terça-feira, outubro 31, 2006

Novos Hábitos...

Há exactamente quinze anos eu estava em S. Francisco. A meio tarde, entrei numa cafetaria para os lados do Financial District para café e sanduíche. Quando dei por mim, sentado ao balcão, olhei para o lado e tinha à minha direita o monstro de Frankenstein, cicatrizes e costuras, cor macilenta e algumas “teias de aranha” para dar um ar mais convincente. Hoje, pela primeira vez me tocaram à porta aqui em Lisboa, aí pelas sete e qualquer coisa, cinco ou seis crianças pintadas de cesto na mão onde já constavam alguns chocolates e moedas. Sem os deixar dizer o que quer que fosse, atalhei: a sweet or a trick? Riram-se, e como isto cá em casa não é muito de doces, lá levaram uma moeda e “zarparam” sorridentes. Novos hábitos!...

Clássicos do Cinema (7)

"Dracula" de Terence Fisher - 1958

Reforma da "Administração Pública"

Gostava de ver o Governo apresentar publicamente um PERT ("Program Evaluation and Review Technique") para o projecto de reforma da Administração Pública. A complexidade e importância do projecto (é, a par com o controle e diminuição do déficit público, o grande projecto deste governo) bem o justificaria, permitindo assim à oposição e aos cidadãos um controle permanente da sua implementação. Também não me parece ser pedir demais que o Governo explicite claramente os objectivos e estratégia para a educação, que me parecem estar subentendidos mas aparecem, aqui e ali, diluídos em medidas que podem parecer desligadas entre si e até podem passar, por vezes, por contraditórias. O momento podia ser aproveitado para uma avaliação, qualitativa e quantitativa, do caminho percorrido e uma análise do que falta percorrer.

Norman Rockwell and "The Saturday Evening Post" (2)

História(s) da Música Popular (12)




Twangs For The Memory
Pois vamos lá ao som instrumental que nem só de voz ( e dos seus hiccups e falsettos) se fez o rock n’ roll. Mas essencial para o rock instrumental foi a guitarra que vemos nesta fotografia, a célebre Fender Stratocaster, aquela que moldou os “twangs”, sons agudos, secos e metálicos que tão bem o caracterizam. Ela é, definitivamente, o seu símbolo. Foi por isso, mas também pelo seu preço bem mais acessível, que se popularizou em detrimento da sua grande rival, a Gibson Les Paul, mais à vontade nos graves e com um som mais suave e “cheio”, talvez mais adequado lá para as bandas do jazz. A “Stratocaster” foi lançada no mercado em 1954 (nem um ano antes ou depois do nascimento do rockabilly) e tornou-se guitarra de muitos nomes e paixões, tais como Buddy Holly, Hank Marvin (o dos “Shadows”), o “deus” Eric Clapton (começou por usar uma Gibson) e... Jimmy Hendrix, pois claro! E, como não podia deixar de ser, também de Dick Dale (“The King of Surf Guitar”), mas da surf music se fará outro capítulo, pois tem personalidade que sobre e bem merece o destaque.

Pois neste capítulo, e no que aos USA dizem respeito porque também o UK teve um papel de destaque nesta área, vamos falar de 4 – nomes – 4, começando por Link Wray & The Wraymen, o seu a seu dono, mas não deixando de fora, ou pelo caminho, Johnnie & The Hurricanes, Duane Eddy e, “Let It Be Drums”, Sandy Nelson. Link Wray nasceu (nestas coisas a incertitude faz parte da lenda) cerca de 1930, em North Carolina (“Nothing could be finer than to be in Carolina”...) Não sei se alguma vez terá cantado estes versos, quase como um hino das “Carolinas”, mas diz-se que a origem do seu som peculiar estará num lápis com o qual se entreteve a furar os altifalantes dos amplificadores para a gravação do one million-selling “Ramble”, tentando imitar o som de uma “zaragata”. Bom, “zaragatas” têm vários sons, mas parece que esta valeu bem o trabalho e o custo e Link Wray tornou-se assim, com este “Ramble” gravado em 1958, como que o pai fundador do rock instrumental. O meu CD de Link Wray é uma antologia e chama-se “Walk With Link” da Epic. Quanto ao rock instrumental nos USA haverá muitas e variegadas coisas. O que tenho aqui mais “à mão” chama-se “Twangs For The Memory” e é uma colectânea mid-price da Charly Records.

segunda-feira, outubro 30, 2006

O Mundo em Guerra (12)

UK & CW

Anglophilia (12)

"Turnbull & Asser", shirtmakers. 71, Jermyn Street - London

When I Look at the Pictures - Lawrence Ferlinghetti (8)

Seeing A Women As In A Painting By Berthe Morisot

Ah tes cuisses
as in an hour-glass
(through which all flesh flows)
at the café table now
you are living you are breathing
your bosom stirs
so slightly so lightly
belle plante bell jar
unaware of your self
full
of breath and life
not yet
awakened
I feel your breath so light
across the loud café
dear distant one
the time will come
or will not come
when we shall know
why we live ans why we love
the time will come
or will not come
when you’ll awake
from your deep dream of youth
the time will come or will not come
when we shall know
why all things pass
through the hour-glass
and why we are now here
in the late morning
listening to a juke-box Puccini
and looking away from each other
as if we did not know the musicas if we did not know the melody
Poema de Lawrence Ferlinghetti para "Tea" de Berthe Morisot, 1882 - Madelot Foundation, Liechtenstein

As cenas do "Sr". José Veiga

Sou benfiquista. Durante anos sócio com lugar cativo e frequentador das Assembleias Gerais e das votações com alguma assiduídade. Assisti à final com o Anderlecht, no Estádio da Luz, fui à final de Viena e só não fui a Stuttgard por impedimentos profissionais. Já tenho, desde a semana passada, bilhete comprado para o Celtic. Mas isso não me impede de afirmar que, apesar da ligeira melhoria dos resultados desportivos e da construção do estádio e do Centro de Estágio (sobre a situação financeira, a história é outra - ver post anterior sobre a proposta para uma Liga Ibérica), não me sinto representado pela actual direcção do clube e da SAD. Tenho vergonha das cenas da semana que antecedeu o jogo com o FCP e, principalmente, das cenas protagonizadas por José Veiga durante o jogo, em pleno estádio do FCP, com transmissão televisiva para que todos pudessem aquilatar da "rasquisse". Por isso acho - exijo - deve punido exemplarmente. Como benfiquista, como amante do futebol e como cidadão deste país e da União Europeia.

domingo, outubro 29, 2006

The Classic Era of American Pulp Magazines (12)

Capa de James Clark para "Sizzling Romances" (Julho de 1935).

"Prairie Home Companion"


Saudosista e “lamechas” o filme da Altman. Arrasta-se, sem nada a assinalar, o que nem a introdução de um ou dois dejà vues (o “anjo” e a morte de um dos intervenientes durante o último programa), consegue, por definição, alterar. Alguns clichés, como a fácil e bem sucedida adaptação da personagem mais jovem a uma nova vida, só contribuem para acentuar a ideia de falta de inspiração...Um ancião a contas com o fim da sua existência? Talvez, mas um exercício de exorcismo não é faz necessariamente um bom filme e nem sempre será interessante para terceiros. Salvam-se algumas imagens, no início e fim (as da “cafetaria”), que parecem saídas do “Nighthawks” de Hopper (aqui ao lado esqº). Enaltece-se o bom gosto!

sexta-feira, outubro 27, 2006

Manuela Ferreira Leite e o Estado

Tenho a Drª Ferreira Leite na melhor das contas (à parte esse pequeno problema de ser do Sporting), o que me fez sempre acreditar que o seu “falhanço” no governo Durão Barroso se terá devido mais a questões globais do funcionamento do próprio governo do que a ela própria. Por isso me custa um pouco ler estas suas afirmações.

Três notas:

- A questão das funções do Estado é política, e portanto não custa nada a quem não tem essas responsabilidades, e MFL actualmente não as tem, pelo menos de primeira linha, dizer algo que sabe ser politicamente inviável, desde que em termos técnicos isso faça algum sentido (e o que MFL diz até pode fazer algum sentido).

- Independentemente de considerações ideológicas, que por a questão ser política também fazem aqui todo o sentido, reduzir o Estado, em Portugal (e agora estamos já a falar de política, do real concreto), às meras funções de soberania faria cair o país numa crise política, social e económica sem precedentes. Penso ser inviável em democracia.

- Quanto a “introduzir no Estado critérios de gestão empresarial” (adaptando-os às funções deste, claro está) não poderia estar mais de acordo. Mas uma pergunta: a que critérios de gestão empresarial nos estamos a referir? Aos das multinacionais e de algumas das empresas portuguesas melhor geridas (normalmente as maiores ou em sectores de “ponta”) ou a uma multidão de empresas, maioritárias em Portugal, tão mal ou pior geridas que o Estado? É que se reconheço a muito má gestão do Estado, em termos médios, é conveniente que não se tome a nuvem por Juno e não se identifique, erradamente, a qualidade de gestão de algumas empresas de excelência com o modo como são geridas, em Portugal, a grande maioria das empresas privadas.

