Nada que me espante, o facto do governo ser favorecido e a oposição (ou alguma oposição: aquela que corresponde, ou deveria corresponder, a uma alternativa ao governo) prejudicada nos tempos de exposição mediática nos orgãos de comunicação detidos pelo Estado: sempre assim foi e sempre assim será, existindo estes e, como consequência, a tentação (que é grande e à qual, segundo Oscar Wilde se deverá sempre ceder) de agradarem ao respectivo accionista.
Também, claro, nada que me espante, uma vez mais, já que é, em princípio, muito mais fácil ao governo criar acontecimentos de interesse mediático (nem que seja o “corropio” de inaugurações e visitas oficiais ou, até, as asneiras e tiros no pé de alguns ministros e outros responsáveis dos orgãos de Estado) do que à respectiva oposição, pelo menos àquela que se convencionou denominar de mais “responsável”.
Já o que me espanta, ou melhor, não me espanta mas apenas me entristece, é a profunda mediocridade que envolve toda esta discussão, já que tudo se resume a uma mera questão quantitativa, ao minuto ou ao centímetro, da qual, por definição, todos os aspectos qualitativos estão ausentes. Será que o partido A, ou B, ou C, gostaria de ter maior tempo de exposição se esta fosse num enquadrada num contexto desfavorável que gerasse uma opinião negativa junto dos cidadãos? Será que a notoriedade é, por si só, um valor? Não será que são os ministros com maior exposição mediática, por gerirem pastas mais controversas e políticas vistas como mais impopulares, que apresentam uma imagem mais negativa, junto da opinião pública, nas diversas sondagens? Colocando uma questão concreta: a enorme exposição mediática do ministro Correia de Campos ajudou ou não à impopularidade que o conduziu à demissão? Uma outra pergunta: uma maior exposição mediática de Luís Filipe Menezes será, neste momento, favorável à afirmação do PSD enquanto oposição? Não serão mais eficazes para o desgaste do actual governo e do PS as afirmações de Jaime Gama ou as manifestações dos professores do que as “arengas” de Louçã, a defesa de Pequim por Jerónimo de Sousa, ou as “trapalhadas” do CDS no tempo em que Portas era ministro?
Uma pergunta final: “não será já tempo de todos sermos um pouco mais sérios”?
Eu sou o Gato Maltês, um toque de Espanha e algo de francês. Nascido em Portugal e adoptado inglês.
terça-feira, abril 01, 2008
A televisão ao minuto e os jornais ao centímetro
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