Duas coisas serão curiosas de analisar na moção de censura ao governo que o “Bloco de Esquerda” irá apresentar na Assembleia da República:
- Em primeiro lugar se a sua redacção será de molde a “piscar o olho” à direita parlamentar, única hipótese de a moção ter alguma eficácia e de deixar esta em maus lençóis face a uma sua mais do que provável abstenção, pelo menos da parte do PSD. Caso não o seja, optando o BE por uma formulação mais radical “à esquerda”, isso significa que o partido não tem qualquer intenção de derrubar o governo e apenas pretende “marcar a agenda política” e, assim, capitalizar o descontentamento popular face às medidas de austeridade. Passaria a ser uma questão apenas a dois, entre BE e PCP.
- Em segundo lugar ver qual a opção do PCP, que ou irá atrás do BE ou terá que se explicar muito bem aos seus militantes. E atenção: o PCP não costuma brincar em serviço. Mas, de facto, perdeu aqui a iniciativa política, embora o partido, pela sua própria natureza, costume recuperar bem destas situações de algum desconforto parlamentar.
Mas, para já, parece-me que será o PSD o partido mais incomodado com esta iniciativa “bloquista. Se optar pela mais do que provável abstenção desagrada ao anti-sócratismo mais populista e radical, que, quer queiram quer não, constitui, neste momento, uma boa parte da sua base eleitoral e, principalmente, da “vanguarda” da opinião publicada; e a não aprovação de uma moção de censura será sempre assinalada como uma vitória do governo e do primeiro-ministro. Se votar a favor tal será recebido com desconforto por uma boa parte do mundo empresarial e dos negócios, e o PSD não escapará à acusação, pelo PS, de actuação “aventureirista”, “anti-patriótica”, “causadora de instabilidade” e por aí fora, sendo obrigado a enfrentar eleições sob o peso deste anátema . Mas penso que, entre estas duas opções, o PSD optará pela “responsabilidade”.
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