CTT - Venda Automática de Selos

Hoje em dia, com as novas tecnologias, raramente escrevo cartas, já que "e-mail", "Messenger" e "Skype" resolvem a contento a maioria dos problemas. Quando, muito raramente, tenho de recorrer aos serviços dos CTT é por razões diversas, e lá tiro a “senhazinha” e espero pacientemente a minha vez. Por acaso, hoje tinha duas cartas para pôr no correio, daquelas de menos de 20 gr e envelope rectangular, o mais "strandardizadas" possível, portanto. E pronto, aí vou eu aos correios aqui da zona, ali na “Saraiva de Carvalho” em frente do “British Hospital”, dirigindo-me de imediato a uma máquina de venda de selos (agora é mais o género “vinhetas”) que sabia existir “cá fora”. Procuro “correio azul nacional”, carrego no botão e espero que a máquina me pergunte quantos selos eu quero. Olho, miro e remiro e nada. Eu sei que a máquina não tem um ar lá muito “state of the art technology” e por isso lá me conformei com a compra dos selos “um a um”, depois de ela me informar que o custo de cada era 45 cents. Meto uma moeda de um euro e... zás, moeda devolvida pois “esta máquina só aceita quantia exacta”. Como, tal qual deve acontecer com a esmagadora maioria dos cidadãos, não tinha a quantia exacta, isto é, X vezes 45 cents, desisti e, um pouco “à má fila” (isto é, sem tirar senha), lá fui ao balcão pedir por favor me trocassem um euro em 2 x 45 cents mais os restantes 10 cents. Conclusão: máquina quase inútil, pois se a ideia é evitar “engarrafar” o balcão e diminuir o tempo de espera do utilizador dos serviços... “népia”! Ou quase “népia”... De repente, lembrei-me raramente ter visto a máquina a ser utilizada, o que sempre tinha achado um pouco estranho. Pergunta: O que aconteceu a quem decidiu da compra das máquinas? Terá chegado ao topo da carreira, sido promovido por antiguidade ou teve classificação de “muito bom”?

O Mundo em Guerra (11)

Japan

Anglophilia (12)

Prince of Wales Umbrella - Swaine, Adeney, Brigg & Sons, London

Os Portugueses e a Falta de Rigor

Algo que caracteriza bem os portugueses, em termos médios, claro está, que nestas coisas não se pode nem deve generalizar, é a falta de rigor que colocam em todas as suas actividades, quer profissionais ou outras, lúdicas ou do seu dia a dia. Por via disso, também desdenham de tudo o que lhes parece organizado e rigoroso em excesso, principalmente se vindo de fora das suas fronteiras. Não é, contudo, nada inato, ou ligado a alguma herança genética amaldiçoada, do tipo “The Curse of Ancient Portuguese”, mas algo que mergulha as suas raízes numa sociedade pouco competitiva e num mercado pouco exigente.

quinta-feira, outubro 26, 2006

The Classic Era of American Pulp Magazines (11)

Ilustração de Rafael De Soto para "Black Mask" (Novembro de 1942)

História(s) da Música Popular (11)



Continuando pelo Reino Unido, há algo mais de que ainda vale a pena falar. Um pouco mais tarde do que Cliff Richard, mesmo quando este já enveredava por outros caminhos e no período que é já de recessão do rock nos USA (e falaremos disso na devida altura), surge, em 1959, “Johnny Kidd and the Pirates”, para muitos os pioneiros do hard – rock inglês. Formados à volta do próprio Johnny Kidd (que morrerá num desastre de carro em 1966 – sempre a tragédia) e do guitarrista Mick Green, gravam em 1959 o seu primeiro single, “Please Don’t Touch”, e no ano seguinte aquele que viria quase a tornar-se no seu hino: “Shakin’ All Over” (nº 1 no UK), mais tarde objecto de cover versions por vários grupos entre os quais “The Who”. Para quem os viu, parece que eram excepcionais em concerto, “ao vivo”. Para quem, como eu, não os viu, aqui vai “Shakin’ All Over” gravado originalmente a 10 de Junho de 1960 e retirado do CD “The Classic And Rare, Johnny Kidd & The Pirates” editado em 1990 pela “See For Miles”. Have a nice time!

"Grandes Portugueses" - o meu voto

Ontem, depois de ter seguido a primeira parte de mais um episódio de “Dalziel and Pascoe”, na BBC Prime, e de jantar de seguida, procurei em dois ou três zappings rápidos dar com algo de visível na televisão. Debalde, já que a série “Edge of Darkness”, que agora repete na mesma BBC Prime, já por mim tinha sido vista em anterior passagem e, discordando da encomiástica crítica britânica, não é das minhas grandes preferências, pelo menos ao ponto de merecer revisão. Defeito meu, aceito.

Quando me preparava para desistir, desligando, eis se não quando dei com o tal programa dos “Grandes Portugueses, assim, com maiúsculas e tudo, e com a Srª Dona Maria Elisa, apresentando-o com uma maquilhagem que lhe dava o “ar” de quem mais parecia saída de um daqueles saudosos filmes de “Gothic Horror”, da Hammer Productions, dos anos 50. Desliguei mesmo, claro.

Mas como a noite é boa conselheira e dormir sobre os assuntos muitas vezes resolve melhor os problemas, achei que seria indigno do concurso (ou lá o que é, acho mais um ranking) passar sem a minha participação e que ela certamente lhe daria um muito maior brilho!!! Vai daí, cá me pus a pensar qual seria, e se existiria, um português digno do meu voto, que eu cá não o dou assim, do pé para a mão, ao primeiro que me aparecer á frente. Depois de muito pensar, pesando devidamente prós e contras (não, erro, este é o da Drª Fátima), pensei que o Senhor Dom Filipe (o II de Espanha, dizem, I de Portugal) poderia ser uma boa escolha, já que resolveu tomar conta disto antes que por cá desse tudo para o torto, mas mantendo a autonomia necessária para que não “chateássemos” muito. Pessoa avisada! Se a “coisa” tivesse resultado, andávamos hoje como a Catalunha, o País Basco e a Galiza a ver se nos víamos livres de Castela, o que era bem mais simpático aos olhos do mundo. Não era português? Que raio, pois se foi rei de Portugal e era neto do Senhor Dom Manuel...

Depois de ter passado pelo Senhor Miguel de Vasconcelos (desisti logo, pois escondeu-se num armário com papéis e eu cá não vou nessa de cobardias) descobri a solução: voto no Senhor Dom Manuel de Bragança. Porquê, perguntarão, que fez ele de especial? Que fez? Pois quando viu muita confusão, entregou as chaves de casa ao Sr. Afonso Costa e “bazou” (“deu de frosques”, preferem?) para Londres onde com certeza terá sido bem mais feliz, em Fulwell Park, a coleccionar livros e a receber monárquicos exilados. E, claro está, com a inestimável contribuição para essa felicidade da Senhora Dona Augusta Vitória e não só, pelo menos ao que consta que eu cá não sou de intrigas. Parece que teve um ponto fraco; teve saudades da pátria. Mas está desculpado, pois, certamente, foi só por nunca cá ter voltado! Voto nele, está decidido!

Sócrates e a Avaliação dos Professores

Segundo a TSF, José Sócrates mostrou-se entusiasmado com o acordo dos sindicatos relativamente ao modelo de avaliação dos professores incluído no novo Estatuto da Carreira Docente. Faz mal, porque os sindicatos não deram o seu aval ao sistema de quotas e isso retira qualquer conteúdo a um modelo sério de avaliação. Principalmente neste caso, dada a experiência passada.
No contexto, parece ser mais uma resposta aos que afirmam que a reforma do sector só pode ser feita com os professores (leia-se sindicatos). Também faz mal, porque pactuar com o disparate só pode dar origem a um disparate ainda maior.

quarta-feira, outubro 25, 2006

"Choque Ideológico"

Apenas uma nota para assinalar o regresso do "Choque Ideológico" da RTPN, de longe o melhor programa de debate político da televisão portuguesa (não sei se já voltou há mais tempo mas só ontem dei por ele). Comentadores qualificados e conhecedores, irreverentes e evitando o lugar comum e o superficial, de cultura sólida e com a necessária independência, isto é, essencialmente fiéis ás suas próprias ideias e ideais. Portugal devia ser assim mais vezes.
Ontem, no debate que opôs Mª de Fátima Bonifácio (que oiço sempre com interesse) e Viriato Soromenho Marques (que conhecia mal), de salientar, entre outros, um ponto interessante. Quando este tentou identificar Fátima Bonifácio com o ideário noliberal, salientando ver nesta corrente um dogmatismo idêntico ao do antigo ideário comunista, esta ter respondido que existiam diferenças, já que os neoliberais defendem a democracia e a liberdade. Curiosamente, têm ambos razão.

