"Covers"
Convém esclarecer os mais incautos que, na música popular, quando se usa o termo “cover” não se está propriamente a falar das capas dos discos, sejam eles aqueles singles com buraco ao meio, os EP’s um pouco mais sofisticados ou os LP’s, ou álbuns, dos quais algumas capas passaram para a posteridade como símbolos imortais da "pop art". Passando um pouco “por cima” das variadas origens que se atribuem à expressão, dá-se o nome de “cover” (ou “cover version”) a uma nova gravação de um original anterior, normalmente de um outro intérprete, sendo que muitos desses "covers" acabaram por se tornar bem mais conhecidos do que as gravações originais, definindo, eles mesmos, o padrão de interpretação. Um dos períodos em que isso aconteceu com mais frequência e sucesso foi esta época “de águas mornas”, entre o período de decadência do "rock & roll" original e o início da chamada “british invasion” (1958/1964), muito por via de adaptações “aceitáveis”, por parte de artistas brancos, de originais de música negra, mas também os próprios negros o fizeram na competição pelo emergente mercado branco dos baby boomers. Um bom exemplo do primeiro caso são as adaptações de Pat Boone ("Tutti Frutti", por exemplo), mas também quem se lembra que “The Twist”, popularizado e tornado smash hit pelo negro Chubby Checker, era um esquecido “B” side de Hank Ballard, muitas vezes “acusado” pelas suas “letras” sexualmente demasiado explícitas? Também no início da “british invasion” as "cover versions" se tornaram empreendimentos bem sucedidos, muito por via da recuperação por intérpretes ingleses de antigos originais americanos, por eles admirados. Alguns dos mais populares temas dos "Beatles" e "Rolling Stones" do início (para citar apenas estes) são "covers", e basta que nos lembremos, por exemplo, de “Twist And Shout” (Isley Brothers), “Rock And Roll Music” (Chuck Berry) ou, no caso dos Stones, de alguns originais de Otis Redding como “Pain In My Heart” ou “I’ve Been Loving You Too Long” e até mesmo de gente mais ligada aos "blues" como Willie Dixon (“I Just Want To Make Love To You”) ou Howling Wolf (“Little Red Rooster”). Muitos deles tornaram-se mesmo mais conhecidos do que os originais respectivos e, apenas como exemplo, quem sabe que o popular “When You Walk In The Room” (“The Searchers”) é um original da americana Jackie DeShannon e, do mesmo grupo, “Sweets For My Sweet” um "cover" de um tema dos Drifters?
Mas deixemos isto agora (será tratado em devido tempo) e vamos às "cover versions" que se tornaram mais populares em Portugal interpretadas e adaptadas para português (de Portugal ou do Brasil) ou para outra língua mais ao gosto, e conhecimento, da população indígena. Já vimos, em post anterior, a popularidade alcançada pelas versões em português, interpretadas pelos “Conchas”, de originais dos Everly Brothers ou o êxito alcançado por Celly Campelo com o “Estúpido Cúpido” - “Stupid Cupid” de Neil Sedaka. Convém também lembrar que muitos êxitos em Portugal foram alcançados por "covers" de intérpretes franceses de originais americanos, por via daquilo que se convencionou chamar de “movimento yé-yé”. Lá iremos um dia destes, mas também como exemplo “Derniers Baisers” e “En Écoutant La Pluie”, respectivamente de Dick Rivers et les Chats Sauvages e Sylvie Vartan, são, ou foram, certamente bem mais conhecidos do que “Sealed With a Kiss” (Brian Hyland) ou “Rhythm Of The Rain” (The Cascades). Muito disto acontecerá por razões de mercado, já que a América era longe e as importações difíceis e caras e o inglês uma língua desconhecida ou insuficientemente dominada pela maioria, ainda sob a forte influência de uma cultura maioritariamente francófona.
