Em primeiro lugar, um ponto prévio que condiciona tudo o que vou escrever em seguida: quando afirmo que a estratégia da direcção actual do PSD não tem sido bem sucedida, estou a referir-me a resultados concretos em termos eleitorais e, posteriormente, valores expressos pelas últimas sondagens realizadas. Não só o PSD obteve um dos resultados eleitorais mais baixos de sempre nas eleições legislativas, numa conjuntura que parecia ser-lhe extremamente favorável, como, nas sondagens realizadas posteriormente, não consegue inflectir significativamente esses resultados, mostrando, inclusivamente, essas sondagens a manutenção dos valores do PS e um crescimento não negligenciável do CDS/PP. Tendo dito isto, vamos pois ao que importa.
Começo por afirmar que a estratégia contida na tese da “asfixia democrática” e na “verdade”, de onde derivam os ataques à credibilidade e honestidade do primeiro-ministro e onde se insere a questão da “liberdade de informação”, não são destituídas de inteligência e delas não está ausente um qualquer racional afastado da realidade. Fruto da impossibilidade de afirmação de uma clara política alternativa que a maioria dos portugueses não avaliasse, no curto/médio-prazo, como correspondendo a um agravamento das suas condições de vida, consubstanciada num ritmo mais acelerado de redução da despesa pública e do endividamento o que se reflectiria necessariamente num aumento do desemprego, eventual perda de algumas regalias salariais e sociais e traria consigo o risco de um menor crescimento económico (atenção: não estou a assumir preferências, a avaliar a correcção de cada uma ou as suas repercussões no longo-prazo, mas apenas a constatar as suas implicações imediatas), o PSD focou a sua estratégia naquelas que seriam, vox populi e não só, as “fraquezas” reconhecidas de José Sócrates: um passado não isento de algumas sombras em termos éticos, uma imagem de “arrogância” e “autoritarismo” que os portugueses atribuem a quem tem ideias, expressa opiniões e toma medidas, certas ou erradas (Cavaco Silva foi em tempo vítima disso mesmo), e uma clara incomodidade perante uma nova cena mediática onde, por razões que não cabe aqui e agora analisar mas não andarão longe da formação de grandes grupos de comunicação, de uma maior concorrência e do aparecimento da internet, a figura tradicional do jornalista e da sua ética e, também, a esquerda, na sequência da derrota da URSS na guerra-fria e de um certo anquilosamento no campo das suas ideias e propostas, nos últimos quinze ou vinte anos, perderam indiscutivelmente domínio e poder. Conseguindo, deste modo, dominar a cena mediática com uma sucessão de escândalos envolvendo José Sócrates, colocar o primeiro-ministro em sérias dificuldades para se justificar e justificar algumas das suas atitudes, levando-o, até, a desferir alguns tiros no pé, o que correu então mal? Bom, seria talvez ocasião para o PSD efectuar um estudo de opinião estruturado junto dos portugueses, mas tentemos no próximo “post” uma primeira abordagem e avaliação.
Eu sou o Gato Maltês, um toque de Espanha e algo de francês. Nascido em Portugal e adoptado inglês.
quarta-feira, fevereiro 17, 2010
Porque não funciona a estratégia do PSD? (1)
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