Outras Músicas (6)

"The Stars and Stripes Forever", de John Philip Sousa, (1854 - 1932) pela Dallas Wind Symphony.

When I Look at the Pictures - Lawrence Ferlinghetti (7)


SHORT STORY ON A PAINTING OF GUSTAV KLIMT


They are kneeling upright on flowered bed
He
has just caught her there
and holds her still

Her gown
has slipped down
off her shoulder

He has an urgent hunger
His dark head
bends to hers
hungrily

And the women the women
turns her tangerine lips from his
one hand like the head of a dead swan
draped down over
his heavy neck
the fingers
strangely crimped
tightly together
her other arm doubled up
against her tight breast
her hand a languid claw
clutching his hand
which would turn her mouth
to his
her long dress made
of multicoloured blossoms
quilted on gold
her Titian hair
with blue stars in

And his gold
harlequin robe
checkered with
dark squares

Gold garlands
stream down over
her bare calves &
tensed feet

Nearby there must be
A jewelled tree
with glass leaves aglitter
in the gold hair

It must be
morning
in a faraway place somewhere

They
are silent together
as in a flowered field
upon the summer couch
which must be hers

And he holds her still
so passionately
holds her head to his
so gently so insistently
to make her turn
her lips to his

Her eyes are closed
Like folded petals

She
will not open
He
is not the One

Poema de Lawrence Ferlinghetti para "The Kiss", 1907, de Gustav Klimt. Osterreichische Galerie, Vienna.

Rui Ramos e a "Crise do Suez"

Em artigo publicado no “Publico” de hoje (não linkável), Rui Ramos, historiador e uma das mais promovidas estrelas em ascensão da direita intelectual, afirma, a dado ponto, sobre a crise do Suez em 1956, que a intervenção franco - britânica dividiu o campo ocidental (o que está correctíssimo), “com os EUA irritados com o unilateralismo europeu”. Pois é, o querer “à força” justificar algumas das opções actuais dos seguidores da política externa da administração W. Bush com os factos passados tem destas coisas... Convenhamos que para um historiador explicar a História com o “bom ou mau humor” dos EUA, ou de qualquer outro país, é, pelo menos, insuficiente... A questão foi bem outra, e se esse unilateralismo “irritou” os EUA (ou melhor, se os EUA discordaram dessa intervenção) isso deveu-se pura e simplesmente a uma contradição política: a intervenção da França e da Grã Bretanha foi uma das últimas tentativas de afirmação dos respectivos impérios, e os EUA apostavam já no fim desses mesmos impérios e na divisão com a URSS dos seus despojos, sob a forma daquilo que se veio a chamar o neocolonialismo. Pois "que" não foram os “humores”; foi, e é, sempre, a política!

terça-feira, outubro 24, 2006

As Capas de Cândido Costa Pinto (11)

Capa de CCP para "O Círculo Vermelho" ("The Crimson Circle") de Edgar Wallace, nº 45 da "Colecção Vampiro".

Porque não uma 1ª Liga de Futebol Ibérica?

Fazendo contas ao números indicados pelo “Público”, o total de espectadores dos jogos da última jornada da 1ª liga em que os “grandes” não participaram foi de 17.053. Dividindo este número pelos seis jogos, isto vale uma média de 2.842 espectadores por jogo, sendo que a maior assistência foi de 4.423 espectadores, no Académica - D. das Aves, e a menor de 1.000, no V. de Setúbal - União de Leiria e no Belenenses – Paços de Ferreira. Isto significa que o número de espectadores do total destes seis jogos correspondeu a 65.4% da assistência do SLB – Estrela (26.084 espectadores), 45.9% do número de espectadores do SCP – FCP (37.136) e a 27% do conjunto de espectadores destes dois jogos. Para quem achava os novos estádios iriam trazer mais público... estamos conversados.
Sabendo que o número de espectadores dos jogos em que os “grandes” se deslocam ao campo dos adversários “pequenos” são aqueles em que estes conseguem ter um maior número de espectadores e que são eles que justificam as receitas de televisão destes últimos, estamos perante uma situação em que, de facto, os clubes pequenos “parasitam” os “grandes”, sendo estes a financiá-los não recebendo daí qualquer benefício. Acresce que todos os clubes, principalmente os “grandes”, estão basicamente falidos. Por exemplo, o SLB apresentou ontem um passivo de 152 milhões de euros (um crescimento de 20% e 26.1 milhões face ao último exercício) e, pior ainda, a dívida de curto prazo passou de 58 para 101 milhões. Não se percebe como irá recuperar. A situação de SCP e FCP já era por demais conhecida, sendo que o SCP é o único onde se pode verificar alguma preocupação com a possível resolução do problema ou, pelo menos, com a sua contenção. É o único onde se pode detectar algo de parecido com gestão. Tudo isto apesar das generosas contribuições estatais... Mais ainda, os clubes “grandes” não têm qualquer hipótese de crescimento previsível, no futuro, já que dominam mais de 95% do mercado. Mesmo a “canibalização”, entre eles, se afigura difícil, já que a “lealdade de marca” é muito elevada.
Que fazer então? A única possibilidade é conquistar mais mercado, atraindo um maior número de espectadores aos jogos e ás transmissões televisivas, o que só poderá ser feito se os “grandes” decidirem dar o único passo inteligente que lhes resta: jogarem o campeonato de Espanha. Passariam a ter um maior número de espectadores no estádio (é diferente jogar contra o Barça, Real Madrid, Valência, etc, ou jogar contra o Aves ou a Naval) e quanto a verbas de televisão nem vale a pena falar, já que o mercado não seria apenas a soma de Espanha + Portugal mas todo o Mundo. As receitas de merchandising seguiriam, claro está, o mesmo caminho. Inclusivamente, por via de uma maior e melhor concorrência, isso obrigaria os clubes portugueses a melhorarem decisivamente a sua gestão. Contras? Não vejo quais... É claro que nos primeiros dois ou três anos o trio SLB/SCP/FCP teria dificuldades em lutar para o título, mas logo que o alargamento do mercado, assim conseguido, começasse a dar os seus frutos, a capacidade competitiva acrescida depressa ultrapassaria o problema, colocando-os ao nível de clubes como o Valência e perto de R. Madrid ou Barcelona. Para Espanha também não vejo qual o problema, pois seria bem melhor, para a respectiva liga, contar com o trio português do que com o Espanyol, Nastic ou Recreativo de Huelva. Claro que há o problema UEFA, mas pelo menos valia a pena tentar. Até porque parece ser a derradeira hipótese.

Calçada Portuguesa

Já aqui há uns largos anos, descendo a Calçada do Ferragial (ou será rua?), descobri que a tão promovida calçada portuguesa era uma inimiga irredutível dos sapatos ingleses, daqueles cujo tacão é de couro ("sola") e têm apenas uma pequena incrustação de borracha (não, não são da John Lobb, infelizmente). Depois de várias escorregadelas e de um valente “malho”, passei, quando descia ruas inclinadas, a utilizar a faixa de rodagem, bem mais aderente. Ultimamente, já que ando agora mais “a pé”, descobri que também o era dos guarda chuvas, cuja ponteira fica invariavelmente presa entre as pedras da dita calçada, arriscando partir-se. Como se trata de um guarda chuva de estimação, da Swaine, Adeney, Brigg & Sons, com direito a royal warrant e tudo, se isso alguma vez acontecer (lagarto, lagarto) vá o professor Carmona preparando-se para receber lá a “continha”. Entretanto, esta é mais uma razão para desistir dos "passeios" e andar pela estrada. “Assim como assim”, os cãezinhos não andam pela estrada e, consequentemente, também não arrisco pisar algum dos seus “despojos”.

Anglophilia (11)

The English Picnic

O Mundo em Guerra (10)

Italy

Clássicos do Cinema (5)

"Rebel Without a Cause" de Nicholas Ray - 1955.

