Ouvi, no noticiário das nove da manhã, que o tema do "Forum" TSF de hoje seria qualquer coisa como “o papel de Portugal no mundo”. Não me parece grave: é doença que aparece de vez em quando (principalmente, quando de viagens oficiais a países “exóticos” ou reuniões magnas desse organismo incontornável que dá pelo nome de CPLP) e se cura normalmente em poucos dias ou horas, bastando que apareça qualquer outro tema mais importante ou de maior utilidade mediática (o que nem sempre são sinónimos). Mas a doença nunca desaparece, fica sempre latente para dar lugar, nessas alturas propícias, a essas , felizmente curtas, crises agudas, muitas vezes abrilhantadas por filósofos vários que nos vêm falar sobre a “vocação universalista dos portugueses”, empresários desiludidos pela competitividade a que a União Europeia os obriga ou o povo saudoso do império. Mas enfim, não tive oportunidade de ouvir o dito “Forum” para além do seu início, seja, de uma arenga de António José Teixeira (cada vez mais o comentador oficial do regime) sobre tão magno e filosófico assunto. No entanto, e à minha exclusiva conta e responsabilidade, gostaria de sublinhar o seguinte:
- Não me consta que países europeus extremamente bem sucedidos, ou em vias de o serem, alguma vez se tenham preocupado demasiado com assunto semelhante, desde a Islândia à Dinamarca, passando pela Noruega e pelos Estados Bálticos.
- Portugal não tem nenhuma “vocação universalista permanente”, ou outra qualquer que o distinga de outros povos. Limitou-se, no século XIV e nas condições históricas e sociais existentes, a aproveitar a sua “oportunidade de negócio” (as rotas de comércio marítimo), “entalado”, como estava, entre a Espanha - potência continental -, a “aliada” Inglaterra - potência marítima - e o Atlântico. E isto não se fez sem dúvidas, lutas internas entre “classes sociais” e falhanços, como o demonstra a tentativa “ocupação” no norte de África. É exactamente isto que tem de fazer agora.
- Uns milhões de portugueses ou seus descendentes são emigrantes em alguns dos países mais desenvolvidos do mundo, quer na Europa quer na América. Porque será que nestas alturas ninguém fala desse “activo” e todos se voltam para a África, Brasil, Índia e por aí fora? Análise rigorosa das oportunidades, vontade de evoluir ou apenas saudades das benesses do Império?
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