No tempo em que, apesar da já profissionalização do futebol, os clubes funcionavam ainda um pouco como colectividades eclécticas de cultura e recreio, em que as fontes de receita, ausente que estava a televisão, eram fundamentalmente constituídas pela bilheteira e pelas contribuições dos associados, a sua organização assentava fundamentalmente em corpos directivos eleitos, incluindo normalmente um presidente/mecenas, delegando aqueles, tanto quanto a personalidade e a maior ou menor importância do mecenato o permitiam, num chefe de departamento de futebol, também ele eleito pelos sócios na lista vencedora, a gestão de toda esta área no clube: escolhia jogadores, contratava um treinador que tinha de aceitar os jogadores contratados, etc, etc. Penso que o melhor exemplo deste tipo de organização nos clubes portugueses estará no SLB dos anos 60 a 90, mormente com Manuel da Luz Afonso e Gaspar Ramos como chefes emblemáticos do departamento de futebol do clube, embora Eriksson, jovem, ambicioso e vindo de um país com um outro tipo de mentalidade, já tivesse uma palavra a dizer em algumas contratações. O Reino Unido era, contudo, excepção: desde muito cedo (século XIX) sociedades cotadas no mercado de valores mobiliários, os clubes de futebol (apenas se dedicando a esta actividade) adoptaram desde logo a organização empresarial típica, com um “manager” profissional - treinador, responsável por todo o futebol do clube e gerindo o orçamento respectivo - reportando aos orgãos sociais eleitos pelos accionistas.
A crescente profissionalização dos clubes, com a diminuição de importância do seu ecletismo, o incremento exponencial dos meios financeiros movimentados por via do crescimento do mercado (entrada em força da TV que trouxe consigo o “merchandising”, direitos de imagem, etc e a liberdade de circulação dos jogadores permitindo vender o espectáculo globalmente e, assim, conquistar novos mercados) com a subsequente sofisticação da sua gestão, tornou obsoleta esta filosofia organizacional. Em Portugal, terá sido o FCP quem lhe deu uma resposta mais imediata com o apagamento das funções de chefe do departamento de futebol e a presidencialização do clube, concentrando nas mãos do presidente (Pinto da Costa), coadjuvado por um “adjunto” encarregue do dirty work (Reinaldo Teles), toda a gestão do clube. Será um modelo que, com maiores ou menores variações e gerando aqui e ali problemas (demissão de Fernando Gomes, por exemplo), se irá manter enquanto Pinto da Costa se mantiver em funções. No SLB esse modelo, embora com hesitações, funcionou (mal) com Manuel Damásio, foi continuado (também mal) por Vale e Azevedo e, até há bem pouco tempo, sem resultados positivos, por Luís Filipe Vieira. Nos últimos tempos, felizmente, algo parece estar a mudar no meu clube, e LFV parece querer assumir, cada vez mais, um papel de “chairman” delegando num CFO (“chief financial officer” – Domingos Soares de Oliveira ) e num “director desportivo” (Rui Costa), ambos profissionais, a efectiva gestão do clube. Parece-me ser este o modelo que, em Portugal, melhor responde aos actuais desafios da indústria, e os bons resultados parecem estar aí para o provar. Espero não estar enganado.
Tudo isto, embora possa não parecer, vem a propósito do SCP e da contratação de Costinha como “director do futebol”, uma função algo híbrida ou mal definida (não é um “director desportivo” nem me parece seja um “adjunto” do presidente ao estilo das funções de Reinaldo Teles no FCP) e que, como tal, me parece estar longe de encaixar num modelo de gestão que responda ao “estado da arte”. Aliás, depois de ter sido, talvez, com João Rocha, o primeiro clube português a viver sob regime presidencialista, o SCP tem oscilado no seu modelo organizacional sem que consiga assumir de vez uma opção consequente na gestão do futebol profissional do clube. Não me parece – longe disso – ser este o único problema que o SCP tem de enfrentar – e já neste “blogue” tenho tentado analisar os problemas dos meus amigos “lagartos”. Mas o facto de não conseguirem resolver um problema, pelo menos na aparência, bem simples quando talvez enfrentem o maior desafio na história mais recente do clube, não augura nada de positivo para o mais antigo rival do meu “glorioso”. E, caros “lagartos”, nós, “lampiões” (como vocês nos chamam), passamos bem sem aquele clube lá do norte, mas sem vocês, confesso, isto já não é bem a mesma coisa...