Marie Antoinette e Sofia Coppola


Ora aqui vamos, pois, ao filme de Sofia Coppola, conforme prometido e depois de visão obrigatória. Algumas questões prévias a clarificar:

1. Não se trata de um “drama histórico” ou de um filme de época – e por isso não pode ser analisado apenas enquanto tal -, mas, isso sim, de um tema que em nada é diferente dos anteriores filmes da autora (“As Virgens Suicidas” e “Lost in Translation”): os “desajustamentos”, os “síndromas” de “não pertença” do fim da adolescência, princípio da idade adulta. Era assim com as irmãs Lisbon de “As Virgens Suicidas”, desajustadas de uma família opressiva e de um ambiente conservador de uma pequena cidade americana, e era assim com “Lost in Translation”, com uma Scarlett Johansson desajustada de um casamento, numa terra estranha que ela dificilmente entende, ou um Bill Murray em crise de identidade no limiar da “terceira idade”. Desta vez coube a “Marie Antoinette”, rainha de França”, e não a uma personagem anónima, incarnar o papel, e aqui começam as complicações. E a pergunta será: até que ponto (e em que medida), não se tratando de um filme histórico mas lidando com personagens e situações que o são, esse rigor histórico pode ser, digamos, como que "ajustado", acentuando ou aligeirando facetas do perfil psicológico dos personagens em função do objectivo que se pretende atingir? Mas também há lugar a uma afirmação: é exactamente esse facto (o não se tratar de um filme histórico) que “obriga” Sofia Coppola a utilizar como base uma biografia (segundo dizem – não a li), de Antonia Fraser, “pouco rigorosa, popular e feminista, muito de acordo com o ar do tempo” (nas palavras de Vasco Pulido Valente no “Público”).


2. O casamento por amor é uma “criação” burguesa. A aristocracia casava por interesses políticos e/ou patrimoniais, e o povo para gerar filhos para contribuírem com o seu trabalho para o sustento doméstico (a palavra “proletário” vem de “prole”), por isso escolhendo companheiros(as) em função de capacidade de gerar filhos e defender a família. Em ambos os casos, existe a necessidade de casar cedo para que a mulher possa estar casada o maior número possível de anos durante a sua idade fértil, mais ou menos entre os 12 e os 40 anos ou menos porque se morria cedo, o que acontecia também com as crianças. Logo (ver post anterior sobre o mesmo tema), não faz qualquer sentido abordar o caso de Marie Antoinette do ponto de vista emocional, burguês, ou do ponto de vista da idade que tinha (14 ou 15 anos) quando do seu casamento. Por exemplo, e falando de um acontecimento da História de Portugal, o casamento “por amor” de D. Pedro I com Dona Inês de Castro pode ser visto, à luz dos valores e “modelos” vigentes na época, de facto, como uma “traição” aos interesses que um rei se obrigava a defender enquanto tal. Tudo o resto são as nossas “construções” burguesas posteriores. Assim sendo, ter amantes era como uma extensão natural, uma consequência dos casamentos políticos ou “patrimoniais”, não podendo a esse facto ser atribuída a carga negativa que lhe concede a moral burguesa dos nossos dias.

Having said this, vamos a factos:

1. Toda a primeira parte do filme tem uma clara carga política, embora eu não esteja certo do modo como em certas sequências isso possa transparecer para a maioria dos espectadores portugueses, razoavelmente pouco preparados, penso, na matéria (a História dada no secundário é maioritariamente uma fraude) e demasiado viciados nas revistas cor de rosa. Algumas cenas ajudarão à confusão. Toda a cerimónia da chegada à fronteira francesa tem um peso político indiscutível, quando Marie Antoinette se “despoja” de tudo o que é austríaco (até do nome) e agradece a um enviado do rei e do "delfim" lhe ter permitido encontrar a felicidade através do casamento, ao que este retribui agradecendo-lhe a ela ter permitido a felicidade da França. A cena é suficientemente ambígua para não se perceber se Marie Antoinette se refere à sua felicidade pessoal pelo “amor”, o que seria inverosímil, se por cumprir os objectivos políticos que lhe são destinados e que veremos com o fluir do filme a preocupam e ocupam. Menor ambiguidade, contudo, ressalta dos problemas da não consumação do casamento, onde me parece claro que a preocupação da então “dauphine” é apenas e só a questão política tout court. Já mais ambíguas me parecem ser as sequências do “vestir” e da noite de núpcias, que poderão induzir nos espectadores, aos olhos de hoje, não mais que a noção do ridículo e da adolescente “diferente” colocada perante o tal ambiente opressor e desconhecido, tão caro a Sofia Coppola, (no início do filme a futura rainha de França é alertada pela imperatriz Maria Teresa para as diferenças entre a corte de Versailles e de Viena), diluindo a sua carga política. Como a função da “dauphine” é essencialmente gerar um herdeiro, assegurando a continuidade dinástica e a consumação da aliança política que o casamento consubstanciava, estamos, também aqui, perante um acto eminentemente político, daí a cerimonial como a benção do leito conjugal e o acompanhamento dos noivos até ele por parte do rei e da corte. Já a cerimónia do “vestir” é apenas algo que permite uma afirmação de hierarquias, do acesso à "dauphine" por parte dos diversões escalões da aristocracia francesa, e a oportunidade para a realizadora, perante a incomodidade sentida por Marie Antoinette, afirmar as diferenças entre as duas cortes, acentuando, através disso, o tal sentimento de “desajuste”.


2. Contudo, toda a carga política se dilui de modo notório a partir da maternidade, o que faz algum sentido (Marie Antoinette tinha assim assegurado a sua principal função política), acentuando a vertente de jovem despreocupada e gastadora, frívola mas por vezes também entediada com a futilidade da corte. Sabemos que não se terá passado exactamente assim, e que a sua intervenção política não foi inexistente, mas é isto que permite a Sofia Coppola desenvolver o seu tema recorrente da “não pertença”. Permite-lhe também abrir o caminho para os acontecimentos de 1789, mas sobre isso há que acrescentar ainda algo que no filme não é claro:


A. A futilidade e a frivolidade não eram exclusivos da corte de Versailles. Toda a aristocracia, mesmo até aos nossos dias, tende a evidenciar frequentemente algumas dessas mesmas características, já que a sua continuidade e riqueza está assegurada pelo nascimento e não pelo seu "valor" intelectual. No entanto, existe algo que distingue Versailles e teve o seu papel histórico. A aristocracia francesa vivia na corte, em Paris e Versailles, enquanto a inglesa, por exemplo, vivia a maior parte do ano no campo. Isto determina, desde logo, algumas diferenças, como uma forma de vestir e de viver mais opulentas (o chique e coquette) na aristocracia francesa (ninguém, num ambiente de campo, poderia vestir-se e comportar-se como em Versailles), bem assim como o seu carácter mais frívolo e distanciado da realidade. Por outro lado, ao contrário do que parece pretender Sofia Coppola ao apresentar o rei frequentemente em caçadas, não se pode, de modo algum, incluir a caça no ror das futilidades. A caça era, para a aristocracia, o treino para a guerra em tempo de paz , e a política e a guerra eram os seus deveres, a sua profissão face aos direitos e regalias que lhe eram atribuídos pelo nascimento.


B. A intriga política é comum a... todos os ambientes políticos, tal como acontece hoje em dia nos bastidores do Parlamento, e a corte era-o por excelência. Nada nessa intriga, ao contrário do que parece pretender Sofia Coppola, remete para o campo da futilidade, embora o possa parecer quando reveste esse carácter aparente nas conversas entre as mulheres, que não têm acesso directo às decisões e por isso se servem politicamente da crítica social e do gossip.


C. Quanto à utilização de música “pop”, nada a dizer em desabono. Antes pelo contrário: parece-me essencial no acentuar de alguma situações, a cena do baile de máscaras, por exemplo.

Em resumo, o filme é suficientemente ambíguo para fazer o seu caminho. Quanto à verdade histórica, saio como entrei, ou não estivéssemos perante algo que não é de todo um filme “histórico”: Marie Antoinette é um erro de casting; alguém suficientemente mal preparado (era a filha mais nova) para o papel que lhe destinam numa corte muito diferente e num país em grave crise política e à beira do acontecimento mais determinante da sua História (e um dos mais importantes da História do mundo). Era a mulher errada no lugar errado. Tão mal preparada, aliás, quanto o seu marido, com a diferença que é austríaca, o que acentua os antagonismos... Por isso é ela que vai ser considerada o inimigo principal (é estrangeira e de um país tradicionalmente rival). Também por esse motivo acabam “engolidos” por essa própria História. Quantas vezes já a isso assistimos?

domingo, outubro 22, 2006

The Classic Era of American Pulp Magazines (10)

Capa de Rudolph Belarski para "Strange Stories" (Abril de 1939).

História(s) da Música Popular (11)




England, pois claro!

