As afirmações de Alexandre Soares dos Santos, chamando mentiroso ao primeiro-ministro e tratando-o em público por “o Sócrates, bem como o tom desabrido em que foram feitas, transcendem em muito uma questão de “boa educação” (embora também o sejam). Elas reflectem, antes de mais, uma tentativa de afirmação de poder e de, através dele, retirar daí benefícios próprios. Por um lado, e de modo mais restrito, o poder e a afirmação de superioridade de um grupo económico que é capaz de gerar excedentes e se propõe beneficiar os seus funcionários em contraponto com um Estado em “deficit” e que se vê obrigado a cortar vencimentos e benefícios sociais. Por outro, de modo mais alargado, a superioridade do mundo empresarial (do privado), pelo rigor e transparência com que as empresas são geridas (“não há truques”), perante o público (o Estado). Por último, ao enquadrar estas afirmações num contexto mais vasto de louvor ao papel do Estado polaco em comparação com o português nos apoios concedidos ao grupo Jerónimo Martins, uma tentativa de inverter essa situação, esperando daí retirar benefícios futuros.
Mas é ainda algo mais: tal como aconteceu no já longínquo episódio da ida de Belmiro de Azevedo à Assembleia da República, aberta de propósito para que pudesse estar presente, estamos perante mais um episódio de ataque aos políticos e à política, neste caso, curiosamente, protagonizado por quem, independentemente dos méritos demonstrados e da sua capacidade empreendedora, que certamente terá, viu o seu “core business” beneficiado por um modelo de desenvolvimento que privilegiou a grande distribuição e o mercado interno em prejuízo dos (agora tão em voga) bens transacionáveis e da exportação.
Não será portanto estranho o entusiasmo e louvor, explícito ou implícito, com que o episódio foi recebido pelos arautos do ultra-liberalismo – através de “blogues” e “media” respectivos, principalmente os dedicados às questões de carácter económico -, partidários de um estado minimalista - reduzido às suas funções essenciais - da desregulação dos mercados e de uma diluição do Estado Social, substituídas grande parte das suas funções por um modelo assistencialista fundamentalmente assegurado por instituições de carácter privado. Mais: deste modo defensores, “à outrance”, do domínio quase absoluto de um poder empresarial não eleito em detrimento de um poder político democrático regulador da livre iniciativa e com um papel activo na igualdade de oportunidades e na correcção das desigualdades sociais.
Mais difícil de entender será o silencio conivente de muitos outros, que na esquerda radical ou no centro-direita democrata-cristão, bem como no primado do político e do Estado-Social, se reconhecem. Desse silêncio apenas se deve tirar uma conclusão: o que para eles é, acima de tudo, fundamental é “bater no Sócrates”, mesmo que para tal seja necessário recorrer ao mais profundo desrespeito pelos princípios orientadores da democracia, pelos valores ideológicos que defendem, pela ética e pelo debate político civilizado (já agora, pela boa educação). Assim sendo, depois, quando lhes tocar pela porta, espero não venham por aí queixar-se.
Mas é ainda algo mais: tal como aconteceu no já longínquo episódio da ida de Belmiro de Azevedo à Assembleia da República, aberta de propósito para que pudesse estar presente, estamos perante mais um episódio de ataque aos políticos e à política, neste caso, curiosamente, protagonizado por quem, independentemente dos méritos demonstrados e da sua capacidade empreendedora, que certamente terá, viu o seu “core business” beneficiado por um modelo de desenvolvimento que privilegiou a grande distribuição e o mercado interno em prejuízo dos (agora tão em voga) bens transacionáveis e da exportação.
Não será portanto estranho o entusiasmo e louvor, explícito ou implícito, com que o episódio foi recebido pelos arautos do ultra-liberalismo – através de “blogues” e “media” respectivos, principalmente os dedicados às questões de carácter económico -, partidários de um estado minimalista - reduzido às suas funções essenciais - da desregulação dos mercados e de uma diluição do Estado Social, substituídas grande parte das suas funções por um modelo assistencialista fundamentalmente assegurado por instituições de carácter privado. Mais: deste modo defensores, “à outrance”, do domínio quase absoluto de um poder empresarial não eleito em detrimento de um poder político democrático regulador da livre iniciativa e com um papel activo na igualdade de oportunidades e na correcção das desigualdades sociais.
Mais difícil de entender será o silencio conivente de muitos outros, que na esquerda radical ou no centro-direita democrata-cristão, bem como no primado do político e do Estado-Social, se reconhecem. Desse silêncio apenas se deve tirar uma conclusão: o que para eles é, acima de tudo, fundamental é “bater no Sócrates”, mesmo que para tal seja necessário recorrer ao mais profundo desrespeito pelos princípios orientadores da democracia, pelos valores ideológicos que defendem, pela ética e pelo debate político civilizado (já agora, pela boa educação). Assim sendo, depois, quando lhes tocar pela porta, espero não venham por aí queixar-se.
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