O facto da família Cavaco Silva ter sido accionista da SLN e nessa qualidade ter realizado mais-valias com a negociação das suas acções não tem nada de ilícito, muito menos de ilegal. Nem, claro está, deixa o Presidente da República como suspeito de qualquer tipo de envolvimento no caso de polícia em que o BPN se transformou. Mas, se assim acontece e nisso os partidos à esquerda do PS têm razão nas suas apressadas afirmações (de estranhar, dado partirem de inimigos declarados do “cavaquismo” e da economia de mercado), o caso não é, contudo, politicamente irrelevante nem deixa, desse ponto de vista, Cavaco Silva isento de mácula. Percebe-se a reacção de PCP e "Bloco", colando à popularidade da figura do PR e dela tentando tirar alguns benefícios, mas o silêncio do PS não deixa de ser ensurdecedor ensaiando captar o melhor de dois mundos: a popularidade da instituição presidencial ao mesmo tempo que se demarca da figura e das acções (no duplo sentido da palavra) de Cavaco Silva.
É que se até aqui o chamado “cavaquismo” e a casta de arrivistas, novos-ricos e parvenues por si gerada, os mega-negócios feitos à sombra do Estado e potenciados pelo dinheiro fácil dos fundos estruturais e da política do betão, eram vistos como algo a que Cavaco Silva era alheio, manifestando mesmo, perante o fenómeno, até um conveniente e distanciado “nojo” (no fundo residia aqui o tão propalado incómodo do então primeiro-ministro perante o “partido”, o modo como este funcionava e os interesses que perseguia), a partir do momento em que o actual presidente aparece como um dos participantes e beneficiário, mesmo que relativamente pouco importante e somente enquanto accionista, naquele que é um caso de polícia e, certamente e pelo que se sabe, o negócio mais sujo do "cavaquismo", em algo com ligações ao que de pior existe nos negócios escuros internacionais (até ao tráfico de armas), a imagem impoluta e a autoridade moral do actual Presidente da República não podem deixar de sair afectadas. Pior: a confiança pessoal e política manifestada até ao fim em Dias Loureiro, a tibieza que aqui assinalei na sua actuação neste caso e que o insuspeito José Pacheco Pereira não deixou esta semana também de referir, até mesmo a nomeação de alguém com o perfil bem conhecido de Manuel Dias Loureiro como conselheiro de estado, não deixarão de ser vistas por muita gente, mesmo que com o seu “quê” de injustiça, como resultado da ligação de Cavaco Silva, enquanto accionista e beneficiário das mais-valias geradas, aos negócios do grupo. Ou mesmo como resultado de um seu favorecimento.
Mais uma vez friso que nada de ilegal ou ilícito estará em equação, mas digamos que Cavaco Silva terá perdido esta semana a sua aura de inocência. Por alguma razão, não consta alguma vez Oliveira Salazar tenha jogado na bolsa ou tido participação em negócio!
Duas notas:
É que se até aqui o chamado “cavaquismo” e a casta de arrivistas, novos-ricos e parvenues por si gerada, os mega-negócios feitos à sombra do Estado e potenciados pelo dinheiro fácil dos fundos estruturais e da política do betão, eram vistos como algo a que Cavaco Silva era alheio, manifestando mesmo, perante o fenómeno, até um conveniente e distanciado “nojo” (no fundo residia aqui o tão propalado incómodo do então primeiro-ministro perante o “partido”, o modo como este funcionava e os interesses que perseguia), a partir do momento em que o actual presidente aparece como um dos participantes e beneficiário, mesmo que relativamente pouco importante e somente enquanto accionista, naquele que é um caso de polícia e, certamente e pelo que se sabe, o negócio mais sujo do "cavaquismo", em algo com ligações ao que de pior existe nos negócios escuros internacionais (até ao tráfico de armas), a imagem impoluta e a autoridade moral do actual Presidente da República não podem deixar de sair afectadas. Pior: a confiança pessoal e política manifestada até ao fim em Dias Loureiro, a tibieza que aqui assinalei na sua actuação neste caso e que o insuspeito José Pacheco Pereira não deixou esta semana também de referir, até mesmo a nomeação de alguém com o perfil bem conhecido de Manuel Dias Loureiro como conselheiro de estado, não deixarão de ser vistas por muita gente, mesmo que com o seu “quê” de injustiça, como resultado da ligação de Cavaco Silva, enquanto accionista e beneficiário das mais-valias geradas, aos negócios do grupo. Ou mesmo como resultado de um seu favorecimento.
Mais uma vez friso que nada de ilegal ou ilícito estará em equação, mas digamos que Cavaco Silva terá perdido esta semana a sua aura de inocência. Por alguma razão, não consta alguma vez Oliveira Salazar tenha jogado na bolsa ou tido participação em negócio!
Duas notas:
- Não me parece que o anunciado distanciamento de José Pacheco Pereira face à actuação do presidente da República neste caso seja desinteressado. Se, por um lado, pode aparecer como uma pequena e fria vingança de JPP para com o PSD “dos negócios” que sempre o execrou enquanto intelectual e pensador político (apesar de JPP dizer reconhecer-se no PSD dos "self-made men" – tem aqui o resultado), por outro pode também representar um sinal de que a campanha de Rangel estará a fazer nascer no PSD uma nova classe dirigente (Rui Rio, o próprio Rangel), de ideias mais próximas do neo-liberalismo e sem o estigma e o incómodo, a herança de um estado tutelar, que o "cavaquismo" pode representar. Aguardemos.
- Seria interessante saber se a família Cavaco Silva era uma habitual investidora no mercado de capitais ou se as acções da SLN constituem um caso mais ou menos isolado. Não é indiferente para a imagem do PR o investimento na SLN ser um entre tantos (o que aligeiraria as consequências políticas que este caso lhe possa acarretar), único ou quase exclusivo.
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