Mas se existe um "cover" que se pode apontar como exemplo de ter “apagado” completamente o original nos países de língua portuguesa, ou mais ou menos, ele é seguramente o deste “Road Hog” (1962) de John D. Loudermilk, cujos maiores êxitos terão sido “Tobacco Road”, interpretado pelos “Nashville Teens”, e “Sittin' In The Balcony” de Eddie Cohcran. Eu próprio desconhecia que existia um original, nesses anos já longínquos da era “pré internet”, e descobri-o mais ou menos por acaso quando procurava o original dos “Óculos de Sol”, um "cover" de Natércia Barreto - que é a quintissência do kitsch - do mesmo Loudermilk (“Sun Glasses”). Depois, descobri o CD na “Feira da Ladra”, absolutamente por acaso, numa incursão uma manhã bem cedo de sábado já que isto da música exige sacrifícios a que o comum dos mortais não se sujeita. O êxito do "cover" foi tal que lançou e se tornou a marca identificativa do seu intérprete e até, na altura, deu nome a “boite” de Lisboa, estávamos em plena década de sessenta. Pois, meus caros, aqui está o original de um dos maiores sucessos em Portugal e no Brasil: “Road Hog” interpretado por John D. Loudermilk. Ah, como se chama o "cover" e o seu intérprete? Quase gostava de deixar o assunto à vossa perspicácia e “ouvido”, mas parece que é um tal de Roberto Carlos e o "cover" se chama (vou dizer à brasileira) de “Calhambeque”. Pois aqui está o verdadeiro e legítimo “calhambeque”, o “Road Hog” de John D. Loudermilk! Oiçam e contem aos amigos!
Mas deixemos isto agora (será tratado em devido tempo) e vamos às "cover versions" que se tornaram mais populares em Portugal interpretadas e adaptadas para português (de Portugal ou do Brasil) ou para outra língua mais ao gosto, e conhecimento, da população indígena. Já vimos, em post anterior, a popularidade alcançada pelas versões em português, interpretadas pelos “Conchas”, de originais dos Everly Brothers ou o êxito alcançado por Celly Campelo com o “Estúpido Cúpido” - “Stupid Cupid” de Neil Sedaka. Convém também lembrar que muitos êxitos em Portugal foram alcançados por "covers" de intérpretes franceses de originais americanos, por via daquilo que se convencionou chamar de “movimento yé-yé”. Lá iremos um dia destes, mas também como exemplo “Derniers Baisers” e “En Écoutant La Pluie”, respectivamente de Dick Rivers et les Chats Sauvages e Sylvie Vartan, são, ou foram, certamente bem mais conhecidos do que “Sealed With a Kiss” (Brian Hyland) ou “Rhythm Of The Rain” (The Cascades). Muito disto acontecerá por razões de mercado, já que a América era longe e as importações difíceis e caras e o inglês uma língua desconhecida ou insuficientemente dominada pela maioria, ainda sob a forte influência de uma cultura maioritariamente francófona.
Mas se existe um "cover" que se pode apontar como exemplo de ter “apagado” completamente o original nos países de língua portuguesa, ou mais ou menos, ele é seguramente o deste “Road Hog” (1962) de John D. Loudermilk, cujos maiores êxitos terão sido “Tobacco Road”, interpretado pelos “Nashville Teens”, e “Sittin' In The Balcony” de Eddie Cohcran. Eu próprio desconhecia que existia um original, nesses anos já longínquos da era “pré internet”, e descobri-o mais ou menos por acaso quando procurava o original dos “Óculos de Sol”, um "cover" de Natércia Barreto - que é a quintissência do kitsch - do mesmo Loudermilk (“Sun Glasses”). Depois, descobri o CD na “Feira da Ladra”, absolutamente por acaso, numa incursão uma manhã bem cedo de sábado já que isto da música exige sacrifícios a que o comum dos mortais não se sujeita. O êxito do "cover" foi tal que lançou e se tornou a marca identificativa do seu intérprete e até, na altura, deu nome a “boite” de Lisboa, estávamos em plena década de sessenta. Pois, meus caros, aqui está o original de um dos maiores sucessos em Portugal e no Brasil: “Road Hog” interpretado por John D. Loudermilk. Ah, como se chama o "cover" e o seu intérprete? Quase gostava de deixar o assunto à vossa perspicácia e “ouvido”, mas parece que é um tal de Roberto Carlos e o "cover" se chama (vou dizer à brasileira) de “Calhambeque”. Pois aqui está o verdadeiro e legítimo “calhambeque”, o “Road Hog” de John D. Loudermilk! Oiçam e contem aos amigos!
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