- Quantos daqueles que agora criticam - com razão - o governo por não governar, por não efectuar as reformas necessárias, não juntaram a sua voz às reivindicações corporativas e à demagogia populista da “rua” quando Correia de Campos e Mª de Lurdes Rodrigues tentavam efectivamente governar e efectuar algumas das reformas necessárias contra os interesses instalados? Ou já se esqueceram da demagogia dos partos em Badajoz, dos bebés nascidos em ambulâncias, das pseudo-urgências à porta de casa, da gritaria contra as “aulas de substituição” e as “avaliações”?
- Quantos dos que agora criticam o “apego ao poder” de José Sócrates, o “governar apenas com o intuito de se manter no poder”, não criticaram asperamente António Guterres por ter abandonado o “pântano” e Durão Barroso por “ter arranjado um emprego melhor”? Manter-se no poder ou dele decidir abdicar, desde que cumpridas as leis e as regras da democracia, não será opção legítima de quem é poder? Não estão tais situações constitucionalmente previstas em todos os Estados democráticos? Mudar para um emprego melhor (ainda para mais, e neste caso, de prestígio internacional para o país) não é aquilo que normalmente fazem aqueles que têm essa opção? Ou em vez de bramarem contra o “árbitro”, não teria sido bem melhor o PSD ter eleito em congresso um número dois bem mais competente?
- Quantos daqueles que hoje odeiam Jorge Sampaio por ter demitido um governo (mais correctamente, dissolvido a Assembleia da República) de um primeiro-ministro não eleito e que nem no partido a que pertencia gerava apoios significativos gritam hoje histericamente contra Cavaco Silva por este não demitir um governo (bom ou mau, foi escolhido por quem o pode fazer) clara e democraticamente sufragado há cerca de ano e meio pelos cidadãos? (Isto mesmo que este, e quanto a mim mal, não se tenha mostrado capaz de formar uma coligação maioritária).
Conclusão? Embora eu sempre ache e sempre diga que demasiada coerência torna as pessoas previsíveis e mesmo umas grandes “chatas”, que raio!, mesmo assim há “serviços mínimos” a cumprir. O que acho eu? Que salvo circunstâncias excepcionais e por isso mesmo pouco ou nada previsíveis - dois exemplos: incapacidade do país se continuar a financiar em condições aceitáveis ou existência de uma onda de contestação e distúrbios nas ruas (sérios, não estou a falar das habituais greves da CGTP ou das manifs. da FENPROF daquele senhor de bigode) que torne o país ingovernável -, e na impossibilidade de aprovação de uma moção de censura na Assembleia da República (a “direita” e a “esquerda radical” muito dificilmente se unirão com esse propósito), o Presidente da República terá toda a legitimidade para dissolver a AR no caso do governo se revelar incapaz de cumprir aquilo com que se comprometeu perante os portugueses e para o qual contou com a aquiescência do principal partido da oposição: o orçamento para este ano. Ou seja incapaz de apresentar e fazer aprovar igual documento para 2012.
Vale? Estamos conversados?
3 comentários:
Vale!
Mesmo que a coerência nos lixe ainda mais uns largos meses!
Não tendo a certeza que o que vem a seguir preste para alguma coisa tendo em conta os ombros em que se apoia!
E tendo a certeza que mais uns quantos boys ainda vão arranjar um buraquinho para se enfiarem!
Estamos conversados?
Não!
Estamos é lixados!
Caro JC
Existe também outra questão: Tem este governo, e o seu PM, alguma credibilidade, nomeadamente externa ?
Perdeu oportunidades de efectuar reformas importantes e vitais que nos teriam poupado a não termos chegado ao estado actual, optou por (conscientemente?) enfiar a cabeça na areia dizendo que estava tudo bem e que a crise não chegaria cá, etc, quando devia ter tomado medidas sérias. Ficou refém de lobbies (farmaceuticos, profs, boys e outros). Ao mesmo tempo que anunciava cortes a suubsidios sociais garantia a pés juntos que o tgv é para avançar. Onde existe a credibilidade ? Também é verdade que a(s) alternativa(s) são altamente preocupantes (mais do mesmo, com outro protagonista). Só um governo patriotico (partidariamente transversal) e com competentes e isentos (de lobbies, de interesses, de corrupção) talvez fosse uma opção.
Mas pelo caminho que isto leva o risco de forte contestação social "não controlada", como refere, tem cada vez mais (em cada dia que passa) uma fortissima probabilidade de vir a acontecer.
Veremos.
Cumprimentos
Para os dois: as condições que apresento são aquelas que me parecem ser minimamente objectivas. Quanto às restantes, e citam algumas,como a credibilidade, são questões subjectivas, subscritas por alguns mas não por outros. E, caro JR, todos já somos crescidinhos o suficiente para percebermos o que são afirmações s/ conteúdo, para salvar a face (a do TGV, p. ex. - nota: sou favorável apenas a 1 linha: LX-MAD e pode esperar um pouco, e o que efectivamente conta.
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