Pois é, e em Inglaterra? Será que o antigo colonizador ficou imóvel, refém das suas tradições ou deixou-se seduzir pela irreverência e pela cultura descomprometida e contestatária da sua antiga colónia, como tantas vezes acontece? Ninguém, que eu conheça, descreveu melhor a Inglaterra do pré-rock & roll, onde as novas formas culturais do pós-guerra, dos baby boomers, tardam em chegar mas onde existe uma atmosfera (there’s something in the air) que não engana, pronta a explodir à primeira centelha, do que Dennis Potter na sua série de televisão “Lipstick On Your Collar”; e, por alguma razão a última sequência do último episódio se detém à porta de um café ou bar do Soho de Londres: o "2i’s coffee-bar". A série acaba, pois, exactamente no local e no momento em que tudo muda e, assim, aquele que era o objecto da sua existência termina. Mas o que aconteceu exactamente no tal "2i’s coffee bar"? Pois foi aqui, em pleno centro de Londres, que, no rasto do movimento norte americano iniciado com Elvis Presley, emergiu a vaga do rock britânico sob o impulso de nomes como Billy Fury e... Sir Harry Rodger Webb, OBE (Índia 14 de Outubro de 1940) aka... Cliff Richard! Pois, parece impossível para quem assistiu aos últimos (ora deixem-me cá ver...) quarenta e tal anos da carreira “xaroposa” e desinteressante de tal personagem, mas Cliff Richard começou a sua carreira exactamente assim, como o rocker britânico de maior sucesso, autêntico émulo britânico de Elvis e outros que tais. Depressa se arrependeu, mas... foi bom (ou melhor, “assim-assim”) enquanto durou. Verdade que nunca teve sucesso nos USA, mas mais tarde alguém por ele se vingaria e cobrando juros muito, muito altos. Mas isto é já outra história.
Acompanhado do seu backing group “Drifters”, mais tarde “Shadows” para evitar confusão com os negros americanos com o mesmo nome “chefiados” por Clyde McPhatter, começou, como quase tudo o que é gente no UK, por tocar em grupos de skiffle (uma “mistura” de jazz, canções tradicionais e folk muito em voga no UK pré rock & roll e do qual o expoente máximo foi Lonnie Donegan) até conseguir um contrato para gravação com a EMI pela mão do produtor Norrie Paramor. No dia 24 de Julho de 1958 (que este não era ainda o tempo de grandes sofisticações) grava, nos futuramente ultra famosos estúdios de “Abbey Road”, duas faixas, um “A” side e um “B” side como era comum na altura. Como “A” side “Schoolboy Crush”, um cover de um original do americano Bobby Helms; como “B” side um original do ex “guitarra baixo” dos “Drifters”/”Shadows, Ian Samwell: “Move It”. Ninguém sabe muito bem como nem porquê (“ele” há versões para todos os gostos), os lados do single acabaram trocados e “Move It” passou a ser o lado “A”. Mas, isso sim é certo, assim se fez o primeiro êxito do rock britânico. Em 1959 (9 e 10 de Fevereiro) Cliff Richard volta ao estúdio para gravar o seu primeiro álbum (“Cliff”), que será “ao vivo” graças ao convite dirigido a umas centenas de fans. “Move It” será uma das faixas, incluindo o álbum covers de nomes tão importantes do rock & roll tais como Roy Orbison, Ritchie Valens, Gene Vincent e Buddy Holly, para além de compositores como a dupla Leiber-Stoller, responsável por alguns êxitos de Elvis Presley no início da sua fase RCA. Mas o início é quase o fim. O seu segundo álbum (“Cliff Sings”), para além de alguns covers de originais do rock americano (“Blue Suede Shoes” e “Pointed Toe Shoes”, de Carl Perkins, e “Twenty Flight Rock” de Eddie Cochran) já entra por caminhos de George e Ira Gershwin e inclui mesmo uma versão de “As time Goes By”. Outras músicas, pois claro! Pois fiquemo-nos por este “Move It”, gravado “ao vivo”, que não nos ficamos nada mal, chamando desde já a atenção também para alguns riffs de Hank Marvin na sua "Fender Stratocaster".

Um Outro Sindicalismo

A ler, sem falta, a entrevista de António Chora, coordenador da comissão de trabalhadores da "Autoeuropa", à "Pública" de hoje (não linkável). Um excerto:
"Doi-me quando vejo alguns sindicalistas a dizer "não" sem apresentar uma alternativa. Não conheço nenhum dirigente sindical a tempo inteiro que esteja desempregado, e assim é fácil fazer sindicalismo e dizer não a tudo".
Uma lufada de ar fresco, até porque António Chora demonstra conhecimentos do sector, dos seus problemas e da sua gestão (para além de um bom senso assinalável) a que não estamos mesmo nada habituados nos nossos sindicatos e organismos representativos dos trabalhadores. Um exemplo.

sábado, outubro 21, 2006

As Capas de Cândido Costa Pinto (10)

Capa de CCP para "Um Crime no Expresso do Oriente" ("Murder On The Orient Express") de Agatha Christie, nº 13 da "Colecção Vampiro".

Duas Notícias (quase) Perdidas

Duas notícias interessantes, hoje no "Público", perdidas nas páginas interiores do jornal.
  1. A Câmara da Covilhã prepara-se para construir um aeroporto com uma pista de 2,4 km, para aviões até 110 lugares e com capacidade para acolher 100 mil pessoas por ano. Ou seja, em média 274 pessoas utilizarão o aeroporto da Covilhã em cada dia do ano, quer dizer, dois voos (contando com chegadas e partidas) com a sua capacidade perto do limite de ocupação (+ ou - 64%). Mais, o presidente da autarquia considera o aeroporto "essencial para o desenvolvimento do concelho e de toda a região". Lê-se e não se acredita. Esperemos alguém o ponha na ordem! Ver mais.
  2. O presidente da Câmara de Castelo de Paiva, Paulo Teixeira, tornado mediaticamente, e não só, herói nacional quando da queda da ponte Hintze Ribeiro, é acusado pelo Ministério Público de crimes de burla qualificada, falsificação de documentos e uso de documentos falsos. O julgamento está marcado para 17 de Janeiro do próximo ano e o arguido incorre em pena de prisão até oito anos. Ver mais.

sexta-feira, outubro 20, 2006

Nespresso

Subrepticiamente, uma nova praga começa a invadir a casa dos cidadãos. Começou por ser apenas uma ameaça vaga, velada, aparecendo aqui e ali de modo tímido, quase se desculpando. Depois foi perdendo a vergonha e começou mesmo a despontar onde menos se esperaria, em algumas das casas mais tradicionalmente insuspeitas. Mesmo naquelas que visito mais vezes e onde, por isso, consegui impor o direito ao meu açúcar de eleição, em cristais tal qual diamantes escuros e em bruto. Pronto, nada a fazer, agora passei a ter de suportar café em pastilhas e com dois dedos de espuma. Onde irá parar o prazer de moer o café, de impregnar a casa com o seu cheiro, o cheiro das lojas de chás e cafés da minha infância e que hoje, aqui e ali, ainda subsiste? E o ritual do balão, hipnotizador seguro de olhares á volta da mesa nos jantares de família? Não! Não e cem vezes não! Em minha casa, essa coisa chamada Nespresso, sucessor envergonhado do “nãoéscafénemésnada”, jamais, em tempo algum entrará. E então os meus “Moka Harrar” ou “Colômbia Supremo” comprados em grão e moídos au fur et à mesur? Ou mesmo os “Kona Coffee” (chama-se mesmo assim), quando me destino um momento de indulgência já que o “Jamaica Blue Mountain” tem preço capaz de fazer corar de vergonha qualquer multimilionário recente? Pois é, estão a tentar roubar-me o prazer das coisas, das minhas coisas mais minhas, se me permitem a expressão, mas estão condenados ao fracasso. Enganados, redondamente enganados. Nespresso? É que nem morto, ouviram!?

Outras Músicas (5)

Jacques Brel (1929-1978). "Les Bonbons".

Clássicos do Cinema (4)

"Senso" de Luchino Visconti - 1954

O Mundo em Guerra (10)

USSR

quinta-feira, outubro 19, 2006

Benfica e Braga

  • O Sporting de Braga sofreu hoje o resultado mais desnivelado desta jornada da Taça UEFA: 0-3, o mesmo do Benfica frente ao Celtic na "Champions", perante uma mediana equipa europeia (AZ Alkmaar).
  • O 2º resultado mais desnivelado foi o acontecido no Austria de Viena - Zulte Waregem (1-4)

De lembrar que o Austria foi a equipa que o Benfica eliminou na pré-eliminatória da "Champions League".

Mau sinal, se nos lembrarmos que o Benfica é o maior clube português e o Sporting de Braga um dos clubes que mais apoios recebe a nível autárquico...

Judite Sousa vs Teixeira dos Santos

Duas questões chave sobre a entrevista de Judite Sousa ao Ministro das Finanças.

  • Judite Sousa fez-se porta-voz dos sectores dos media, maioritariamente ligados ao PSD, que se têm vindo a assumir como a oposição de facto ao actual Governo: “cavalgando” a contestação sindical, amplificando o descontentamento ou aparente desconforto de alguns sectores do PS, assumindo, mesmo que de um modo soft, simpatias para com a posição de Alberto João Jardim, privilegiando, de modo relativamente superficial, os temas de curto prazo, do tipo “interpelação ao Governo”.

