terça-feira, fevereiro 02, 2010

Ainda o "caso" Mário Crespo ou o que, acho, mudou desde ontem

A leitura do “Expresso” on-line - que não é (pelo menos, ainda) propriamente o “Jornal do Crime” ou o “24 Horas” e cujo principal proprietário eu e, penso que, a maioria dos portugueses nos habituámos a respeitar enquanto jornalista, empresário e cidadão - lança nova luz sobre o “caso” Mário Crespo: apresenta factos tais como local, dia, hora e testemunhas que me parecem, tanto quanto sei, gente idónea. Aquilo que ontem, mediante os elementos então (não) disponíveis, poderia parecer uma história com contornos infantis, mais um daqueles casos de especulação jornalística em que os últimos tempos, infelizmente, têm sido férteis, pode e deve, em função dos elementos agora vindos a lume através do jornal de Francisco Pinto Balsemão, ser considerado, pela sua eventual gravidade, algo a merecer, pelo menos, um tratamento mais aprofundado.

Perante a existência desses factos - e não estando em causa, frise-se, nada que possa ter contornos de ilícito criminal - o que eu e todos os cidadãos deste país temos o direito de saber é o seguinte:
  1. É verdade que o primeiro-ministro e outros ministros do seu governo se acharam no direito de, publicamente, interromperem um almoço privado de terceiros quebrando o direito a essa sua privacidade?
  2. É verdade que o fizeram num tom de voz e com modos inadequados para um sítio público, incomodando o direito à privacidade de terceiros que partilhavam o mesmo espaço, denotando aquilo que poderia ser classificado como falta de educação?
  3. É verdade que se referiram em público (o restaurante em causa – que conheço - é um sítio público e se é verdade que terceiros não puderam deixar de escutar os termos da conversa esta deixou, a partir daí, de ser privada) a uma terceira pessoa (o jornalista Mário Crespo, colega dos interpelados) em termos (citados) que demonstram falta de respeito, facto este agravado por se tratar do primeiro-ministro e membros do seu governo, que deveriam dar o exemplo?
  4. É verdade que manifestaram em público (novamente: se terceiros não puderam deixar de ouvir deixou de ser uma conversa privada) querer interferir no conteúdo da programação de um canal de televisão privado (a ser verdade que Mário Crespo foi referido como “um problema que tem que ser resolvido”, o primeiro-ministro não estava apenas a exercer o seu direito, legítimo, de crítica)?

Eu, cidadão e eleitor deste país e que até votei no partido que apoia o actual governo, tenho o direito de obter respostas a estas perguntas sobre questões que têm a ver com o carácter e comportamento público dos ministros e a sua actuação em algo tão sensível como a comunicação social, direito este que, pelo que aqui tentei demonstrar, nada belisca, no mínimo que seja, os princípios fundamentais do estado de direito. Mais ainda, se as alegações de Mário Crespo e do “Expresso” corresponderem à verdade, terão sido os membros do governo a desrespeitar a privacidade da conversa. Para isso, nada mais adequado que os deputados eleitos chamarem à Assembleia da República, para depoimento, as pessoas em causa (todas, incluindo, claro está, os governantes) para que assim os portugueses possam concluir sobre as questões que acima me permito levantar. Para isso os elegemos e a democracia assim o exige.

Nota: tudo isto me parece bem mais importante do que a não-publicação do texto de Mário Crespo no JN, algo cuja análise e comentário deixo aos jornalistas, juristas e outros "istas" da área.

10 comentários:

johnny deep disse...

Perante isto, meu caro, fica se calhar provado k ontem mario crespo n quis "entalar" as fontes - k hoje acabou por tb ele revelar em guimarães. e k mt gente se precipitou a criticar o homem só pk, desplante dos desplantes, é um tipo livre, independente e, pasme-se, até pensa pla cabeça dele

JC disse...

Meu caro: Não me precipitei. Como acontece mtªas vezes, até na justiça, hoje apareceram factos novos a serem considerados. E, desde já, quero agradecer-lhe o me ter chamado a atenção para o "Expresso". Acabaria por ir lá (leio-o diariamente), mas, deste modo, cheguei a essa leitura c/ maior rapidez, o que me permitiu tb corrigir mais depressa o que tinha escrito.

ié-ié disse...

Sou suspeito, porque sempre considerei o Crespo um "débil mental", mas estou de acordo com a nova análise de JC.

LT

ié-ié disse...

A propósito, a SIC tem outro "débil" que também é preciso resolver: Rui Santos - eheheh

LT

JC disse...

Como deves calcular, não faço avaliações s/ o carácter de Mário Crespo. Não aprecio particularmente o género, a recente entrevista dele a um semanário é mtº fraca (julga-se o centro do mundo), mas nada disso tem importância para o assunto em questão. E já me fizeste rir c/ essa do Rui Santos! Mas, ouve lá, este sempre nos diverte!!!

Anónimo disse...

Por favor não resolvam o Rui Santos. Ele resolve-se por si. Claro que faz concorrência desleal aos Monthy Pyton. É caso para dizer: Podiamos passar sem o Rui Santos ? Poder, podiamos...mas a estupidez deixaria de fazer sentido.
Quanto ao Mário Crespo, só o conheço dos écrans da TV. Considero-o um bom jornalista. Quanto à fúria descontrolada e sem vergonha para calar quem se opõem ao PM é no fundo a imagem de marca daquilo que o PS sempre fez quando se encontra no poder.

JC disse...

Anónimo: só o PS?

Karocha disse...

Infelizmente JC são todos.
Mas o Sr.Pinto de Sousa tem exagerado!

Anónimo disse...

Caro JC

Claro que não é só o PS. São todos.
O PS apenas se distingue pela "sem vergonhice" (gosto desta expressão) com que o faz. O desplante é total.

JC disse...

Apenas se distingue pelo facto de ser quem está neste momento no governo, caro anónimo. De qualquer modo, reconheço duas coisas: não me lembro de um governo tão atacado nos "media" e que, simultaneamente, conviva tão mal com eles. Cavaco Silva tb convivia mal com os "media", mas só tinha que se haver c/ o "Independente". Felizmente para ele.