quinta-feira, abril 03, 2008

O Estado demitiu-se da política?

Tem-se assistido nos últimos tempos a uma tentativa repetida de explicar decisões do governo ou es orgãos do Estado através de argumentos não políticos, quer eles sejam de natureza técnica, de custos ou outros. Nada demasiado estranho, já que o afastamento dos cidadãos da política, o seu “nojo” da política, torna estas opções bem mais “vendáveis” e, logo assim, julga-se, bem mais capazes de seduzir o cidadão.

Depois das questões técnicas e de custos invocadas para a localização do novo aeroporto de Lisboa (a questão do tipo de estrutura aeroportuária, que deveria estar no centro do debate, seria bem mais difícil de explicar apenas recorrendo a este tipo de argumentos) sem sequer levar em conta algo tão primitivo, em Economia, como o chamado efeito multiplicador, depois de igual tipo de racional ser agora apresentado como justificação maior para a construção da nova travessia do Tejo, ao ponto de um estudo técnico ser aprovado pelo conselho de ministros onde terá chegado “sem passar pela casa da partida e sem receber os dois contos”, chegou a vez de algo situado no campo mais estrito do político, a data das eleições, ou melhor, a coincidência temporal de legislativas e autárquicas, ser apresentado pela CNE dando especial ênfase a um racional exclusivamente integrado numa óptica de custos (é mais barato “não sei quantos milhões” fazer coincidi-las na data).

Das razões desta histeria já muito foi dito e, também por aqui, acima referido. O problema é que o Estado democrático, ao embarcar nesta onda e, mais ainda, ao funcionar como seu elemento catalizador, está e negar e demitir-se das suas próprias funções – fazer política em nome dos cidadãos que elegem os seus orgãos – abrindo ainda mais caminho ao afastamento dos cidadãos da “coisa pública” e, logo, ao carácter supletivo que assume e consequente desnecessidade da sua própria existência

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