  • Teixeira dos Santos demonstrou aquilo que começa já a ser óbvio: que o “calcanhar de Aquiles” da sua política é a reforma da Administração Pública. Parece não existir uma calendarização nem uma definição muito rigorosa dos vários passos do processo, uma quantificação precisa do número de funcionários a “afastar”, nem uma ideia muito clara do que se quer fazer e como. Não é de admirar, pois é, indiscutivelmente, a questão politicamente mais sensível, onde, portanto, esta assumirá um papel decisivo.

The Classic Era of American Pulp Magazines (9)

Ilustração atribuída a Peter Driben para "French Night Life Stories" (Agosto de 1934).

Anglophilia (10)

História(s) da Música Popular (10)




E então isto entre brancos e pretos, tragédias e mais tragédias, é só “negócio” de homens, de “machos” ou as mulheres também por aqui andaram, têm algo a dizer? Bom, lá ter, têm, mas em abono da verdade digamos que não muito. É que eu não conhecia sequer Janis Martin (never heard, teria dito se alguém a mencionasse), até que, numa das muitas incursões pela “Tower Records” de Piccadilly Circus dei de caras com semelhante personagem, sob a forma de um CD da "Bear Family Records": “Janis Martin, The Female Elvis – Complete Recordings 1956-60. E como nisto de love at first sight o melhor é não aprofundar lá muito, comprei o CD sem ouvir, com certeza incluído num “pacote” de mais dez ou vinte que então não fazia a “coisa” por menos. Janis Martin é uma Virginiana, não virgem, pois que eu viesse a saber casou pelo menos duas vezes, e nasceu a 27 de Março de 1940, numa família de gente ligada às performing arts, o que sempre é uma boa ajuda. Quando gravou o seu primeiro single, em 1956, tinha pois apenas 15 anos e fê-lo logo para a RCA de Elvis Presley. Chamava-se ele “Will You Willyum”, composto por dois apresentadores da estação de rádio WRVA, e tinha como flip side “Drugstore Rock’n Roll”, composto pela própria Janis. Casamentos, amores e desamores, complicaram-lhe a carreira e, tal como a maioria dos seus companheiros de estrada desta primeira fase do rock, entre tragédias e escândalos, mais contra ataques ferozes do conservadorismo americano dos anos cinquenta, entra numa clara fase de fade out, abandonando estas vidas, pelo menos a tempo inteiro e dedicação exclusiva, em 1960. Mas não sem que, antes disso, não tivesse ainda tempo para ser considerada “The Most Promising Female Artist of 1956”. “Will You Willyum” vendeu 750.000 cópias. Nada mal, para a época.

Do Rivoli, dos "Rivolucionários" e da "Rivolução"

Sejamos claros: sem o apoio do Estado, seja ele o central ou o autárquico, isto é, sem uma política de subsídios claramente definida e assumida, a oferta e a produção cultural sofrerão uma drástica diminuição qualitativa e quantitativamente falando. O que não é exclusivo, pois sem o apoio estatal grande parte das empresas portuguesas verão a sua competitividade afectada ou mesmo a sua existência em risco, os clubes de futebol (as instituições mais subsidiadas da sociedade portuguesa) desaparecerão, o emprego, principalmente no interior e nas zonas mais deprimidas, cairá a pique e muitas pessoas decerto não sobreviverão. É o país que temos, dependente, periférico que gerou uma sociedade civil fraca, uma classe média incipiente, um sentido de empreendorismo perto do zero absoluto. Alguns sinais, muito ténues, de mudança podem ser contudo entrevistos numa nova geração hoje com menos de trinta anos, principalmente no meio empresarial e dos negócios, tendo como núcleo catalizador uma geração cujos elementos mais destacados estudaram no estrangeiro, em sociedades muito mais dinâmicas, mas eles são ainda incipientes e facilmente condenados á diluição num país e numa estrutura que não favorece a iniciativa e a mudança. Isto vem a propósito do Rivoli (com ou sem o anel de “rubi” do Rui Veloso), claro, situação que leva uma vez mais a que se defrontem no terreno (muito) e no campo das ideias (poucas e demagógicas), os críticos da "subsídio dependência" e os promotores da iniciativa cultural estatal. Sejamos uma vez mais claros: é um falso dilema. Porque se, em Portugal, a ausência de um papel do Estado na dinamização da oferta e produção culturais levará ao seu definhamento reduzindo-a, no limite, às peças de teatro de Lá Féria, isso não significa nem que esse papel não se venha tendencialmente a atenuar, nem que essa intervenção não seja pautada por regras claras de rigor, baseadas na apresentação de projectos sólidos, redução do seu número, avaliação permanente da sua execução e das suas despesas e fortes incentivos/imperativos à procura de soluções exteriores a esses mesmos subsídios, mormente no que se refere ao “mecenato”. Pois é, eu sei que isto é lirismo e que tudo se passa dentro de um círculo vicioso de “amiguismo” e tráfico de influências do tipo “amigo ajuda amigo hoje para ser ajudado amanhã” e que avaliadores e avaliados são duas faces da mesma moeda, com valores e princípios idênticos que por vezes se vão inclusivamente trocando, ao longo do tempo. E ainda há a propaganda, claro... a viciação no subsídio e a falta de coragem política do Estado para pôr cobro a situações como a de Belgais, por exemplo, o melhor argumento que já foi dado aos defensores do subsídio “zero”, que, legitimamente, nem sequer penso existirem fora das oposições, do papel ou dos monitores. Mas não me parece, sem que a demagogia faça o seu caminho, que a solução possa ser encontrada dentro de um outro quadro. Querer, como José Pacheco Pereira (“Público” de hoje não “linkável”) voltar aos anos sessenta do século XX, ao Cineclube Universitário, à Juventude Musical e ao TEP, às óperas que iam ao Porto (hoje, óperas populares, ou, mais propriamente, os respectivos herzatz, vão ao Estádio Nacional) e, porque não, regressar às “sessões clássicas” do Império ou do Monumental é apenas melancolia nostálgica ou uma “mãozinha” dada ao amigo Rui Rio. JPP sabe quanto o mundo mudou, que as "elites" cultas que apoiavam alguma dessas iniciativas se foram extinguindo e que tudo isso não é repetível no mundo de hoje. Sabe também, melhor do que ninguém, que grande parte dessas actividades eram formas “para legais” que a militância política oposicionista assumia, muitas vezes sob a égide do PCP, e que assistir e participar era também uma forma de protesto e luta. Mas o que é mais estranho é que esta posição receba de facto boas ajudas de onde menos se espera... A “lamechisse” lamurienta e os disparates palavrosos do “representante” dos “okupas” do Rivoli hoje na TSF, ao referir-se à intervenção da PSP, legal e pautada pelas mais elementares regras do bom senso, profissionalismo e uso proporcionado da força, deixou-me muito seriamente a pensar se “aquela gente” é merecedora do esforço que a sociedade que paga as suas contribuições e impostos faz para que possam exercer, criativamente, a sua profissão...

quarta-feira, outubro 18, 2006

Marie Antoinette

Parece que se estreia amanhã “Marie Antoinette” de Sofia Coppola. Opinião sobre o filme ficará para depois, embora espere da realizadora tanto como esperei depois da primeira visão de “As Virgens Suicidas”, ou seja, muito. Não me desiludiu, antes pelo contrário, quando continuou com “Lost in Translation”, de visão revigorante. Mas o que fica para dizer agora é que quando penso em Marie Antoinette (a rainha) não consigo deixar de pensar em Lady Diana Spencer, comparação que Sofia Coppola aliás fez, embora acrescentando-lhe Paris Hilton o que eu já acho completamente a despropósito. Ambas, cada uma em sua época, são clamorosos erros de casting ditados pelas circunstâncias políticas. Mostraram-se impreparadas e não souberam adaptar-se às suas novas funções. Não souberam lidar com a “pressão”. Acabaram em tragédia.

PS: acho muito engraçado quando vejo escrito que um dos problemas foi Marie Antoinette casar com catorze anos e por motivos políticos, como se ambas as coisas não fossem normais para a época... Mais a mais, pertencendo Marie Antoinette à grande aristocracia europeia (era filha do Imperador Francisco I e de Maria Teresa de Áustria).

O Mundo em Guerra (9)

Germany

As Capas de Cândido Costa Pinto (9)

Capa de CCP para "Fumo Sem Fogo" ("Fumées Sans Feu") de Jacques Decrest, nº 60 da "Colecção Vampiro"

A GNR Contra a Droga.

