Há alturas em que a vida não se pode levar muito a sério. Portugal, por seu turno, raramente se deixa assim levar – e não merece que o façam. Portanto, dentro deste espírito da saison que por aí espreita aqui vão duas pequenas sugestões para melhoras a nossa vida e a da pátria que alguns dos meus antepassados escolheram.
- Que tal tornar Sintra um principado independente? Claro que tinham de se redefinir as fronteiras, restringindo-as às zonas nobres e tirando de lá as “amadoras” que se foram criando, mas a ideia parece-me ter pés para andar. Punha-se o Senhor Dom Duarte no trono, havia o palácio de verão (o da vila) e o de inverno (o da Pena), já tem um festival de música, ressuscitava-se a “Rampa de Pena” e o Rally – mais o Grande Prémio ali ao lado no Estoril – pedia-se mais um casino ao Sr. Stanley Ho, emitiam-se uns selos com ilustrações de camélias (a flor oficial), dava-se ao Dr. Seara um clube de futebol para gerir (sem adeptos mas com dinheiro, como o do Mónaco) e fundar-se-ia uma empresa, imitando as municipais, do tipo "Societé des Bains de Mer" encarregue da gestão da coisa. Por fim, conceder-se-iam royal warrants a alguns produtos da região como as queijadas “Sapa”, o desaparecido vinho de Colares ou as “bolas de berlim” do “lá vou eu” da Praia Grande. Ah, e talvez se pudesse fazer “conde” aquele senhor Câmara Pereira, como reconhecimento de ter dado uma boa ajuda para nos vermos livres da Drª Edite. Ponto fraco do projecto: falta-nos a Grace, a Srª Dona Isabel que me desculpe e sem qualquer tipo de menosprezo, evidentemente. Mas talvez se conseguisse combinar um casamento a condizer para um dos Infantes... Que tal?
- E já que estamos no “que tal?”, que tal uma rede de restaurantes portugueses para combater as hamburger houses, pizzerias, croissanterias e quejandas? Ou também os bares de “tapas” não me vão agora acusar de iberismo, pois claro. Em regime de franchise, está bem de ver, com o estado como master franchise, nem vejo hipótese de ser de outra maneira. O layout e imagem seriam simples, assim decalcados daqueles restaurantes a que os portugueses chamam de regionais, com um balcão com beiral, chão de tijoleira, résteas de alhos e “chouriças” penduradas, azulejos com “dizeres” apropriados do tipo “cá em casa só se fia a maiores de 99 anos acompanhados pelos respectivos pais” (versão “saloia” do “in god we trust all the others pay cash”), toalhas e guardanapos de papel (obrigatório), canjeirões de vinho oxidado e o resto deixo à vossa imaginação, desde que as casa de banho estivessem sempre por limpar. E o que se serviria? Está bem de ver: umas "malgas" de sopa de feijão encarnado com couve portuguesa e massa “manga de capote”, sanduíches de torresmos, couratos com a “barba mal feita”, “miaus” com a maior percentagem possível de gordura e entrecosto com feijão. Quem não quisesse vinho poderia beber uma “mine” e como sobremesa o “molotof” que não é português mas é como se fosse: é como no tempo dos meus pais e avós se dizia dos indígenas das colónias que escreviam e falavam português: assimilado. Único digestivo autorizado: bagaço. E não haveria música de fundo nem "juke box", sendo o ruído proporcionado pelo barulho do lavar dos pratos, pela televisão ligada, bebés a chorar e animados jogos de matraquilhos. É começar. É começar. "Oh, simpáticos, vai um tirinho"?!
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