Em Outubro do ano 2000, Manuel Vilarinho venceu as eleições do Sport Lisboa e Benfica à frente de uma heterogénea coligação cujo objectivo era, essencialmente, arredar João Vale e Azevedo da presidência do clube. Na altura, assumi junto dos meus entusiasmados amigos benfiquistas uma atitude de algum distanciamento e criticismo face a tal candidatura (eles lembram-se), argumentando, eu que nunca tinha apoiado ou votado Vale e Azevedo, como continuei a não fazer, que por detrás de Manuel Vilarinho não conseguia vislumbrar uma ideia, uma estratégia para o clube, e que derrotar Vale e Azevedo seria certamente um objectivo louvável, mas insuficiente porque estritamente táctico.
Apesar dos progressos verificados na gestão financeira e na recuperação de alguma credibilidade para o clube, na construção do novo estádio e do centro de estágio (mas atenção: o “core business” do SLB não é a construção e, portanto, estádio e centro de estágio são apenas ferramentas que se não estiverem integradas numa gestão desportiva consequente de pouco ou nada valem), bastaram poucas semanas para que a realidade me desse razão: entre Vítor Santos (“Bibi”), Vilarinho e desconheço quem mais, o Benfica, cuja equipa jogava então num 4X4X2 clássico sob o comando de Toni, com Meira e Calado no meio-campo, salvo erro Miguel e Karel Poborsky nas alas e João Tomás e Van Hooijdonk no ataque, viu-se obrigado a acolher Roger, que independentemente da sua valia como futebolista e do seu comportamento como profissional não “cabia” neste sistema. Este foi apenas o primeiro dos muitos erros de uma gestão desportiva catastrófica, de navegação á vista, onde se confirmaram a total ausência de uma ideia e de uma estratégia para o clube nesta área.
Vem tudo isto a propósito de uma “grande coligação”, que parece estar a formar-se e denominada “Benfica, Vencer, Vencer”, que pretende agora agregar, um pouco como a “unidade de todos os portugueses honrados” para derrubar a ditadura do “Rumo á Vitória” do PCP dos anos 60, todos os benfiquistas descontentes com a actual gestão LFV. O objectivo é certamente louvável e acompanho-o, enquanto benfiquista descontente, com o maior interesse e renovada esperança. Para ser coerente devo, no entanto e uma vez mais, salientar que o que já li me parece manifestamente insuficiente: é preciso uma ideia para o clube (o que quer o Benfica ser?), objectivos realistas e uma estratégia consequente para os atingir. Sem essa definição de princípios, de onde devem derivar todas as outras políticas, mormente a desportiva onde a definição de uma estratégia consequente de recursos humanos é chave, parece-me existir o risco de tudo ser, de novo, abandonado à casualidade e às emoções, aos arrivismos de momento. Por isso mesmo, para que os erros e as suas péssimas consequências se não repitam, espero bem que tudo isto seja tido em conta e incorporado num programa e em propostas credíveis, servido por pessoas competentes e com a necessária visibilidade mediática.
E como não gosto de ser acusado de nada de concreto propor, aqui ficam alguma ideias mais ou menos mal alinhavadas:
Que quer o Benfica ser? Um clube nacional e cosmopolita, apoiado nas conquistas e notoriedade internacionais, que assim marque a diferença face a um FCP demasiado regionalista. Um clube popular, mas não populista, distinguindo-se deste modo de um certo elitismo que marca a identidade do SCP.
Que objectivos deve ter? Dominar o futebol português num prazo realista de 3 a 5 anos, apontando para ser campeão nacional pelo menos 5 a 6 vezes por década e a estar presente, salvo acontecimento conjuntural, em todas as edições da Champions League. A credibilidade destes objectivos é apoiada no facto de ser o clube português com maior mercado, nacional e internacionalmente (emigrantes e povos das ex-colónias), mas também no facto das condições do futebol português parecerem não permitir eles sejam alcançados, ao contrário do que se desejaria, no imediato.
Como pode alcançar o SLB estes objectivos? Com uma política de estabilidade na sua gestão desportiva (director desportivo, treinador) que lhe permita crescer sustentadamente, mantendo, dentro do limites do razoável e do que lhe é possível pagar, os seus principais jogadores e referências, integrando progressivamente alguns valores da formação e estabelecendo uma política de alianças no mercado nacional que lhe permita contratar os bons jogadores que possam surgir noutros clubes criando condições para que as possibilidades de uma integração bem sucedida possam ser maximizadas. Também com uma política de comunicação longe do populismo actual, centrada nos objectivos e evolução do próprio clube e não em terceiros e que não se confunda com o tradicional “trauliteirismo” provinciano característico do FCP ou um certo hermetismo do discurso político do SCP.
Aqui fica.
Apesar dos progressos verificados na gestão financeira e na recuperação de alguma credibilidade para o clube, na construção do novo estádio e do centro de estágio (mas atenção: o “core business” do SLB não é a construção e, portanto, estádio e centro de estágio são apenas ferramentas que se não estiverem integradas numa gestão desportiva consequente de pouco ou nada valem), bastaram poucas semanas para que a realidade me desse razão: entre Vítor Santos (“Bibi”), Vilarinho e desconheço quem mais, o Benfica, cuja equipa jogava então num 4X4X2 clássico sob o comando de Toni, com Meira e Calado no meio-campo, salvo erro Miguel e Karel Poborsky nas alas e João Tomás e Van Hooijdonk no ataque, viu-se obrigado a acolher Roger, que independentemente da sua valia como futebolista e do seu comportamento como profissional não “cabia” neste sistema. Este foi apenas o primeiro dos muitos erros de uma gestão desportiva catastrófica, de navegação á vista, onde se confirmaram a total ausência de uma ideia e de uma estratégia para o clube nesta área.