A crescente profissionalização dos clubes, com a diminuição de importância do seu ecletismo, o incremento exponencial dos meios financeiros movimentados por via do crescimento do mercado (entrada em força da TV que trouxe consigo o “merchandising”, direitos de imagem, etc e a liberdade de circulação dos jogadores permitindo vender o espectáculo globalmente e, assim, conquistar novos mercados) com a subsequente sofisticação da sua gestão, tornou obsoleta esta filosofia organizacional. Em Portugal, terá sido o FCP quem lhe deu uma resposta mais imediata com o apagamento das funções de chefe do departamento de futebol e a presidencialização do clube, concentrando nas mãos do presidente (Pinto da Costa), coadjuvado por um “adjunto” encarregue do dirty work (Reinaldo Teles), toda a gestão do clube. Será um modelo que, com maiores ou menores variações e gerando aqui e ali problemas (demissão de Fernando Gomes, por exemplo), se irá manter enquanto Pinto da Costa se mantiver em funções. No SLB esse modelo, embora com hesitações, funcionou (mal) com Manuel Damásio, foi continuado (também mal) por Vale e Azevedo e, até há bem pouco tempo, sem resultados positivos, por Luís Filipe Vieira. Nos últimos tempos, felizmente, algo parece estar a mudar no meu clube, e LFV parece querer assumir, cada vez mais, um papel de “chairman” delegando num CFO (“chief financial officer” – Domingos Soares de Oliveira ) e num “director desportivo” (Rui Costa), ambos profissionais, a efectiva gestão do clube. Parece-me ser este o modelo que, em Portugal, melhor responde aos actuais desafios da indústria, e os bons resultados parecem estar aí para o provar. Espero não estar enganado.
Tudo isto, embora possa não parecer, vem a propósito do SCP e da contratação de Costinha como “director do futebol”, uma função algo híbrida ou mal definida (não é um “director desportivo” nem me parece seja um “adjunto” do presidente ao estilo das funções de Reinaldo Teles no FCP) e que, como tal, me parece estar longe de encaixar num modelo de gestão que responda ao “estado da arte”. Aliás, depois de ter sido, talvez, com João Rocha, o primeiro clube português a viver sob regime presidencialista, o SCP tem oscilado no seu modelo organizacional sem que consiga assumir de vez uma opção consequente na gestão do futebol profissional do clube. Não me parece – longe disso – ser este o único problema que o SCP tem de enfrentar – e já neste “blogue” tenho tentado analisar os problemas dos meus amigos “lagartos”. Mas o facto de não conseguirem resolver um problema, pelo menos na aparência, bem simples quando talvez enfrentem o maior desafio na história mais recente do clube, não augura nada de positivo para o mais antigo rival do meu “glorioso”. E, caros “lagartos”, nós, “lampiões” (como vocês nos chamam), passamos bem sem aquele clube lá do norte, mas sem vocês, confesso, isto já não é bem a mesma coisa...
2 comentários:
Nem parece que o SCP tem vindo a ficar, nestas últimas épocas, em melhor posição do que o SLB
Leia bem o texto, caro anónimo. Se o fizer, verifica que digo que o modelo de gestão a que chamo presidencialista, do SLB, funcionou "mal" e que a melhoria do clube parece (parece) estar ligada a uma sua correcção no sentido de LFV ter vindo a assumir, tendencialmente, o lugar de "chairman". Ora leia lá bem...
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