Portugal Democrático
Todos sabemos, excepto talvez George W. Bush e os seus conselheiros políticos, que nenhuma democracia sobrevive sustentadamente sem uma classe empresarial empreendedora e relativamente autónoma face ao estado, e sem uma classe média relativamente ampla e com um razoável nível de preparação educacional. Aliás, é a maior fragilidade destes elementos que faz com que nos países do sul da Europa as democracias tenham, na generalidade, tido mais dificuldade em se implantar e aprofundar os seus mecanismos e formas de funcionamento. Por sinal, são também estes os casos, se exceptuarmos as recentes democracias (ou muitas vezes nem isso) emergentes no leste europeu, em que a corrupção mais se instalou nos aparelhos políticos e no Estado, exercendo, de facto, uma influência política por vezes decisiva.
O que se passa em Portugal, a seguir ao 25 de abril de 1974, é que o país tem ainda, apesar do seu crescimento nos anos 60, uma classe média demasiado pequena em número e razoavelmente mal preparada. Depois das nacionalizações dos grandes grupos económicos, vê-se também perante uma classe empresarial em fuga e um tecido económico fragilizado. Após o 25 de Novembro, e se a democracia quer sobreviver nos seus pilares fundamentais, o regime terá de garantir não só um forte crescimento da classe média como enfrentar a necessidade de reconstituição de uma classe empreendedora dinâmica e de um tecido empresarial que o suporte. A adesão à então CEE é um elemento chave nessa estratégia, mas, num primeiro momento, os dois objectivos mencionados serão preferencialmente centrados, no caso do crescimento da classe média, num aumento progressivo do número de servidores do Estado e no desenvolvimento de uma pequena burguesia empreendedora “de província” ligada aos negócios autárquicos; no caso do empresariado, voltado a norte por questões conjunturais, pelo desenvolvimento das indústrias de exportação e das actividades de distribuição, sempre com apoio e protecção estatal acentuados. Para que isto se realize e o objectivo seja alcançado rapidamente, o estado e os governos, a nível nacional e local, terão, na maior parte das vezes, de “fechar os olhos” a actividades menos lícitas ou até pouco legais; outras vezes, mesmo, assumindo uma neutralidade “activa” ou até uma actuação, em menor ou maior grau, colaborante ou mesmo incentivadora. É aqui que se começam a estabelecer as actuais “redes de interesses” e de “tráfico de influência”, que se vão estendendo, aprofundando e assumindo novos contornos e um carácter qualitativa e quantitativamente mais gravoso e notório a partir de 1986, quando começam a fluir os fundos estruturais e a política de obras públicas se desenvolve. É também este ambiente mais ou menos “facilitador”, que abarca, por necessidade de sobrevivência e fortalecimento do regime, vastos sectores da sociedade portuguesa, que vai alastrando e impregnando um pouco “tudo e todos”, acabando por, em certa medida, se tornar normalidade.
Grande parte destas cumplicidades e “redes de favores”, que incluem de forma activa ou passiva largos sectores do aparelho político e judicial, subsistem ou deixaram sequelas até hoje, quando os objectivos que as determinaram estão em boa parte alcançados e, assim, a corrupção começa a passar de “solução” a “problema”. Mas dificilmente se pode começar a puxar a ponta do vestido sem que este se desfaça e o modelo fique nu, mostrando um corpo feio e com demasiadas rugas que se calhar ninguém quer ver, porque preferimos continuar a imaginá-lo belo. Ou seja, talvez seja necessário limitar o combate à corrupção (ou mantê-lo dentro de certos parâmetros “aceitáveis”) para que o regime sobreviva e respire sem grandes sobressaltos. Até porque sabemos as alternativas não existem ou são dolorosas podendo conduzir a resultados decepcionantes: o exemplo italiano aí está à nossa frente. Essa, e não outra qualquer, será, e utilizando uma expressão que fez história, a principal “força de bloqueio” desse combate. Suprema ironia...
"Grandes Portugueses" e "Grandes Alemães"
É que quando vejo no “Público” a votação na Alemanha daquela coisa idiota - que devia ter qualquer indicação, à laia de classificação ou aviso prévio, a dizer “atenção, nada disto é sério” - concurso ou lá o que é, de eleger os “grandes” de cada país (pensava que os “grandes” eram só os de Espanha), dou por mim com esta lista: em primeiro ficou Konrad Adenauer, seguido de Martinho Lutero. Karl Marx foi terceiro e Willy Brandt o quarto. Sétimo foi Gutenberg e Einstein o décimo. Parece que em Portugal o Senhor D. Afonso Henriques é forte candidato, não é?Meus caros amigos e companheiros de conversa(s): chega ou “querem ir a meças”?