Ele há dias assim. Não sei se por via de excelente jantar ontem em casa de amigos, se em resultado de café à hora de almoço nas Amoreiras e dois dedos de conversa descontraída com amiga próxima, se em resultado de derrota do meu glorioso contra equipa às riscas verdes e brancas no mesmo dia em que “tripeiros” despachavam o Hamburgo “sem pele e sem espinhas”, não me apetece escrever e muito menos pensar. Pronto, estas coisas acontecem aos melhores! Mas talvez seja também porque estou farto da greve dos professores (espero que eles também se fartem), da luta dos ocupantes do Rivoli contra o Dr. Rio, um pouco ao estilo “Django contra Sartana” (felizmente que a Drª Pires de Lima se calou), de ter de ouvir o Secretário de Estado da Indústria dizer que “não sei quantos mais” a electricidade vai aumentar um “balúrdio” e a culpa é dos consumidores (conselho, Eng. Sócrates: blackout com eles!) com resposta (imaginem!!!) do Dr. Patinha Antão (pior a emenda...), de ter de ler o Dr. Frasquilho (o do choque fiscal!) a perorar sobre o Orçamento de Estado, não sei... E, pior do que isto, ver e ler na “blogosfera” textos ditados por posições apriorísticas e opções há longo tempo tomadas, tipo “estou na minha barricada”, em vez de um esforço de análise ditado por um qualquer pensamento. Militância, militância... Ah, mas finalmente vi algo de que me apetece falar: a GNR (ah, “valentassos”!!!) deteve um cidadão que transportava quinhentas doses de haxixe. Quinhentas doses, o malandro, que não fazia a coisa por menos... Até pensei que ia dormir mais descansado, mas depois lembrei-me que seria melhor ter cuidado, não fosse um dia destes, quando e se as transportasse, a GNR lembrar-se de me apreender umas “garrafitas” que para ali tenho de um Dão Pipas dos anos 60, á espera de ocasião e companhia propícia para serem abertas. É que à falta do dito haxixe, a gente nunca sabe onde pode chegar o zelo...
PS: afinal descobri agora que eram só 488... Alguém encontra por aí as outras doze?

O Mundo em Guerra (8)

UK & CW

terça-feira, outubro 17, 2006

Clássicos do Cinema (3)

King Kong, de Merian C. Cooper - 1933

When I Look at the Pictures - Lawrence Ferlinghetti (6)

In Intertime Praxiteles

In hintertime Praxiteles
laid about him with a golden maul
striking into stone
his alabaster ideals
uttering all
the sculptor’s lexicon
in visible syllables
He cast bronze trees
petrified a chameleon on one
made stone doves
fly
His calipers measured bridges
and lovers
and certain other superhumans whom
he caught upon their dusty way
to death

They never reached it then

You still can almost see
their breath
Their stone eyes staring
thru three thousand years
allay our fears of aging

although Praxiteles himself
at twenty-eight lay dead

for sculpture isn’t for
young men
as Constantin Brancusi
at a later hour
said

Poema de Lawrence Ferlinghetti para "Apolo Sauróctonos" de Praxiteles, 350-330 AC. Museu do Vaticano

História(s) da Música Popular (9)




Ora vamos lá acabar com as tragédias, que de alegria e bem estar também se faz o mundo. Gene Vincent (Virgínia, 1935-1971), embora de forma mais ligeira – digamos assim - não deixa de estar por elas marcado, já que acompanhava Eddie Cochran no fatídico dia 17 de Abril de 1960 quando o táxi em que ambos seguiam de despistou a caminho do aeroporto de Heathrow, Londres, matando Eddie e deixando Gene Vincent entregue à dor física e psíquica para o resto da sua, curta, vida. Mas a tragédia já vem de trás, do tempo da “tropa”, quando um ferimento na perna lhe causará dor e incómodo para os anos vindouros. Que não serão muitos, diga-se, apenas onze. Será esta a razão do seu comportamento provocatório, a roçar a violência, durante os seus espectáculos, e não só? Da sua obsessão pelo perfeccionismo? Foi também ele que divulgou o look “rough” que viria a definir os rockers para todo o sempre: o cabelo com brilhantina, os jeans justos e as calças e blusões de cabedal. Mas será também por isso que ficará a ser conhecido para esse mesmo todo o sempre. Por isso, e também por este “Be Bop A Lula”, que canta com o apoio dos seus “Blue Caps”. Será uma canção emblemática do rock & roll, com cover versions de gente importante, de "algo", como a do seu amigo Eddie Cochran, de Jerry Lee Lewis, dos Everly Brothers, de Cliff Richard e.... dos “Beatles”, pois claro, nos seus tempos do rock “puro e duro” das docas de Hamburgo. Parece que também uma figura chave do rock instrumental, infelizmente quase desconhecida em Portugal, (Link Wray) por lá andou, coisa que acabei neste momento de descobrir (a investigação tem destas surpresas). Mas vou informar-me e lá iremos, nos capítulos dedicados ao rock instrumental onde Link Wray (& The Wraymen) terão o muito merecido destaque. !Senhoras e senhores, meninas e meninos, palmas, pois, para Gene Vincent e para o “seu” “Be Bop A Lula”.

segunda-feira, outubro 16, 2006

Anglophilia (9)

His Royal Highness The Duke of Edinburgh

His Royal Highness The Prince of Wales

Her Majesty the Queen

A Drª Fátima.

Pronto, confesso, tenho um problema: não consigo dizer mal da “Drª Fátima” (é assim que os entrevistados ou “convidados" a tratam). Não que já não tenha arduamente tentado rebuscar coragem lá no fundo do cérebro ou da alma, indagado antepassados em sessões de espiritismo, antigas namoradas com vagas semelhanças físicas, mas nada. “Prontos”, resta-me confessar esta fraqueza: que raio, um homem também não é perfeito. É que já andei pelos livros do doutor Segismundo buscando explicações, consultei psicólogos encartados, busquei no passado razões para não o fazer, tentei lembrar-me mesmo de traumas de infância e não encontro explicação. É que já começo mesmo a ter problemas, pois no meu círculo mais reservado, entre amigos e família, o assunto já é glosado em tons e dons de meia voz, imaginando cenas impróprias ou elucubrando, sabe-se lá, actos de intimidade chocante. Mas não: juro! Não que seja um espectador assíduo, exceptuando quando de Economia se trata que é assunto que me toca mais de perto, ou quando alguém mais interessante por lá vai debitando, mas isso torna-se cada vez mais raro e até já consegui ver o Dr. Beleza, pessoa que admiro e respeito desde os tempos lá da escola, “piropiar” a Drª Costa Lobo, fazendo triste figura. Confesso que aí hesitei, achei que o programa tinha esse “dom”, de transtornar as pessoas mais sensatas transformando-as por vezes em afoitos Porfírios Rubirosas, mas logo me arrependi. Se por acaso o programa tinha esse “dom”, culpa da Drª Fátima não seria. E de repente lembrei-me! Pronto, cá está a explicação. É que isto de transformar um programa de debate político em programa de entretenimento ou de entretenimento em programa de debate político, acabando por não ser nem uma coisa nem outra, ou mesmo coisa nenhuma, requer skills and capabilities que o mais inteligente dos mortais não possui. É obra, meus senhores, é obra! É preciso ser “fino” como dizem lá no norte! E quem de facto o poderá fazer? Quem poderá navegar nesse limbo, nessa thin red line, nesse funâmbulismo em saltos altos, nessa terra do nunca ou de coisíssima nenhuma também? Nesse “faz de conta” sem alma? Quem poderá não ter medo do ridículo? Quem, quem? Pois a Drª Fátima, "carago"!

The Classic Era of American Pulp Magazines (8)

Ilustração de H. J. Ward para "Spicy Detective" (Novembro de 1942).

Professores...

Expliquem-me:
  • Seria assim muito estúpido se as escolas situadas em zonas problemáticas, ou onde a maioria dos alunos tivesse problemas de aproveitamento escolar, pudessem oferecer melhores condições de remuneração aos professores a contratar, permitindo, assim, a essas escolas, melhorar o nível dos seus quadros docentes?
  • Se a Matemática e o Português são os problemas, não seria lógico que os planos de formação tivessem como "foco" principal os professores destas áreas (com prejuízo de outras, claro está), ao mesmo tempo que se lhes proporcionariam condições de trabalho e salariais mais compensadoras?

