A propósito desta notícia, confesso a minha perplexidade pela desorientação ziguezagueante de que os governantes portugueses dão prova, e, assim, transmitem para à opinião pública, sobre o modelo de desenvolvimento julgado adequado para o país. É que “ele” foi a Irlanda (mais ao gosto da direita, pois teve na sua base uma certa desregulamentação do mercado de trabalho e diminuição dos impostos para as empresas) “ele” foi a Finlândia (e aqui a esquerda rejubilou pois possibilitava a manutenção de altos níveis de protecção social) e agora parece que a Índia já “entrou na dança” e o que mais adiante se verá. Talvez Tonga e Samoa. Espanta-me ? Não, porque a falta ou déficit de pensamento e acção estratégicas é algo inerente à condição dos portugueses, talvez porque temos pouco de empreendedores e gestores e mais de Oliveiras da Figueira, comerciando pela "oportunidade de negócio” onde quer que se proporcionem lucros de curto prazo. Compra aqui, vende ali, é a “vidinha”. Pelo meio ganha-se algum. É a “rota da Índia”, pois claro, não a desta, a actual, mas a da pimenta e do gengibre. Mas terá sido sempre assim? Sinceramente, acho que não. No século XV, depois das hesitações entre o “celeiro” do norte de África e a rota da Índia – reflexo da luta entre a burguesia ascendente, do negócio, e a aristocracia da “terra” – a estratégia foi clara e sem hesitações, só interrompida pela loucura sebastiânica, assim como um governo Santana Lopes avant la lettre. Esgotado o assunto, com a união das coroas ibéricas sob a égide dos Habsburgos, também me parece que a estratégia “para o Brasil rapidamente e em força” foi inquestionável e inquestionada (ou quase). Bom, fiquemo-nos por aqui, no que diz respeito a comparações, até porque os meus conhecimentos de História de Portugal são pouco mais dos que os de um amador interessado. E, no entanto, não parece muito difícil: basta analisar a situação presente, as suas forças e fraquezas, oportunidades e ameaças (aquilo que se designa por análise SWOT), e definir, nessa base, uma estratégia. Nada de estranho, portanto, que as empresas organizadas não façam. E definir planos de acção em conformidade. Ah, mas há a política! Pois é, mas, ao seu nível, nas empresas também. Recomendação: seria bem mais interessante que, no futuro, algum país, talvez como a Moldávia ou a Geórgia, se debruçasse sobre o modelo de desenvolvimento que tinha conduzido Portugal ao sucesso. Que tal?
Sem comentários:
Enviar um comentário