- O PS partilha com o PSD e com o CDS a mesma concepção de Estado: o Estado de Direito Democrático, burguês e liberal, baseado no primado do mercado. Para além disso, PS, PSD e CDS, em função do que acima afirmei, são aquilo a que poderemos chamar partidos com vocação de poder dentro da actual arquitectura institucional, não admirando, pois, que pelos motivos citados votem lado a lado em tudo o que tem que ver com esta mesma concepção fundamental que partilham. Inútil afirmar que tanto o PCP como o “Bloco” não partilham dessa mesma concepção de estado e dos valores em que ela se baseia, por isso mesmo posicionando-se muito mais como partidos de contestação, anti-sistema, do que como partidos com vocação de poder, o que naturalmente terá de se reflectir nas votações da Assembleia da República.
- Para além disso, não é possível, neste campo de encontrar diferenciações ou semelhanças, restringir-nos a uma análise puramente quantitativa, remetendo-nos o racional de André Freire para aquele outro, igualmente erróneo, que avalia a rentabilidade dos patrocínios das marcas comparando o investimento efectuado com o espaço que em função disso lhe é concedido nos “media”, valorizado como de publicidade se tratasse. Para além de, no segundo caso, estarem em causa outras questões técnicas que não vêm agora ao caso, André Freire não entra em linha de conta com questões qualitativas e que se poderão resumir ao seguinte: que importância efectiva tem cada projecto, objecto de votação, na diferenciação entre modelos de sociedade e civilizacionais alternativos dentro do quadro político e institucional referido no ponto um? Penso que é a partir daí, de uma análise qualitativa e valorizando cada projecto em função do modelo de sociedade para que aponta, que a diferença ou semelhança entre os dois partidos deverá ser estabelecida.
Chegaríamos então a conclusões muito diferentes? Talvez não tanto assim, quando estivessem em causa modelos macro-económicos de desenvolvimento, até aqui muito semelhantes. Já no que diz respeito a concepções de sociedade, parece evidente a diferença entre o conservadorismo tendencialmente ultra-liberal do PSD e a concepção mais claramente social democrata e progressiva, de uma sociedade mais aberta, do PS. Questões em que os dois partidos assumem visões antagónicas, tais como o investimento público, a fiscalidade, o financiamento da segurança social, o sistema de saúde, o papel que deve caber ao ensino público, a IVG, o casamento homossexual, no seu conjunto essenciais, hoje em dia e 20 anos após a queda do “muro”, para o entendimento das diferentes concepções de sociedade, aí estão para o provar.
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