terça-feira, fevereiro 15, 2011

Um agradecimento ao "Bloco de Esquerda" - ou, para ser mais exacto, ao papel que assumiu em defesa do regime e da democracia liberal

Nos dias que se seguiram ao anúncio da sua “moção de censura”, o “Bloco de Esquerda” foi transformado, e com razão, numa espécie de “pushing ball” do regime, saco onde todos, até alguns dos seus dirigentes e simpatizantes mais mediáticos, trataram de acertar uns bons “swings”, “directos” e “uppercuts”. Bem merecidos, direi eu. Mas, nestes tempos complicados para a vida do mais jovem partido português do “arco parlamentar”, talvez seja justo lembrar algo em seu benefício e no do regime que tem ajudado a consolidar (calma, já vão ver porquê...).

De facto, o BE veio ocupar um espaço político (o seu crescimento comprova-o) deixado vago pelo PCP com a dissolução do “proletariado urbano”, com a substituição das cinturas industriais por uma pequena burguesia suburbana e culturalmente autónoma e por aquilo que se pode chamar, embora de modo demasiado redutor, de deriva centrista do PS: um eleitorado mais jovem (mas nem sempre), pós-moderno e radical, relativamente marginal face ao “status quo”, demasiado liberal e individualista, desalinhado, para se reconhecer no conservadorismo tradicional, no monolitismo e ortodoxia comunistas ou na disciplina e cinzentismo dos grandes partidos de poder.

Foi portanto esta, e de modo muito genérico, a base de crescimento do BE, e cuja contestação ao regime ou puro e simples afastamento da política institucional o partido ajudou a enquadrar e institucionalizar, conduzindo-a ao “redil” do sistema (lembram-se da “ovelha negra” do PSR?) e forçando mesmo o PS a cedências em muitas das emergentes questões de “costumes”. Sem o enquadramento desses cidadãos, que o BE em “boa hora” levou a cabo, sem a institucionalização, que realizou, desse potencial de contestação, convenhamos que algumas das manifestações populares da crise poderiam (sabe-se lá?!...) assumir expressões e formas bem mais violentas e de difícil controle. O regime e todos nós, os que nos revemos numa democracia liberal e numa sociedade aberta e progressiva, não conservadora e cosmopolita, devemos ao “Bloco” este agradecimento; e o anúncio de apresentação da sua "moção de censura" nada mais representa do que mais um passo no cumprimento desta sua tarefa histórica. Malgré lui, provavelmente!

3 comentários:

Anónimo disse...

Sempre foi útil a apresentação da moção de censura pelo Bloco de Esquesda, porque os portugueses menos atentos a estas coisas da política fica a saber que PSD e CDS ficam agora corresponsáveis pela manutenção do PS no poder e, em consequênsia, pelas suas políticas ruinosas para a generalidade dos portugueses.
Zé da Burra o Alentejano
(zedaburra@sapo.pt)

JC disse...

Apenas para o lembrar de que o PSD já tinha viabilizado o orçamento de Estado.

pois disse...

Meu caro, o BE está aí para as curvas pois para ultrapassar qualquer acerto de "uns bons “swings”, “directos” e “uppercuts”, basta puchar duma mortalha, apertar um filtro e chegar, embrulhar o rebuçado e chegar-lhe o lume. A malta curte e esquece, não vai em debates de prós e contras.
http://www.youtube.com/watch?v=gdeBx2PLNj8&feature=related