A Ministra Pires de Lima e o Rivoli

Não conheço em pormenor a questão que opõe os “ocupantes” do "Rivoli" à Câmara Municipal do Porto. Por isso, não sei quem tem razão e não tomo partido. Apenas acho que já era altura dos nossos concidadãos “tripeiros” começarem a dar sinais de terem alguma capacidade de se auto-gerirem e não arranjarem problemas de cada vez que se metem em algum projecto novo com alguma dimensão. É que “ele” foi a “Casa da Música”, o Estádio, o “Metro”, o “Túnel” não sei de onde, enfim, um ror de coisas a sobrar por todos os lados tal qual barriga grande em calças dois números abaixo. Having said this, devo contudo dizer que acho a actuação da Ministra Pires de Lima no processo absolutamente desastrada! Mandaria a mínima noção de solidariedade institucional entre dois orgãos de estado (Ministério e autarquia), e já agora de bom senso, que a Srª Ministra, se queria de facto intermediar o processo antes de vir para a TSF ter os seus dois minutos de glória dizendo que até achava a ideia da ocupação original, falasse primeiro com a CMP e tentasse, junto dela, através de uma actuação discreta mas eficaz, influenciar o andamento do processo no sentido que considerasse mais correcto. Assim, como o fez, perdeu uma boa parte da sua independência, logo, dessa mesma capacidade de intermediação que diz querer assumir.
Depois das declarações do ministro Pinho na semana passada e perante estas da Drª Pires de Lima, parece, e já que estamos pelo norte, que é chegada a altura de o Governo aprender com o Sr. Pinto da Costa e entrar em blackout!

domingo, outubro 15, 2006

Outras Músicas (4)

Bessie Smith "The Empress of the Blues" (1894-1937). "You Gotta Gimmie Some".

As Capas de Cândido Costa Pinto (8)

Capa de CCP para "Crime no Campo 127" ("Death in Captivity") de Michael Gilbert, nº 82 da "Colecção Vampiro"

Das Origens da Corrupção no Portugal Democrático

Sejamos claros: a corrupção está inscrita no código genético da nossa democracia. Pena, mas é assim mesmo.

Todos sabemos, excepto talvez George W. Bush e os seus conselheiros políticos, que nenhuma democracia sobrevive sustentadamente sem uma classe empresarial empreendedora e relativamente autónoma face ao estado, e sem uma classe média relativamente ampla e com um razoável nível de preparação educacional. Aliás, é a maior fragilidade destes elementos que faz com que nos países do sul da Europa as democracias tenham, na generalidade, tido mais dificuldade em se implantar e aprofundar os seus mecanismos e formas de funcionamento. Por sinal, são também estes os casos, se exceptuarmos as recentes democracias (ou muitas vezes nem isso) emergentes no leste europeu, em que a corrupção mais se instalou nos aparelhos políticos e no Estado, exercendo, de facto, uma influência política por vezes decisiva.

O que se passa em Portugal, a seguir ao 25 de abril de 1974, é que o país tem ainda, apesar do seu crescimento nos anos 60, uma classe média demasiado pequena em número e razoavelmente mal preparada. Depois das nacionalizações dos grandes grupos económicos, vê-se também perante uma classe empresarial em fuga e um tecido económico fragilizado. Após o 25 de Novembro, e se a democracia quer sobreviver nos seus pilares fundamentais, o regime terá de garantir não só um forte crescimento da classe média como enfrentar a necessidade de reconstituição de uma classe empreendedora dinâmica e de um tecido empresarial que o suporte. A adesão à então CEE é um elemento chave nessa estratégia, mas, num primeiro momento, os dois objectivos mencionados serão preferencialmente centrados, no caso do crescimento da classe média, num aumento progressivo do número de servidores do Estado e no desenvolvimento de uma pequena burguesia empreendedora “de província” ligada aos negócios autárquicos; no caso do empresariado, voltado a norte por questões conjunturais, pelo desenvolvimento das indústrias de exportação e das actividades de distribuição, sempre com apoio e protecção estatal acentuados. Para que isto se realize e o objectivo seja alcançado rapidamente, o estado e os governos, a nível nacional e local, terão, na maior parte das vezes, de “fechar os olhos” a actividades menos lícitas ou até pouco legais; outras vezes, mesmo, assumindo uma neutralidade “activa” ou até uma actuação, em menor ou maior grau, colaborante ou mesmo incentivadora. É aqui que se começam a estabelecer as actuais “redes de interesses” e de “tráfico de influência”, que se vão estendendo, aprofundando e assumindo novos contornos e um carácter qualitativa e quantitativamente mais gravoso e notório a partir de 1986, quando começam a fluir os fundos estruturais e a política de obras públicas se desenvolve. É também este ambiente mais ou menos “facilitador”, que abarca, por necessidade de sobrevivência e fortalecimento do regime, vastos sectores da sociedade portuguesa, que vai alastrando e impregnando um pouco “tudo e todos”, acabando por, em certa medida, se tornar normalidade.

Grande parte destas cumplicidades e “redes de favores”, que incluem de forma activa ou passiva largos sectores do aparelho político e judicial, subsistem ou deixaram sequelas até hoje, quando os objectivos que as determinaram estão em boa parte alcançados e, assim, a corrupção começa a passar de “solução” a “problema”. Mas dificilmente se pode começar a puxar a ponta do vestido sem que este se desfaça e o modelo fique nu, mostrando um corpo feio e com demasiadas rugas que se calhar ninguém quer ver, porque preferimos continuar a imaginá-lo belo. Ou seja, talvez seja necessário limitar o combate à corrupção (ou mantê-lo dentro de certos parâmetros “aceitáveis”) para que o regime sobreviva e respire sem grandes sobressaltos. Até porque sabemos as alternativas não existem ou são dolorosas podendo conduzir a resultados decepcionantes: o exemplo italiano aí está à nossa frente. Essa, e não outra qualquer, será, e utilizando uma expressão que fez história, a principal “força de bloqueio” desse combate. Suprema ironia...

"Grandes Portugueses" e "Grandes Alemães"

Costumo dizer, em conversas de salão e quando isso vem a propósito, que a “Alemanha se vende muito mal”. Isto porque em Portugal, e penso que não será muito diferente em outros países europeus, quando se fala da Alemanha, o que de imediato nos assalta mente e espírito são o "militarismo" prussiano, e sua expressão prática em Portugal na pessoa do senhor conde de Lipp, e as imagens do nazismo e do horror do holocausto, muito embora nos deliciemos esteticamente com o “Triumph Des Willens” de fraulein Riefenstahl e do seu Reichsparteitag de 1934. Como tenho a Alemanha e os alemães em razoável conta – tanto quanto isso se pode generalizar - contra-ataco de imediato com a música, o expressionismo e a filosofia, a literatura e o romantismo e tudo o mais que na altura me possa ocorrer, desde o mais intelectual, alimento do espírito, ao Riesling e ao Gewürtz, à cerveja e às natas sem açúcar que também destes prazeres se faz a vida. Se estou mais irritado, não desisto de contar as incursões pagãs na Altstadt de uma Düsseldorf muito lembrada ou de evocar memórias do Sr. D. Fernando de Saxe-Coburgo Gotha, nosso rei consorte e culto regente. Adiante, que já explico razões deste arrazoado.
É que quando vejo no “Público” a votação na Alemanha daquela coisa idiota - que devia ter qualquer indicação, à laia de classificação ou aviso prévio, a dizer “atenção, nada disto é sério” - concurso ou lá o que é, de eleger os “grandes” de cada país (pensava que os “grandes” eram só os de Espanha), dou por mim com esta lista: em primeiro ficou Konrad Adenauer, seguido de Martinho Lutero. Karl Marx foi terceiro e Willy Brandt o quarto. Sétimo foi Gutenberg e Einstein o décimo. Parece que em Portugal o Senhor D. Afonso Henriques é forte candidato, não é?Meus caros amigos e companheiros de conversa(s): chega ou “querem ir a meças”?

Aborto e SNS

Algo que continuo a ver insuficientemente discutido na questão do aborto é, independentemente da lei que estiver em vigor (e eu espero ver a próxima aprovada e para isso votarei “sim”), a possibilidade real de efectuar a intervenção, atempadamente, através da rede do Serviço Nacional de Saúde, isto é, nos hospitais do Estado e com recurso aos seus médicos, nas condições previstas nessa mesma lei. Isto, claro está, “mexe” com várias questões, incluindo o problema da “objecção de consciência”, mas sem estar resolvido em nada ou muito pouco contribuirá para minorar o problema do aborto clandestino e das suas consequências, isto é e em ultima análise, da saúde pública (que não é só física). Estamos a falar, de facto, da capacidade de aplicar a lei coercivamente, algo que, e desculpem-me o menor rigor técnico mas não sou jurista, é inerente à sua própria existência.

sexta-feira, outubro 13, 2006

Clássicos do Cinema (2)

"Le Mépris", de Jean-Luc Godard - 1963

O "Fim da Crise"?

O Ministro da Economia resolveu mostrar que existia; decretou o "fim da crise". Se tivesse declarado que o mundo acabaria hoje, sexta-feira treze, exactamente ás 15h e 16' e 27'', teria exactamente o mesmo efeito prático, ou seja, nenhum. Más notícias, da área governamental, pois todos estamos bem lembrados das consequências de uma última declaração semelhante... Que raio, mas é assim tão difícil ser minimamente inteligente?

Clássicos do Cinema (1)

"Casablanca", de Michael Curtiz - 1942

The Classic Era of American Pulp Magazines (7)

Capa de Lee Brown Coye para a edição comemorativa do 25º aniversário de "Weird Tales" (Março de 1948)