Sou da opinião (já o disse aqui há tempos no "twitter") que, salvaguardadas circunstâncias muito extremas e dificilmente verificáveis, o PS tem apenas um sentido de voto possível na votação do Orçamento de Estado para 2012: a abstenção. Esta é a única opção que lhe permite, simultâneamente, honrar os compromissos assumidos com a assinatura do MoU e afirmar uma posição de autonomia face ao governo e de alternativa ao seu programa político. Enfim, afirmar-se como oposição firme não radical nem anti-regime, posição que corresponde à sua natureza essencial.
Por isso mesmo, e tendo a proposta de Orçamento aprovação garantida na Assembleia da República sem necessidade dos votos do PS, confesso ter alguma dificuldade em entender esta posição dúbia; este género de tabu (embora "rabo escondido com gato quase todo de fora") de António José Seguro no que diz respeito ao voto do seu grupo parlamentar, até porque ao afirmar à partida que votar contra não faz parte de 99.999% das suas opções está a entregar de bandeja aos partidos do governo qualquer capacidade negocial que pudesse sonhar ainda ter. A não ser... A não ser que o canto da sereia presidencial, entoado na última entrevista de Cavaco Silva, esteja a exercer alguma sedução sobre Seguro e este se apreste a encarar o voto a favor em troca de alguns encantos e graças concedidas, talvez na reforma autárquica. Nesse caso, aconselho-o a fazer como Odisseu, até porque não me parece muita gente no seu partido seja assim tão sensível à inspiração das Tágides de Belém (se as houver..).
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