Vem tudo isto a propósito de uma “grande coligação”, que parece estar a formar-se e denominada “Benfica, Vencer, Vencer”, que pretende agora agregar, um pouco como a “unidade de todos os portugueses honrados” para derrubar a ditadura do “Rumo á Vitória” do PCP dos anos 60, todos os benfiquistas descontentes com a actual gestão LFV. O objectivo é certamente louvável e acompanho-o, enquanto benfiquista descontente, com o maior interesse e renovada esperança. Para ser coerente devo, no entanto e uma vez mais, salientar que o que já li me parece manifestamente insuficiente: é preciso uma ideia para o clube (o que quer o Benfica ser?), objectivos realistas e uma estratégia consequente para os atingir. Sem essa definição de princípios, de onde devem derivar todas as outras políticas, mormente a desportiva onde a definição de uma estratégia consequente de recursos humanos é chave, parece-me existir o risco de tudo ser, de novo, abandonado à casualidade e às emoções, aos arrivismos de momento. Por isso mesmo, para que os erros e as suas péssimas consequências se não repitam, espero bem que tudo isto seja tido em conta e incorporado num programa e em propostas credíveis, servido por pessoas competentes e com a necessária visibilidade mediática.
E como não gosto de ser acusado de nada de concreto propor, aqui ficam alguma ideias mais ou menos mal alinhavadas:
Que quer o Benfica ser? Um clube nacional e cosmopolita, apoiado nas conquistas e notoriedade internacionais, que assim marque a diferença face a um FCP demasiado regionalista. Um clube popular, mas não populista, distinguindo-se deste modo de um certo elitismo que marca a identidade do SCP.
Que objectivos deve ter? Dominar o futebol português num prazo realista de 3 a 5 anos, apontando para ser campeão nacional pelo menos 5 a 6 vezes por década e a estar presente, salvo acontecimento conjuntural, em todas as edições da Champions League. A credibilidade destes objectivos é apoiada no facto de ser o clube português com maior mercado, nacional e internacionalmente (emigrantes e povos das ex-colónias), mas também no facto das condições do futebol português parecerem não permitir eles sejam alcançados, ao contrário do que se desejaria, no imediato.
Como pode alcançar o SLB estes objectivos? Com uma política de estabilidade na sua gestão desportiva (director desportivo, treinador) que lhe permita crescer sustentadamente, mantendo, dentro do limites do razoável e do que lhe é possível pagar, os seus principais jogadores e referências, integrando progressivamente alguns valores da formação e estabelecendo uma política de alianças no mercado nacional que lhe permita contratar os bons jogadores que possam surgir noutros clubes criando condições para que as possibilidades de uma integração bem sucedida possam ser maximizadas. Também com uma política de comunicação longe do populismo actual, centrada nos objectivos e evolução do próprio clube e não em terceiros e que não se confunda com o tradicional “trauliteirismo” provinciano característico do FCP ou um certo hermetismo do discurso político do SCP.
Aqui fica.
5 comentários:
e eu, sócio em desgraçado sofrimento há tanto tempo, subscrevo. e acrescento: com uma política de implantação popular baseada numa gestão realista das modalidades, mesmo restringindo o leque das apostas a duas ou três de alta competição e maior visibilidade, que contribuam para o prestígio e a proximidade do clube.
carlos
Caro Carlos:
Embora não seja um habitual seguidor das modalidades do n/ clube (lembro-me apenas de ir ver um jogo de "basket" contra o Panathinaikos nos tempos da n/ equipa maravilha) tendo a concordar consigo, embora o meu "foco" vá indiscutivelmente para o futebol. Mas, como afirmei, o que v. diz faz todo o sentido.
Saudações benfiquistas
Com 41 anos de vida e outros tantos de associado, concordo com o que diz, mas sublinho a necessidade urgente do Clube recuperar algo mais que hegemonia no futebol: a classe! Luís Filipe Vieira foi importante do ponto de vista da recuperação financeira e estrutural, mas, bem vistas as coisas, o seu discurso, a maneira de estar, a sua indisfarçável arrogância não prestigiam o Benfica. Pior ainda, quando vem chamar "oportunistas" a homens que já serviam o Benfica, quando ele era ainda um "convidado amigo" na velha tribuna do Estádio das Antas!
Por isso, acredito que o dr. Varandas Fernandes pode encabeçar um movimento de alguém que devolva ao Benfica a imagem de respeito contra a versão "camionista" do actual presidente!
Porque o Benfica á o maior clube de Portugal, apesar dos resultados dos últimos anos. É o único cujo nome é cantado pelos adeptos dos rivais, mesmo quando não está em campo (vide última final da Taça)!
Viva o eterno e GLORIOSO Sport Lisboa e Benfica
As duas coisas são inseparáveis: a hegemonia no futebol e a classe.
Viva o Benfica!
Apenas uma palavra : Parabéns !
Rui M Santos
Sócio 5.964
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