Odeio cortar o cabelo (que já vai sendo pouco...). Primeiro, porque acho tempo e dinheiro mal gastos; segundo, porque acho todos os homens com o cabelo cortado ficam com cara de parvos, e pergunto-me porque haveria de ser excepção; terceiro, porque o barbeiro insiste quase sempre em conversa para a qual não tenho paciência; quarto, porque detesto aquele “friozinho” na nuca (especialmente no Inverno) que sentimos no regresso a casa, depois da “trunfa” desbastada; quinto – e último – porque ir cortar o cabelo me obriga a tomar um duche logo de seguida, em repetição do duche matinal, um pouco como se assim lavasse o corpo do pecado cometido de ter ido ao barbeiro (desculpem, “cabeleireiro” é coisa da “gaja”). É, portanto, assim como cumprir promessa da qual não espero “graça”.
Durante muitos anos o cumprimento da promessa era menos penoso, pois a função estava entregue ao Sr. Carvalho, oficiante na “Baixa” mas que nas manhãs dos domingos previamente acordados irrompia lá por casa para nos cortar o cabelo, assim arrecadando uns “extra” para a pesca desportiva, seu passatempo de eleição. Poupavam-se as idas e vindas ao e do barbeiro; passava-se directamente ao duche “sem passar pela casa da partida e sem receber os dois contos”; e como o Sr. Carvalho era quase da família já sabia as conversas a ter e não ter com cada um. Hosanas!, apesar do inconveniente que era alçar da cama às 11 da manhã depois de uma noitada de sábado: não se pode ter tudo, caraças! Foi o Sr. Carvalho que me cortou o cabelo quando fui para a tropa, rigorosamente nem demasiado comprido para ter de ir ao barbeiro castrense nem demasiado curto para fazer ainda mais figura de parvo. Mesmo assim, em época de cabelos compridos (estávamos nos “early 60s”), lá vinha sempre a pergunta sacramental quando encontrava alguém: “estás na tropa?” Grrr! Que ódio!
Durante os muitos anos em que quase não tinha tempo para dormir – muito menos para cumprir promessas laicas como “”cortar o cabelo” –, e chegado o Sr. Carvalho a uma velhice descansada, usei os barbeiros (já disse que “cabeleireiro” é coisa de”gaja”) dos “centros comerciais”, abertos “fora de horas” e suficientemente impessoais para não me maçarem com conversas abstrusas. Agora, com mais tempo, passei a função ao barbeiro do bairro, que não obriga a deslocação inútil. Vantagens? Inconvenientes? Bom, inconvenientes à farta, a começar com a intragável conversa quase tão má como a de taxista: hoje quase fui obrigado a expressar a minha opinião - que provavelmente o “fígaro” acharia abalizada - sobre o alegado crime do tal Seabra, coisa que me interessa tanto como a a vida sexual da astróloga Maya. Vantagens? Uma e muito, mas muito, relevante: então não querem lá ver que até é barato? E pergunto, porque haveria eu de pagar muito e caro por algo que detesto tanto como fazer a cama mas sou obrigado a cumprir?
Durante muitos anos o cumprimento da promessa era menos penoso, pois a função estava entregue ao Sr. Carvalho, oficiante na “Baixa” mas que nas manhãs dos domingos previamente acordados irrompia lá por casa para nos cortar o cabelo, assim arrecadando uns “extra” para a pesca desportiva, seu passatempo de eleição. Poupavam-se as idas e vindas ao e do barbeiro; passava-se directamente ao duche “sem passar pela casa da partida e sem receber os dois contos”; e como o Sr. Carvalho era quase da família já sabia as conversas a ter e não ter com cada um. Hosanas!, apesar do inconveniente que era alçar da cama às 11 da manhã depois de uma noitada de sábado: não se pode ter tudo, caraças! Foi o Sr. Carvalho que me cortou o cabelo quando fui para a tropa, rigorosamente nem demasiado comprido para ter de ir ao barbeiro castrense nem demasiado curto para fazer ainda mais figura de parvo. Mesmo assim, em época de cabelos compridos (estávamos nos “early 60s”), lá vinha sempre a pergunta sacramental quando encontrava alguém: “estás na tropa?” Grrr! Que ódio!
Durante os muitos anos em que quase não tinha tempo para dormir – muito menos para cumprir promessas laicas como “”cortar o cabelo” –, e chegado o Sr. Carvalho a uma velhice descansada, usei os barbeiros (já disse que “cabeleireiro” é coisa de”gaja”) dos “centros comerciais”, abertos “fora de horas” e suficientemente impessoais para não me maçarem com conversas abstrusas. Agora, com mais tempo, passei a função ao barbeiro do bairro, que não obriga a deslocação inútil. Vantagens? Inconvenientes? Bom, inconvenientes à farta, a começar com a intragável conversa quase tão má como a de taxista: hoje quase fui obrigado a expressar a minha opinião - que provavelmente o “fígaro” acharia abalizada - sobre o alegado crime do tal Seabra, coisa que me interessa tanto como a a vida sexual da astróloga Maya. Vantagens? Uma e muito, mas muito, relevante: então não querem lá ver que até é barato? E pergunto, porque haveria eu de pagar muito e caro por algo que detesto tanto como fazer a cama mas sou obrigado a cumprir?
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