domingo, outubro 16, 2011

Salários públicos e privados

Não sei se os funcionários públicos, comparando o comparável, isto é, funções idênticas e níveis de experiência e responsabilidade semelhantes, ganham mais ou menos, em termos médios, do que os trabalhadores do sector privado. Não conheço nenhum estudo recente e credível que demonstre serem verdadeiras ou falsas as afirmações de Pedro Passos Coelho sobre este assunto. Exactamente por esse motivo, antes de produzir qualquer tipo de juízo sobre tal coisa, deveria o governo ter feito aquilo que é habitual as melhores empresas do sector privado fazerem periodicamente, e antes de tomarem decisões, quando querem comparar os salários por si praticados com a situação vigente no mercado: um estudo comparativo; uma avaliação que lhes permita definir e materializar uma estratégia salarial e de recursos humanos. Sem tal estudo, sem nada em que se basear e embora reconhecendo a impossibilidade de despedimento para quem tem um vínculo ao Estado tenha um valor de marcado nada negligenciável, as afirmações do primeiro - ministro, tendo ou não razão, valem o que valem: aquilo que em linguagem popular se designa por "boca".

Para terminar: o que o governo está a fazer com o corte indiscriminado dos salários na função pública, é, de facto, a tratar todos por igual, os bons e os maus servidores servidores do Estado, ignorando qualquer avaliação actual (se a houver) nem a prevendo para o futuro. Convenhamos que para quem se diz liberal e adepto do mercado e da livre concorrência não me parece seja este o caminho, nem que esta actuação tenha o que quer que seja de reformador.

2 comentários:

Tomás Belchior disse...

Há estudos há:

http://oinsurgente.org/2011/09/05/noticia-sem-transferencias-sociais-funcionarios-publicos-ganhariam-menos-61/

Há um estudo de 2001, também do Banco de Portugal que aponta para conclusões semelhantes ao que eu mencionei no meu post.

Não sei se foi neste ou noutro estudo qualquer que a boca do PM se baseou mas vou partir do princípio de que foi mais do que uma boca.

JC disse...

Obrigado, Tomás.
Notas: o estudo de 2001 tem 10 anos. Não penso o possamos utilizar. Já o de 2009 é relevante e importante p/ o debate. A respectiva actualização deverá levar-nos a concluir que a situação em 2011 não deve ser mtº diferente.E, claro, como digo no meu "post", existe a questão de não poderem ser despedidos os servidores do Estado c/ vínculo à FP, o que, nos dias de hoje, tem relevante valor de mercado. Mas há que ter tb em atenção que mtºs fp não têm actualmente tal vínculo.Para terminar: existindo este estudo, teria sido importante o 1º ministro o tivesse referido como justificação. Assim, dá azo a uma discussão c/ os sindicatos em que nenhuma das partes, com opiniões contraditórias, diz em que se baseia.
Cumprimentos